Só um país marcado pela mediocrização cultural e tomado pela supremacia da imbecilização para chamar ídolos religiosos confusos, como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, são "filósofos", e isso levando em conta que o Brasil não teve filósofos da envergadura dos que existiram no "velho mundo".
O deslumbramento de Chico Xavier é bastante ilustrativo desta situação, e observa-se entre seus seguidores, gente que não tem o hábito de ler bons livros e só fica "colecionando" frases soltas deixadas por personalidades famosas colhidas aqui e ali na Internet, que sua compreensão sobre o que é filosofia é das mais risíveis e constrangedoras possíveis.
Essas pessoas imaginam ser "filosofia" um amontoado de ideias "boazinhas" trazidas em trechos de entrevistas e livros, uma forma preguiçosa de obter "sabedoria" vinda de pessoas com preguiça e aversão ao raciocínio, embora sejam capazes de argumentar com desculpas habilidosas e politicamente corretas.
Um exemplo desta postura equivocada é quanto às frases de Chico Xavier, que alternam ideias apenas "corretas" com tolices e declarações moralistas retrógradas, cheias de recursos de contradição - "silêncio" com "voz", "fraqueza" com "força", "submissão" com "coragem", muitas vezes dentro do ideário da Teologia do Sofrimento.
Destacamos o sentido de duas frases trazidas por Chico Xavier a respeito da humildade. É bom deixar claro que a "sabedoria" de Chico Xavier é um arremedo que foi copiado do mito de Madre Teresa de Calcutá, alimentado pelo jornalista católico inglês Malcolm Muggeridge e fortalecido pelos barões da grande mídia do Primeiro Mundo, que as Organizações Globo adaptaram de forma habilidosa para relançar o mito do "médium" mineiro. Aqui vão elas:
"A humildade não está na pobreza, não está na indigência na penúria, na necessidade, na nudez e nem na fome. A humildade está na pessoa que tendo o direito de reclamar, julgar, reprovar e tomar qualquer atitude compreensível no brio pessoal, APENAS ABENÇOA". (grifo nosso)
A ideia não tem pé nem cabeça. É evidente que a humildade não pode ser relacionada com a pobreza e a fome. Na música brasileira, por exemplo, existem cantores de Bossa Nova que, nascidos em classes abastadas, têm uma simplicidade que os ídolos do "sertanejo" e "funk", associados às classes populares, não possuem.
No entanto, definir "humildade" como "ato de abençoar" soa ridículo, patético e estúpido. Sobretudo quando Chico Xavier afirma "docilmente" sua reprovação ao ato de questionar e reprovar certas coisas, porque o melhor é "abençoar", uma ideia que, no contexto deste depoimento, mostra diversos equívocos.
Primeiro, pelo fato de que Chico Xavier sempre apelava para as pessoas não julgarem. Mas em sua trajetória, o "médium" fez um dos mais perversos juízos de valor, dos mais cruéis e ofensivos, feitos contra cidadãos humildes: é de atribuir os inocentes fluminenses que foram assistir a um espetáculo circense em Niterói, no final de 1961, e morreram ou saíram feridos e queimados num incêndio criminoso, de terem sido romanos sanguinários no passado.
Segundo, pela ideia católica de que "abençoar" é um ato privativo dos chamados profissionais da religião, como padres, párocos, sacerdotes, bispos, freiras, sorores. Neste sentido, o ato de abençoar é uma espécie de semi-santificação para aqueles que não são santos, uma espécie de atestado de benefício humano dado pela religião católica, da qual Chico Xavier foi adepto até o fim da vida.
Mas "abençoar", pelo discurso ideológico de Chico Xavier, é uma combinação de sentimentos que envolvem tanto gratidão quanto submissão e conformismo. É uma espécie de masoquismo na atitude, um prazer pelo sofrimento e pela angústia, encarados como "presentes de Deus", conforme teria dito Madre Teresa de Calcutá, colega de Chico nas adorações à Teologia do Sofrimento.
Terceiro, porque a ideia de humildade não corresponde ao ato de dar bênçãos. Isso é, repetimos, ridículo, patético e estúpido. O verdadeiro sentido de humildade é reconhecer potenciais e limites, é a consciência da pessoa em saber seus lugares, suas capacidades, seus dons e debilidades.
E isso os seguidores de Chico Xavier não percebem. Eles mesmos não medem limites para defender Chico Xavier, havendo até desentendimentos diversos entre várias atribuições, como a do pretenso "profeta" que "previu a data-limite para a Terra", que divide os chiquistas.
Por outro lado, os chiquistas também não sabem o lugar certo de Chico Xavier, que é num lugar menor como paranormal católico. Ele nunca serviu o Espiritismo e nunca serviu para ele. Seus livros são aberrações que ofendem o legado de Allan Kardec. Mas até alguns kardecianos autênticos andam complacentes com Chico Xavier e há quem queira mantê-lo ocioso na galeria dos grandes espíritas autênticos.
Concluindo. Essa frase nada tem de sabedoria, e foi apenas mais uma em que Chico Xavier pregava o conformismo humano diante das dificuldades da vida, o que nos faz ver no "médium" brasileiro um outro "anjo do inferno", ou "anjo do umbral" que iludiu e enganou as pessoas com suas fraudes e seu conservadorismo ideológico travestido de "caridade".
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