sábado, 24 de outubro de 2015
"Médium" João de Deus desmascara "curas espirituais"
Recentemente, o "médium de curas" João Teixeira de Faria, o "João de Deus", que atua num "centro espírita" em Abadiânia, no interior de Goiás, passou por uma cirurgia. Não foi uma cirurgia espiritual, mas pela "subestimada" medicina da Terra, tendo sido internado às pressas devido a problemas gastro-intestinais.
Ele tem 73 anos e afirma que faz checape na "medicina da Terra" todo ano. Embora aparentemente isso soe "prudente", e é muito comum os "centros espíritas" recomendarem às pessoas "não largarem os remédios e tratamentos médicos terrenos", isso cria um sério impasse e, praticamente, desmoraliza as cirurgias mediúnicas tão tidas como "elevadas".
As "curas espirituais" sempre revelaram um conflito entre a ciência da Terra e a misteriosa "ciência intuitiva dos espíritos". Na sua propaganda, as "curas espirituais" são anunciadas como um "processo evoluído", apesar de seus métodos bastante rudimentares. Elas se destinam, em tese, a curar doenças consideradas incuráveis e de difícil solução.
Resultados "eficientes" nesse sentido são alardeados até mesmo por aqueles que se dizem "rigorosamente respeitadores" da Ciência Espírita, que no entanto ainda não trouxe estudos a respeito de tais atividades. Nos tempos de Allan Kardec, as "curas espirituais" ainda estavam ligadas a critérios misteriosos e discutíveis, mais místicos do que científicos.
A "medicina mediúnica" segue práticas próprias da Idade Média, além de critérios típicos da época. Geralmente tesoura e faca de cortar carne são usadas, sem qualquer tipo de higiene. Supostamente tumores são extraídos na forma de objetos que parecem caroços de frutas, e seus "pacientes" são considerados "definitivamente curados".
Não existem dados confiáveis nem coisa alguma que pudesse legitimar ou garantir essas práticas. Tudo é feito de forma tão duvidosa e misteriosa, mais próxima do sobrenatural do que do científico, o que diz muito de sua falta de confiabilidade.
Pior, o sensacionalismo desses processos faz com que as pessoas recorram a elas como quem recorre à automedicação. Uma espécie de "medicina" improvisada, quase nunca confiável, na medida em que não há uma orientação cautelosa e os remédios e terapias adotados tendem a ter resultados desiguais, através de uma busca generalizada e cega dos mesmos.
O caráter pouco evoluído da "medicina espiritual" é tanto que eles atraem a influência de espíritos que teriam correspondido a médicos alemães ligados ao nazismo. Em muitos casos, os próprios "médiuns" terminavam a vida tragicamente, pela influência negativa dos espíritos.
Exemplos disso foram o famosíssimo José Arigó, mineiro que teria recebido o dr. Adolf Fritz (ou apenas "Dr. Fritz"), e, recentemente, o carioca Gilberto Arruda, que teria recebido o médico Frederik Von Stein. Arigó, que chegou a ser tão carismático quanto Chico Xavier, morreu em acidente de carro, na véspera do Dia dos Mortos, em 1971. Arruda morreu assassinado há alguns meses, dentro do Lar Frei Luiz, onde atuava, no bairro carioca da Taquara.
JOÃO DE DEUS NÃO RECEBE OSVALDO CRUZ
Apesar da alegação do "médium" João de Deus de receber, entre os supostos espíritos, o do médico sanitarista Osvaldo Cruz (1871-1915), esta informação, com toda certeza, não procede, como também não procedem as evocações, aqui e ali, de intelectuais e cientistas brasileiros do porte de Olavo Bilac, Humberto de Campos, Machado de Assis e outros nos ambientes "espíritas".
Conhecido médico e cientista que, ao lado de Carlos Chagas, trabalharam para o desenvolvimento de remédios e tratamentos contra doenças, no Brasil do começo do século XX, Osvaldo, assim como o outro, não iriam aderir a processos duvidosos de "curas espirituais", desprovidos de critérios científicos sérios.
Além do mais, a esfera do "espiritismo" brasileiro é pouco confiável para os espíritos mais conceituados, que nem de longe atendem ou participam de alegadas evocações. Humberto de Campos, por exemplo, não escreveu uma vírgula nos livros atribuídos a ele através de Chico Xavier. Isso é fato, embora a Justiça dos homens não tenha compreendido a situação.
Mais do que ninguém, eles percebem, do outro lado, as traquinagens dos "espíritas" brasileiros, cujas fraudes e atitudes pouco confiáveis só são legitimadas pelos olhares apaixonados dos seguidores da Terra, desconhecedores do rigor científico que Allan Kardec cautelosamente trazia em suas ideias.
Intelectuais renomados e conceituados, mesmo sendo pessoas ainda dotadas de imperfeições aqui e ali, possuem nível evolutivo suficiente para não aceitarem fazer parte dessa farra astral que os "espíritas" fazem, tomados de preconceitos igrejistas e tantas outras firulas. Eles se afastam, completamente, até de Chico Xavier e Divaldo Franco, horrorizados com seus estrelatos.
Além disso, a contradição que os "espíritas" têm em relação a valorizar ou não a "medicina mediúnica", mostra mais uma vez o caráter de confusão e inconsistência da doutrina brasileira. Alegar a superioridade das "curas espirituais" de um lado e apelar para a "medicina de carne-e-osso" de outro mostra o quanto a coerência encontra morada difícil e desconfortável nessa doutrina.
Afinal, os "espíritas" que se apoiam nessas práticas, em primeira instância, desprezam o trabalho da Ciência terrena nos estudos relacionados a doenças graves e sem cura conhecida. Alegam capacidade de curar males considerados incuráveis, de retomar a saúde plena até de enfermos que estão no leito de morte, achando que a "medicina da Terra" é incompetente ou impotente para tal missão.
Mas quando a coisa pesa nos próprios "espíritas", recorrem para a "medicina da Terra" que esnobam e desprezam. Os médicos e cientistas que estudam, sem receber investimentos dignos, sobre doenças e males diversos, são desmoralizados pelo "espiritismo", uma vez que o trabalho deles é desprezado, pois alegam que os "médicos do além" fazem "muito mais" do que os pesquisadores.
Depois, são esses cientistas os bajulados e procurados quando falha aos "espíritas" alguma capacidade de auto-cura por meios improvisados. Aí os cientistas, desprezados e esnobados, são procurados para fazer o serviço. E isso depois de serem ultrajados. E, uma vez que são procurados, a "medicina espírita", da forma como gente como João de Deus faz, é desmascarada de vez.
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