quinta-feira, 3 de março de 2016

"Espiritismo" brasileiro trata a lógica como se fosse um atributo terreno e material

ANIMAIS NO MUNDO ESPIRITUAL - TESE NEGADA POR ALLAN KARDEC, MAS DEFENDIDA POR "ESPÍRITAS" BRASILEIROS.

O "espiritismo" brasileiro é marcado por contradições doutrinárias aqui e ali. Se observarmos bem as práticas e ideias transmitidas, faremos um levantamento surpreendente de como a religião brasileira contraria, em muitíssimos aspectos, o pensamento de Allan Kardec.

É insuficiente que os "espíritas" declarem "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" ao pensador francês pois, se cometem tantos descaminhos doutrinários, constata-se, sem um pingo de raiva nem de intolerância, que o "espiritismo" brasileiro se define como uma traição severa ao pensamento de Allan Kardec.

A persistência da corrente dúbia do "movimento espírita", que se acha com a "consciência tranquila" de que suas ideias igrejistas e moralistas prevalecerão, acima da lógica e do bom senso, acima de todos os questionamentos. O "movimento espírita", evidentemente, não gosta de ser contrariado e julga que seus pontos de vista estão acima até mesmo dos conhecimentos trazidos por Kardec.

E qual é a desculpa que os "espíritas" fazem ao afirmarem que seus pontos de vista estão acima de tudo e de todos, acima da lógica e do bom senso? Eles estabelecem uma retórica sutil em que tenta "argumentar" a prevalência de seu igrejismo pseudocientífico.

Em primeiro lugar, eles atribuem o conhecimento lógico como um atributo terreno e material. Alegam que as percepções da lógica e da coerência correspondem tão somente a impressões materialistas, o que faz os "espíritas" suporem que se tratam apenas de qualidades transitórias.

A ideia é de que o conhecimento lógico, trazido pelo trabalho científico, só tem validade na vida terrena, o que faz com que as ideias surreais defendidas pelo "espiritismo" brasileiro sejam dadas como verídicas, como as que promovem a pretensa "superioridade espiritual" de Francisco Cândido Xavier.

A ideia de que a lógica é apenas um atributo material, não uma relação de sentido entre fenômenos tanto materiais quanto espirituais, mas que possui um sentido metafísico, é uma desculpa que os "espíritas" fazem para que suas mistificações e moralismos sejam aceitos sem críticas.

Daí seu discurso contraditório: em tese, defendendo a lógica e a busca do Conhecimento, mas na prática pregando a tal "fé raciocinada", que nada tem a ver com raciocínio e mais parece ser um "convite" para a preparação mental para a aceitação de teses absurdas.

DIFERENÇAS ENTRE DESCONHECIDO E SURREAL

O que os "espíritas" querem, ao tentar minimizar a importância do questionamento lógico e do conhecimento científico, atribuindo a lógica como uma qualidade meramente terrena. Alegam que, como o Conhecimento é uma área cercada de muito mistério, muitas coisas escapam à razão humana.

Aí surge uma grande confusão, e, portanto, um sério equívoco. Pois se o Conhecimento é uma área que ainda guarda pontos bastante misteriosos, isso não significa que aceitemos teses absurdas e ilógicas porque um dia elas "passarão a fazer sentido".

Se a humanidade ainda não tem em mãos os segredos mais profundos sobre várias questões no âmbito do Conhecimento, isso não quer dizer que passemos a aceitar fantasias, especulações e mentiras que se comprovaram fora de lógica e sem o menor grau de coerência, na esperança de que isso "vai mudar".

Chico Xavier foi um grande deturpador da Doutrina Espírita e a verdade é que ele, bem mais do que Jean Baptiste Roustaing, personificou o "inimigo interno" da doutrina de Kardec alertado com aviso enérgico pelo espírito de Erasto.

Isso porque, se Roustaing quis destruir a Doutrina Espírita, o "médium" mineiro foi adiante, com a típica hipocrisia garantida por hábitos negativos como o "jeitinho brasileiro", a "memória curta" e a impunidade. Esquece-se que Chico Xavier cometeu fraudes literárias e "mediúnicas", inseriu valores morais retrógrados, era reacionário e as pessoas foram aceitá-lo bovinamente como seu "mestre".

Através das deturpações violentas de Chico Xavier - diga-se "violentas" porque o que ele fez de deturpação é estarrecedor - , consagraram-se pontos de vista e abordagens surreais, se aproveitando da boa-fé das pessoas e das omissões e irregularidades do nosso país.

