sexta-feira, 5 de junho de 2015
Chico Xavier e a apologia à falsidade ideológica
Infelizmente, deixou-se passar, sem uma grande reação organizada, a mensagem do falso Humberto de Campos trazida no fim do caso que envolveu os herdeiros do falecido escritor maranhense, que moveram uma ação judicial contra Francisco Cândido Xavier e a Federação "Espírita" Brasileira.
Foram 71 anos depois que o suposto espírito de Humberto de Campos - que foi a maior, e a pior, obsessão de Chico Xavier - teve uma mensagem divulgada, adotando uma postura estranhíssima de um autor para seus familiares.
Sabemos que a suposta mensagem, divulgada na íntegra no livro do advogado da FEB, Miguel Tímponi, A Psicografia Ante os Tribunais, destoa, como muitas supostamente atribuídas ao espírito de Humberto, do estilo que o autor nos mostrou em vida, através de sua produtiva literatura.
Além disso, aspectos muito duvidosos foram expressos, como a desconfiança do "espírito Humberto" aos próprios familiares através do seguinte trecho: "Quero, porém, salientar, nesta resposta simples, que meus filhos não moveram semelhante ação por perversidade ou má-fé. (...) Mas que paisagem florida, em meio do mato inculto, estará isenta da serpe venenosa e cruel?"
Ao comentário acima, embora o suposto Humberto não se afirmasse um "fariseu orgulhoso" e sim um "publicano humilhado" - dentro da narrativa excessivamente religiosa que destoa do estilo original do autor maranhense - , o que se viu foi o inverso, uma demonstração do "fariseu orgulhoso" ferido pela petição judicial.
Não bastasse isso, a apologia à falsidade ideológica, uma postura que não condiz ao membro da Academia Brasileira de Letras, portanto um zelador da cultura brasileira, preocupado com as identidades pessoais, ainda mais quando, no mundo espiritual, a personalidade é o único elemento restante da pessoa que perdeu seu corpo físico e seus bens terrenos.
Já reproduzimos o texto na íntegra, mas não custa repetir o parágrafo a seguir, que mostra o caso gravíssimo, podendo dizer deplorável, de Chico Xavier e Antônio Wantuil de Freitas, este então presidente da FEB naquele distante 1944, porque o parágrafo é descaradamente uma defesa da falsificação de identidade e da omissão de qualquer critério de personalidade ou patente pessoal.
"Eis, porém, que comparecem meus filhos diante da justiça, reclamando uma sentença declaratória. Querem saber, por intermédio do Direito Humano, se eu sou eu mesmo, como se as leis terrestres, respeitabilíssimas embora, pudessem substituir os olhos do coração. Abre-se o mecanismo processual, e o escândalo jornalístico acende a fogueira da opinião pública. Exigem meus filhos a minha patente literária e, para isso, recorrem à petição judicial. Não precisavam, todavia, movimentar o exército dos parágrafos e atormentar o cérebro dos juízes. Que é semelhante reclamação para quem já lhes deu a vida da sua vida? Que é um nome, simples ajuntamento de sílabas, sem maior significação? Ninguém conhece, na Terra, os nomes dos elevados cooperadores de Deus, que sustentam as leis universais; entretanto são elas executadas sem esquecimento de um til."
Não é difícil de verificar que a redação do parágrafo foi conduzida a quatro mãos por Chico e Wantuil, Muitos termos são próprios do estilo das mensagens de Chico Xavier. E as argumentações, embora tivessem um forte apelo sentimental, que dá um aparato de "positivo" nas mesmas, são extremamente absurdas e fora de qualquer tipo de coerência e lógica.
Num determinado momento, Chico reclama, usando o nome de Humberto, reclama que as "leis terrestres" pretendem substituir os "olhos do coração". Lamenta que o processo judicial impulsionou o "escândalo jornalístico" que "acendeu a fogueira da opinião pública", A ênfase do termo Direito Humano e das leis terrenas no discurso é feito para desqualificar qualquer processo investigativo.
A mensagem reclama também da decisão dos filhos de Humberto - a viúva do escritor não é citada, embora ela participasse da ação judicial - de recorrerem ao "mecanismo processual" indo contra "quem já lhes deu a vida da sua vida". O texto expressa também a queixa de ver que o processo movimentou "o exército dos parágrafos" e "atormentou o cérebro dos juízes".
O trecho mais patético aparece em seguida: "Que é um nome, simples ajuntamento de sílabas, sem maior significação?". O trecho, descaradamente, defende a mais absoluta fraude cometida por Chico Xavier, através da omissão de identidades pessoais representadas pelo nome, como se a identidade de Humberto de Campos e seu estilo pessoal não tivessem o menor valor.
Da forma mais perniciosa possível, Chico Xavier usa a caridade como pretexto para permitir a falsidade ideológica ou a omissão de identidades: "Ninguém conhece, na Terra, os nomes dos elevados cooperadores de Deus, que sustentam as leis universais; entretanto são elas executadas sem esquecimento de um til".
Evidentemente, não foi Humberto de Campos que enviou, do além, essa mensagem, porque tudo o que Chico Xavier lançou sob esse nome não condiz, em momento nenhum, ao estilo pessoal que o escritor maranhense teve em suas obras.
Isso não é um julgamento calunioso. Basta analisar, com muitíssima atenção, a bibliografia que Humberto lançou em vida e a obra que se atribui ao seu espírito, que se chegará, com toda a segurança, à conclusão de que os dois trabalhos são aberrantemente diferentes entre si.
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