domingo, 8 de novembro de 2015
Blogueira Lola Aronovich é outra vítima de ofensas na Internet
Depois de Taís Araújo denunciar as humilhações raciais sofridas no Facebook, é a vez da professora da Universidade Federal do Ceará, Lola Aronovich, responsável pelo blogue Escreva Lola Escreva, ser humilhada através de uma paródia de um blogue atribuído a ela, o Lola Escreva Lola.
A página teria sido feita por um internauta que costuma despejar campanhas de ódio nas mídias sociais e é famoso por suas posições machistas, Ele usava o nome de "Lola Arinovich" para atribuir a ela ideias que ela nunca defenderia, como rasgar a Bíblia, assassinato de meninos, entre outras aberrações.
O provável responsável seria um estudante universitário que havia manifesto visões racistas e machistas, tendo escrito até um "guia do estupro". Ele havia sido detido por outros crimes. A imprensa já divulgou reportagens sobre o rapaz, considerado um dos figurões de extrema-direita no Brasil.
Com a repercussão negativa, o blogue Lola Escreva Lola teve que ser apagado. Mas a Justiça já está com cópias dos textos e investiga o caso, que revela a onda de reacionarismo doentio que toma conta na Internet.
Já recebemos mensagens que até busólogos também tiveram blogues caluniosos armados por um desafeto que tinha um projeto social e não conseguiu se projetar politicamente. Bajulador do grupo político de Eduardo Paes e Sérgio Cabral Filho, o busólogo encrenqueiro, que chegou a aparecer em um programa da TV paga, era fanático defensor dos retrocessos do sistema de ônibus carioca vigentes desde 2010.
Os reacionários da Internet são uma espécie de cães de guarda ferozes do status quo. Defendem de arbitrariedades políticas a modismos de temporada, até mesmo valores do mais arcaico e nocivo preconceito social.
Eles agem geralmente em fóruns, portais das mídias sociais e páginas de recados em geral, mas também são capazes de produzir blogues caluniosos. Criam desordens para desmoralizar e arruinar quem não pensa conforme o "estabelecido", ou seja, um repertório de ideias e procedimentos relacionados aos vários tipos de poder dominante, seja no mercado, na mídia, na política e nas elites detentoras de privilégios sócio-econômicos.
Em primeiro momento, eles deixavam latente seu reacionarismo. Chegavam mesmo a fingir que admiravam Ernesto Che Guevara e odiavam o Imperialismo, fazendo falsos ataques a Veja e Rede Globo só para impressionar outros internautas e obter apoio diversificado para suas trolagens.
No entanto, nos últimos anos esse reacionarismo tornou-se ainda mais explícito, diante das pregações da mídia, do mercado e da política dominantes - mesmo o "progressista" PMDB carioca se insere neste contexto - e até comentários racistas são impunemente publicados, sem que seus responsáveis tenham consciência dos crimes que acabam cometendo.
Afinal, eles deixam marcas nos chamados protocolos de Internet - espécie de "RG" de um computador - e também atraem para si todo tipo de encrenca. O chamado troleiro (do inglês troll), em muitos casos, é marcado pelo resto da vida, por causa das marcas que deixa através de mensagens que acabam sendo copiadas por outrem.
O triunfo original e a ilusão da impunidade chegam mesmo a alimentar a arrogância acima dos limites desses internautas, mas em outros momentos eles acabam sendo tão visados que se tornam também incômodos até para aqueles que os apoiaram antes. Em muitos casos, as trolagens são motivadas pela ilusão do internauta em estar protegido pela sua casa, pelo anonimato e pela crença de que seus pontos de vista são "a verdade absoluta".
Numa trolagem, geralmente um ou dois encrenqueiros comandam o festival de calúnias publicadas em massa, que recebem a adesão de um número relativamente diversificado de pessoas que acham os mentores da truculência digital "pessoas divertidas" e vão na carona no que acreditam ser uma demonstração hilária de bom humor e irreverência.
Só que isso acaba mal, porque o ato de pessoas se juntarem para fazer uma trolagem corresponde legalmente a um dos tipos de formação de quadrilha. Até "inocentes" que vão na carona da trolagem por acharem o líder "o cara" acabam negativamente marcados, e não raro amigos ficam chocados com tais envolvimentos.
O reacionarismo brasileiro é um fenômeno preocupante. Ele cresce em torno da crise de valores em que vive o país. Pessoas como Jair Bolsonaro e Eduardo Cunha se ascenderam politicamente através desse cenário, e moralidade acaba sendo confundida com campanha pelo autoritarismo e pela eliminação de conquistas e movimentos sociais, além de promover a segregação e o extermínio.
Boa parte da mídia é responsável disso, vide o anti-petismo histérico de periódicos como Veja, O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. Mas mesmo jornais como o carioca O Dia e seu "filtro" - o periódico é um tanto complacente aos retrocessos do sistema de ônibus do RJ e apoia a degradação da música brasileira - , também influem para a lamentável situação.
Há poucos dias, um grupo de neo-nazistas (isso mesmo) foi livremente ao Aeroporto de Guararapes, em Recife, para receber Jair Bolsonaro no seu desembarque. O grupo mostrava faixas que aludiam à defesa da ditadura militar e incluiu não só os chamados "arianos" e "carecas", mas também os chamados "morenazis", pessoas de origem mestiça que acabam aderindo à causa.
A onda de obscurantismo ameaça o Brasil. E isso contraria as pretensas profecias de Chico Xavier, Divaldo Franco e companhia, que afirmavam que o país iria entrar num período de progressos em 2012. A realidade mostra o contrário que seus festivos otimismos imaginavam.
Os retrocessos sociais, avançando e ameaçando infiltrar-se nas instituições - como o Poder Legislativo tomado pelas bancadas do BBB (bala, boi e Bíblia) - podem levar o Brasil, que já não é um primor de prosperidade social, a decair cada vez mais, a níveis piores do que os do período colonial.
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