Até a Justiça, que poderia ter desmascarado Chico Xavier no caso Humberto de Campos, já que era clara a fraude em "psicografias" que não refletiam o estilo pessoal do falecido escritor, preferiu absolvê-lo, no costumeiro jogo de aparências que faz a justiça dos homens garantir impunidade a pessoas que pareçam "simpáticas", mesmo cometendo charlatanismo, estelionato, corrupção e até homicídio.

Isso é terrível, pois o mito monstruoso de Chico Xavier se agigantou de forma descontrolada, garantida pela impunidade, pela ignorância e pelo deslumbramento religioso, e com ele pontos de vista completamente absurdos trazidos sob o rótulo de "doutrina espírita", mas que são firmemente refutados por Allan Kardec.

Há mesmo correntes no "movimento espírita" que tentam afirmar que Allan Kardec estava "ultrapassado" e, por isso, as deturpações trazidas pela Federação "Espírita" Brasileira e popularizadas por Chico Xavier seriam abordagens mais "modernas".

Essa tese é constrangedora. Como se pode dizer que a tese chiquista é "moderna", se há até indícios de racismo (negros e índios definidos como "selvagens"), anti-semitismo (corrobora a visão católica de acusar os judeus, e não o Império Romano, pela morte de Jesus) e machismo (Emmanuel, de forma jocosa, dizia que o "melhor feminismo" devia ser feito no lar e na prece)?

O bom senso mostra que a coerência não tem a ver com o novo e o velho. A lógica pode muitas vezes vir de teses muito antigas, como a filosofia do pensador grego Platão, ou de novas pesquisas científicas como as que confirmaram teses de Albert Einstein. O que se está em jogo não é se a ideia veio primeiro ou por último, mas as relações de coerência de sentido da mesma.

LÓGICA NÃO TEM A VER COM MATÉRIA

Não é a lógica que está submetida à matéria. São os aspectos materiais e não-materiais que se subordinam à lógica através do processo da natureza. Na vida espiritual, em que há mais mistério do que certezas, as análises de Allan Kardec buscaram uma compreensão cautelosa, procurando não se arriscar a fazer suposições nem especulações.

O "espiritismo" brasileiro é que faz suposições e especulações. Supõe, por exemplo, que animais domésticos vão para "planos espirituais mais evoluídos", enquanto vermes e monstros "vivem no umbral". uma tese delirante de "animais no mundo espiritual" que Chico Xavier defendia com muito entusiasmo, mas que Allan Kardec rejeitava com segurança e firmeza nos argumentos.

Dizer que Allan Kardec está ultrapassado não faz sentido, porque o pedagogo francês sempre procurou ter cautela nas análises sobre o mundo espiritual e trouxe abordagens bastante realistas, muitas delas válidas até hoje. Já Chico Xavier lançou ideias fantasiosas que, pelo seu tendencioso carisma de ídolo religioso, foram tidas como "verídicas" pelos seus incautos seguidores.

Chama a atenção o fato do "movimento espírita" enfatizar o verbo "acreditar" em detrimento do "saber" e isso desmascara todas as alegações, hipócritas e demagógicas, de que a doutrina popularizada por Chico Xavier valoriza a busca do Conhecimento.

Nós analisamos a prática "espírita" e suas ideias e constatamos, depois de muita observação, que isso não procede. O "espiritismo" é uma religião obscurantista, que em termos de transmissão de valores é tão nociva e retrógrada quanto a "bancada da Bíblia" no Congresso Nacional, conhecida por sua agenda retrógrada e religiosamente fanática.

Dai que não faz sentido os "espíritas" atribuírem a lógica como uma qualidade terrena, na esperança de que suas teses absurdas e ilógicas sejam "reconhecidas" futuramente. A verdadeira lógica não é aquela que é material, mas que, no âmbito material ou não, busca coerência de sentido. Algo, portanto, que está acima da vida terrena e das percepções materiais.

Concluímos que o "espiritismo", acreditando na lógica como uma qualidade terrena, está completamente equivocado, por ser apenas um artifício para buscar legitimidade para suas teses absurdas, como se o surreal fosse sinônimo do desconhecido. E a doutrina brasileira trai completamente o âmbito do Conhecimento quando pede para nós, antes de sabermos, devamos "acreditar". A ênfase da fé desmascara o "espiritismo" brasileiro de vez.

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