quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
Neopentecostal, Igreja Universal usa filme para avançar em competição religiosa
A competição religiosa para ver quem derruba a supremacia da Igreja Católica, disputada pelas seitas neopentecostais e pelo "movimento espírita", tem mais um episódio de destaque, movido pela Igreja Universal do Reino de Deus.
Exercendo uma campanha de "evangelização", donativos e distribuição de livros como Nada a Perder 3, terceiro volume da biografia de Edir Macedo, e Morri para Viver, da ex-competidora do Miss Bumbum e sobrevivente dos danos causados pelo hidrogel, Andressa Urach, a IURD procura influenciar uma comunidade indígena, a dos Kiriris, na cidade baiana de Ribeira do Pombal.
A "missão" da IURD, que se sabe ser dona da Rede Record, define a tribo indígena dos Kiriris como vivendo de "extrema pobreza", dentro de uma visão etnocêntrica que não enxerga os problemas da tribo de acordo com a natureza sócio-cultural dos próprios indígenas.
Os índios foram "batizados" e "catequizados" e ainda receberam ingressos para ver o filme Os Dez Mandamentos, produção cinematográfica da Rede Record baseada na novela (que, como ocorre com as novelas da Rede Globo, agora é exibida com imagem de cinema) e cujo sucesso televisivo faz a Globo se preocupar com o fracasso do Big Brother Brasil e tentar exibir filmes bíblicos a seu modo.
A competição para ver quem é que arruma mais fiéis do que a Igreja Católica - ou, de preferência, possa tirar desta religião seus adeptos - é mais modesta no "movimento espírita" que, em crise, quando suas contradições são expostas na Internet, tenta agora levar vantagem como uma espécie de "consultório moral".
Desta forma, textos são difundidos para pregar a "tolerância" e a "bondade", sem que vá além dos limites ideológicos da Teologia do Sofrimento, já que a máxima dos "espíritas", para quem sofre pesadas dificuldades, é simplesmente a de aceitar o sofrimento e "confiar em Deus".
Textos e eventos sobre suicídio, dentro da abordagem que apela mais para alertar as consequências do que para avaliar as causas - afinal, ninguém se suicida porque gosta - , também são difundidas, além de apelos que enfocam a "aceitação", a "conformação" e a "fé".
O Brasil é oficialmente um país católico, mas há também, além de inúmeros movimentos religiosos, uma crescente população de ateus e agnósticos. E isso preocupa ainda mais as religiões, sobretudo as neopentecostais e o "movimento espírita", que além do mais têm suas irregularidades sendo denunciadas cada vez mais pela sociedade.
A Igreja Universal tem um lobby maior, por ser dona de uma rede de rádios e TVs a partir do controle da TV Record de São Paulo, uma das mais antigas emissoras de TV do Brasil (surgiu em 1953). O "movimento espírita" tenta "comer pelas beiradas", com espaços eventuais na TV aberta e na TV paga ou na tentativa de criar canais especializados.
No Rio de Janeiro, o "movimento espírita" tem a Rádio Rio de Janeiro e o jornal Correio Espírita como seus veículos. A Federação "Espírita" Brasileira comanda um lobby aparentemente modesto, com um mercado editorial que encabeça um cenário onde há também a ação de outras editoras "espíritas" independentes.
Apesar disso, o "movimento espírita" tem um lobby social maior do que o da IURD. De vez em quando, a Igreja Universal é alvo de denúncias de irregularidades e a ascensão do "bispo" Edir Macedo como empresário de mídia é fartamente discutida como um problema midiático.
Já o "espiritismo", mesmo na sua situação aparentemente modesta, passa incólume em qualquer investigação oficial, e até hoje Francisco Cândido Xavier, o baladado "médium" Chico Xavier, nunca foi oficialmente condenado, mesmo por um ato póstumo simbólico, pela apropriação indébita do prestígio de Humberto de Campos, que uma leitura atenta confirma não ser ele o autor espiritual das obras "mediúnicas" que trouxeram seu nome ou o pseudônimo "Irmão X".
Consta-se que, além do forte lobby que a FEB exerce nos meios jurídicos e acadêmicos, o que garante uma imunidade para tudo quanto é deturpação da Doutrina Espírita e outras irregularidades, há a proteção sutil das Organizações Globo, corporação midiática que chegou a ser hostil a Chico Xavier, mas nos últimos anos vive em solidariedade infinita a ele.
Entende-se que a corporação midiática, de formação católica, enxergue em Chico Xavier e outros ícones do "movimento espírita", como Divaldo Franco, propagandistas da fé católica sem apelarem para os ritos e o vestuário de padres e sacerdotes, já que o "espiritismo" brasileiro consiste, na prática, numa espécie de versão informal e flexível do Catolicismo.
Nesta competição religiosa, indagamos se o "movimento espírita" terá coragem de fazer uma adaptação cinematográfica de Há Dois Mil Anos, para fazer frente a Os Dez Mandamentos. Afinal, a obra "bíblica" ditada por Emmanuel é dotada de gravíssimas falhas históricas, comprovada por pesquisas sérias, o que poderia colocar o filme "espírita" em páginas como Falha Nossa antes mesmo de obter algum êxito nas bilheterias.
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