domingo, 7 de junho de 2015
A pretensão dos "espíritas" em julgar sem fundamento
A polêmica causada por textos que identificaram alusões de racismo em uma matéria de Correio Espírita aponta para um dos males do "movimento espírita" em querer julgar as coisas de forma generalizada, através de "condenações em bloco" que define sob o nome eufemístico de "resgates coletivos".
A ideia de que invasores sanguinários tiveram como "castigo" usar a "roupagem física dos africanos" sugere um comentário racista, não bastasse o equívoco dos "espíritas" que nunca levaram a Ciência Espírita a sério, ficarem dando pitacos sobre quem havia sido quem nas encarnações passadas.
Muita gente se chocou em ver "espíritas" tão "injustamente" acusados, mas a verdade é que ninguém consegue perceber o drama dessas pessoas, como na foto que ilustra esta postagem, negras e pobres, que, não bastassem os riscos que sofrem, talvez tivessem que estar conscientes que seu sofrimento é "justo" porque haviam sido "invasores sanguinários" em outras vidas.
Isso é uma grande expressão de insensibilidade e mostra o grave "dedo acusador" dos "espíritas", uma herança claramente de Jean-Baptiste Roustaing, que nunca saiu de fato do "movimento espírita", tendo sido um nome evitado, mas cujos valores continuam até hoje valendo entre seus membros.
Em 2009, Woyne Figner Sacchetin lançou um livro, O Voo da Esperança, usando o nome de Alberto Santos Dumont como suposto autor espiritual, e acusou as 199 vítimas do acidente da TAM em São Paulo, em 2007, de terem sido "romanos sanguinários" que viveram na Gália, atual França.
O livro ofendeu os familiares das vítimas, que abriram processo contra Woyne por danos morais, e ele teve que suspender a comercialização do livro. Como a maioria das vítimas era abastada, de classe média alta, puderam pagar advogados para processar um "espírita" pelo julgamento infundado.
Mas Chico Xavier havia feito o mesmo em 1966, com o livro Cartas e Crônicas, usando o nome de Humberto de Campos mal disfarçado pelo codinome Irmão X, para acusar as vítimas do trágico incêndio do Gran Circus Norte-Americano, em Niterói, no final de 1961, de terem sido também "romanos sanguinários" que viveram na Gália.
Mas as vítimas eram pobres, em maioria negros, índios e mestiços, sem instrução, e, portanto, sem poder pagar um advogado para assisti-los contra esse dano moral. E Chico Xavier havia se transformado num ídolo "espírita", parecendo passar por cima de qualquer obstáculo, daí o caso ter saído de forma impune, apesar das fortes semelhanças com o caso Woyne Figner / TAM.
E os pobres africanos que saem de países em conflitos bélicos e governos ditatoriais, em busca de trabalho e prosperidade na Europa e na América? E os haitianos querendo viver no Brasil? Eles teriam sido "invasores sanguinários"? Teriam sido necessariamente "tiranos violentos"? Ou então "patrícios com sede de vingança"?
Como os negros e pobres, ou os índios, os judeus, os palestinos e outros povos oprimidos podem se defender de tais acusações, feitas sem o menor rigor científico, sem o menor embasamento, por uma doutrina cuja única amostra de mediunidade não passam de processos fraudulentos que só expressam os estilos pessoais e o exagerado apelo religioso dos supostos "médiuns"?
Será que vamos por aí sair acusando pobres trabalhadores e pessoas inocentes de terem sido "tiranos" em outras vidas, como quem sai atirando a esmo para todos os lados? E as crianças pobres e negras, que brincavam alegremente nos subúrbios? Só porque elas morreram vítimas de balas perdidas dos tiroteios, elas teriam sido criminosos sanguinários em outras encarnações?
As pessoas não conseguem compreender. Preferem proteger os "espíritas" na sua pretensão de se julgarem acima de tudo e de todos, acima do bem e do mal, juízes e donos da palavra final sobre todas as coisas, pretensos avaliadores absolutos do passado de qualquer um, quando sua noção de vida espiritual não passa de teorias especulatórias de um mal disfarçado roustanguismo.
Mas elas não sabem o quanto de injustiça tem em fazer acusações assim, tão generalizadas, tão pretensiosas. Se apegam aos estereótipos de "caridade" e "bom senso" dos "espíritas", e acham "injusto" falar sobre seus erros graves.
Mas dormem tranquilos depois de verem no telejornal que uma bela negra tem seu futuro definitivamente interrompido ao voltar da escola e ser atingida por uma bala perdida. Ela também foi "invasora sanguinária" ou "tirana genocida"?
Que misericórdia é essa que primeiro julga e condena para depois assistir? Que perdão é esse que evoca crueldades antigas numa pretensão de supor encarnações das quais não se tem realmente ideia de que realmente existiram?
O moralismo medieval dos "espíritas" demonstrou que o erro, neste caso, está neles quererem acusar e supor encarnações cujas provas inexistem, fazendo um julgamento totalmente desprovido de fundamentos ou demais critérios lógicos. Principalmente quando os acusados são gente simples, pessoas do povo, que mereceriam o nosso respeito e consideração.
Fica aqui o nosso apoio e o nosso desejo para que os negros africanos e haitianos que fogem de seus países tenham sucesso nos seus novos lugares. E que eles sejam respeitados pelo que hoje são, pouco importando quem eles teriam sido. Antes de explicarmos seus sofrimentos, deve-se resolvê-los com justiça e atenção.
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