domingo, 16 de agosto de 2015

Como fazer os "espíritas" separarem Humberto de Campos de Chico Xavier?


Um dos piores casos de obsessão espiritual ocorridos no Brasil partiu justamente daquele tido como o "maior brasileiro da História", associado por muitos à ideia de perfeição espiritual, caridade infinita e sabedoria intuitiva: Francisco Cândido Xavier.

Pois foi justamente ele, na verdade um indivíduo de credibilidade duvidosa, plagiador de livros, usurpador da memória dos mortos e católico infiltrado nas tentativas de se praticar a Doutrina Espírita no Brasil, que fez de Humberto de Campos a pior de todas as obsessões que se pode imaginar de um encarnado para um desencarnado.

Chico Xavier tornou-se o único a sair não apenas impune diante do uso indevido e oportunista da imagem e do carisma de alguém falecido, mas também estimulado e, pasmem, respeitado e apoiado por essa apropriação indébita.

Chegou-se a um tempo em que Humberto de Campos, como morto, tivesse passado a ser um subordinado de Chico Xavier, e mesmo os críticos do chiquismo, desinformados, chegam a atribuir o "Humberto de Campos espírito" como verídico, embora de forma bastante negativa.

Pois a verdade é que Humberto de Campos nunca teve a ver com Chico Xavier e, se este evocava o tempo todo o espírito do autor maranhense, este, na verdade, se afastava cada vez mais do anti-médium mineiro, constrangido com a paranoia deste. Sim, foi uma paranoia de Chico Xavier se apropriar de Humberto de Campos.

A verdade é que Chico Xavier não gostou das resenhas que Humberto de Campos, quando ainda era vivo, escreveu sobre Parnaso de Além-Túmulo, e há dúvidas se a aparente legitimação do escritor e acadêmico à atribuição de autorias espirituais aos pastiches poéticos, feitas pelo escritor e articulista, soariam irônicas ou não.

Humberto teria escrito que não aprovaria as "obras do além" porque elas concorreriam com as produções feitas pelos autores vivos e desviariam a atenção do grande público destes para os autores falecidos. e esse estranho comentário teria irritado Chico Xavier.

Consta-se que Chico Xavier e a Federação "Espírita" Brasileira combinaram, na pessoa do seu então presidente Antônio Wantuil de Freitas, a apropriação do legado simbólico de Humberto de Campos - ou seja, seu carisma e popularidade - , ao qual seria atribuída a autoria "espiritual" de parte dos livros lançados pelo anti-médium.

Assim, deu no que se deu: um Humberto de Campos que nada tinha a ver com o autor original de prosa fluente, descontraída e laica, mas um choroso religiosista melancólico, de prosa pesada e pedante, de leitura que só é agradável para beatos submissos à fé religiosa.

Isso causou uma polêmica que culminou nos tribunais. Os herdeiros de Humberto de Campos tentaram processar a FEB e Chico Xavier, mas como os juízes, naquele meado de 1944, não entenderam o problema, tudo ficou no empate, embora isto tenha favorecido o anti-médium, dando origem à sua mistificação que deslumbra muitos brasileiros até hoje.

O empate também gerou uma blindagem da FEB com Chico Xavier, tanto que, quando um novo escândalo estava por vir com a promessa de denúncias por parte do sobrinho do anti-médium, Amauri Xavier, criou-se uma campanha caluniosa contra este jovem, numa sucessão de incidentes que culminaram na misteriosa morte do rapaz.

A blindagem fez Chico Xavier tornar-se um "monstro" maior do que aquele que Humberto de Campos escreveu num conto, em que as figuras da Morte e da Dor tentaram criar um ser. O "monstro" criado pelas duas não deu certo, mas o "monstro" Chico Xavier se agigantou como se fosse o "dono do Brasil".

De repente, Chico Xavier e seu jogo de contradições - o "caipira que virou profeta", o "fraco que se fortaleceu", o "simples que passou por cima de todos os obstáculos" etc - fez o anti-médium estar acima de todos os fatos e circunstâncias, tentando fazê-lo penetrar até nos círculos laicos, com suas frases adocicadas que no fundo não têm serventia alguma.

Pior: Chico Xavier defendeu o golpe de 1964 e ainda defendeu a ditadura militar em 1971 - época em que direitistas como Alceu Amoroso Lima e Carlos Lacerda já se manifestavam contra o regime - , e no entanto setores das esquerdas se tornaram complacentes com sua figura.

A complacência absoluta e aberrante com Chico Xavier fez com que tudo se aceitasse dele, e poucos perceberem que ele tornou-se o maior beneficiário da impunidade que existe no Brasil, já que ele abertamente estava associado a pastiches literários, posições reacionárias e apoios a fraudes, e saiu ileso e imune a tudo isso, inocentado pelos erros gravíssimos que cometeu, muitas vezes com gosto.

E isso num país que criminaliza o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva até quando ele dá bom dia. Lula tornou-se até o inverso de Chico Xavier, porque Chico pode ser inocentado até pelos piores erros comprovadamente por ele praticados, e Lula é culpado até pelos acertos que havia realizado em seu governo.

SOLUÇÃO PARA DESAPEGAR HUMBERTO DE CAMPOS DE CHICO XAVIER: CONHECER A OBRA DO AUTOR MARANHENSE

E como fazer separar Humberto de Campos desse "encosto" chamado Chico Xavier, se as buscas da Internet reforçam ainda mais esse apego e essa obsessão que tanto envergonha a trajetória do escritor maranhense que, em seu tempo, tinha uma grande popularidade e prestígio?

Em primeiro lugar, os brasileiros deveriam voltar a ler Humberto de Campos, apenas pelos livros que ele escreveu em vida. Esqueçam as obras que tenham como crédito "Francisco Cândido Xavier pelo espírito Humberto de Campos" porque isso é fraude da grossa.

Essa fraude pode ser seguramente comparada com o confrontamento com o que Humberto escreveu em vida e o que Chico Xavier lançou usando o seu nome, já que as diferenças gritantes de linguagem, qualidade da escrita e temas abordados revelam-se indiscutivelmente graves.

Não nos devemos iludir com as semelhanças existentes aqui e ali, porque toda imitação e todo plágio têm como objetivo parecerem com o original, daí o aproveitamento deste ou daquele aspecto bem conhecido.

O que deve se chamar atenção é quanto às diferenças e contradições, que, estas sim, podem derrubar a veracidade tão vagamente cogitada através das semelhanças genéricas, porque basta uma única diferença contraditória para derrubar dez semelhanças atribuídas entre o verdadeiro e o falso.

Conhecendo melhor a vida e a obra de Humberto de Campos, criam-se condições para separá-lo de vez do famoso usurpador. Temos que ter mais firmeza de espírito e romper com o anti-médium que só é "bonzinho" porque a grande mídia diz, sem que a realidade comprove de maneira confiável e definitiva.

Portanto, vamos separar Humberto de Campos de Chico Xavier. Vamos apreciar o que Humberto de Campos nos deixou em vida, sua admirável literatura, seus depoimentos, suas ideias, e deixar de lado os delírios religiosistas que Chico Xavier teria colocado em nome do autor maranhense.

Abandonar Chico Xavier e o falso Humberto de Campos das obras "espirituais", ficando com o que o verdadeiro Humberto deixou em vida, é respeitar a sua pessoa e seu legado artístico, e, em parte, respeitar e valorizar, através dele, o nosso legado cultural, que já está por demais desrespeitado e empastelado pelas circunstâncias.

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