segunda-feira, 4 de maio de 2015
Chico Xavier e a teimosia infantil de seus seguidores
Uma das coisas mais preocupantes existentes no Brasil é o apego desesperado de muitas pessoas pela figura de Chico Xavier, ele em si uma pessoa contraditória e alvo de idolatrias não menos contraditórias.
O falecido anti-médium, que personificou um jogo de opostos que leva seus seguidores ao delírio, apoiado em dicotomias como pobreza/riqueza, fraqueza/força, silêncio/voz e submissão/liderança, é uma espécie de obsessão que alimenta vaidades e fantasias dos brasileiros, quase que como um ícone ao mesmo tempo mórbido e sensual.
Chico Xavier é quase um brinquedo nas mãos dessas pessoas, que se dividem entre idealizar demais o anti-médium e fantasiá-lo dentro dos limites do aparente. Todos, porém, se alimentam do mito que se desenvolveu pelas mãos dos dirigentes da FEB, não sem uma dose grande de sensacionalismo e pieguice.
Os seguidores de Chico Xavier acabam se tornando um fenômeno à parte, já que são pessoas que parecem camuflar seus preconceitos, suas omissões, suas neuroses e defeitos, acomodados numa idolatria a alguém que nunca teve qualidades realmente especiais.
A pretensa e muito mal justificada unanimidade em torno dele faz camuflar seus graves defeitos e deixar passar uma doutrina confusa e tomada de erros tão sutis quanto graves, mas que pelo conjunto da obra colocam numa situação pior do que as chamadas "seitas neopentecostais".
Isso porque, pelos graves erros cometidos pelo "espiritismo" feito no Brasil, que reduzem a doutrina de Allan Kardec a um neo-Catolicismo que quase nada tem a ver com o pensamento kardeciano, a religião brasileira que queria ser a vanguarda das crenças espiritualistas periga e sucumbir a um patamar inferior às seitas de R. R. Soares, Silas Malafaia, Edir Macedo e Valdomiro Santiago.
Sim, porque os erros que os "neopentecostais" cometem são muito grotescos e sem muita sutileza. Como os tais Gladiadores do Altar de Edir Macedo, espécie de "pitboys de Cristo" sugerindo um "UFC da fé". Já o "espiritismo" pode cometer erros pouco perceptíveis, mas que escondem graves efeitos que só se deixam passar pelo desconhecimento da maioria das pessoas.
O apego a Chico Xavier mostra o quanto as pessoas que o seguem são muito inseguras de si e que, com tal idolatria, não se tornam mais confiantes, antes camuflando seus defeitos diversos com uma falsa impressão de que está fazendo o bem admirando um mero estereótipo.
Afinal, o que está em jogo é a idolatria a um estereótipo do "velhinho humilde", que faz as pessoas ficarem na zona do conforto de sentimentos confusos que variam entre a permissividade de seus defeitos, a falsa modéstia e os preconceitos sociais diversos.
Chico Xavier torna-se então idealizado, fantasiado e tudo o mais. Seja dentro dos limites dos clichês do médium, religioso e filantrópico, seja pelas idealizações surreais que o fazem, em primeira instância, ser visto como um "filósofo" de um país sem grandes filósofos, e, em casos extremos, como um suposto intelectual que muitos querem ver reconhecido como "cientista".
As pessoas deixam de cuidar de suas realidades, porque a fantasia de Chico Xavier vale tudo. O apego à sua figura, às suas frases, seus livros, a hesitação em atribuir ou não a validade de Emmanuel, a condescendência de esquerdistas e até de kardecianos pouco contestadores à sua figura, dão a impressão de que Xavier, mesmo depois de morto, recebe todo tipo de blindagem.
A teimosia infantil dos chiquistas de várias correntes, uns só acreditando no que Chico Xavier realmente diz, outros querendo interpretar maravilhas ocultas pelo legado xavieriano, faz com que ele desvie as pessoas dos verdadeiros problemas que afetam o país.
Chico Xavier foi um mito alimentado pelas fraudes cometidas pela FEB e pelo próprio anti-médium (Xavier não é mais médium porque virou o centro das atenções, virou uma grife e não o intermediário da comunicação espírita), associado a plágios literários, falsa psicografia e ao apoio a fraudes de materialização.
Personificando ideais moralistas que agradam as famílias, Chico Xavier também expressa a imagem do velhinho frágil e gentil, que serve como álibi para adultos que desprezam e maltratam seus próprios idosos poderem passar uma "boa impressão" para amigos e colegas de trabalho.
O anti-médium personifica ideais conservadores, mas associados a estereótipos de uma bondade que as pessoas não compreendem bem o que significa. E as contradições de Chico Xavier também personificam a confusão mental de seus seguidores, que não sabem se são progressistas ou conservadores, moralistas ou libertinos, humildes ou elitistas, modernos ou retrógrados.
Chico Xavier, como mito, expõe seus seguidores a essas contradições e dilemas os quais todos querem manter mediante uma certa estabilidade. Na falta de um grande filósofo, ele virou dublê de pensador com suas frases dóceis.
Corrompendo o legado das crenças orientais, os chiquistas acham que ser contraditório é maravilhoso, interpretando mal a ideia de yin e yang, as ideias taoístas de dualidade e convívio de opostos. Com Chico Xavier, permite-se que as pessoas sejam e não-sejam ao mesmo tempo, criando um comodismo nas debilidades humanas.
E isso se torna muito perigoso, como perigosa foi a "psicografia" trazida pelo anti-médium, que explorava as tragédias familiares de modo sensacionalista, transformando a comoção familiar em espetáculo e evitando que as famílias chorem a perda de entes queridos no sossego necessário de suas privacidades.
As pessoas deixam de terem um conhecimento autocrítico e realista de si mesmas, apegadas à crença de um "velhinho humilde". Camuflam preconceitos, neuroses, debilidades, frustrações e discriminações, por causa de valores associados a Chico Xavier que variam entre um livre-arbítrio permissivista e um moralismo severo.
Daí a série de prejuízos, limitações, suplícios e outros problemas que os chiquistas e o "espiritismo" em geral acabam causando nos seus envolvidos. O apego a Chico Xavier acaba sendo uma barreira para as pessoas se desenvolverem de forma independente, pois todos acabam sendo submissos e dependentes do "bom velhinho".
Isso faz com que as pessoas se tornem escravas de seu mito, de seus estereótipos, do açúcar em doses diabéticas de suas "palavras de amor", de uma série de estigmas e paradigmas ligadas a valores que, no fundo, são conservadores e vitalmente restritivos.
Por isso, a solução para a vida das pessoas seria tirar Chico Xavier de seu pedestal e condená-lo ao esquecimento, após um grande questionamento de sua figura, o que não é prejuízo algum, uma vez que ele nunca fez em prol do ativismo social, da espiritualidade e do progresso humano. E existem milhares de pessoas que fizeram melhor e muito mais do que ele.
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