segunda-feira, 11 de maio de 2015
A crueldade que Chico Xavier fez com as mães
Francisco Cândido Xavier cometeu uma crueldade que quase ninguém percebeu. Se conhecermos todos os erros cometidos por ele e tudo que ele fez em contrário à doutrina de Allan Kardec, veremos que essa crueldade faz sentido: a de explorar as dores das mães que perderam filhos.
Sem qualquer estudo sério relacionado ao processo mediúnico, Chico Xavier, o católico que falava com um padre morto - o jesuíta Manuel da Nóbrega, que se rebatizou Emmanuel - e tinha uma mediunidade muito mais limitada e precária do que muitos imaginam, e uma personalidade falha que desmerece em definitivo qualquer qualificação como "líder", "pensador" e "ativista".
Chico Xavier fez muito mal às mães órfãs de filhos por muitos aspectos. Expôs publicamente as dores por elas sofridas, impedindo que elas sofressem de maneira discreta, na sua privacidade, e prolongando a dor da tragédia através de sua publicidade.
Chico ainda desenvolveu uma obsessão pelos filhos mortos, através da apropriação de suas imagens e legados e também da forma equivocada com que trabalhava a hipótese de sobrevida do espírito, ignorando todo conhecimento sério da Ciência Espírita.
Dessa maneira, Chico Xavier criou uma falsa esperança que não passa de uma sensação de transe e de êxtase, que nada contribui para a conformação com o ocorrido, diante de uma tragédia irreversível que não se resolve com a exploração fútil dos espíritos dos filhos falecidos.
E observando que Chico Xavier cometia fraudes mediúnicas, escrevendo de sua própria mente um mesmo padrão de mensagens de panfletarismo religioso com a sua própria caligrafia, mas atribuindo ao morto da ocasião. E as famílias acreditando nas mensagens, sendo enganadas e seduzidas pelo clima de emotividade produzido tendenciosamente pelos "espíritas".
Imagine se alguém viaja e não dá mensagens novas para seus parentes. Mas surge um farsante que, tomado de informações sobre alguns aspectos da vida desse alguém e os endereços da residência da família e escreve em nome desse indivíduo, a revelia dele, imitando os clichês de sua personalidade e inventa a ideia de que esse indivíduo está bem e tranquilo.
Mesmo que esse indivíduo esteja realmente bem e tranquilo, não é ele que transmite a mensagem, mas sim algum terceiro. Será que a família, enganada no processo, acreditará na veracidade da mensagem? Será que a família, tomada de emoção e saudade, não é capaz de verificar algum problema, alguma fraude, na mensagem por ela recebida?
Isso é bastante cruel. O que muitos veem como caridade é uma exploração deplorável do pior sensacionalismo, e da usurpação das comoções familiares que se reduzem a espetáculos exibidos ao grande público para promover propaganda religiosa e encher os "centros espíritas".
Essa atitude é, na verdade, um grande desrespeito às famílias que perderam seus entes queridos, cuja única coisa que querem é sossego na privacidade e paciência em seguir suas vidas sem aqueles que faleceram por algum infortúnio.
Sim, o que parece caridade é, na verdade, uma grande falta de respeito. E acaba ficando patético ver mães chorando pateticamente por causa dos filhos mortos, pulando e saltitando por causa de mensagens apócrifas que elas nem têm certeza, e nem tem condições de verificar, se são realmente de seus filhos ou não.
É até tão triste quanto ver os filhos morrerem cedo, ver os pais e mães expostos ao espetáculo das pretensas psicografias, cuja apreciação atinge graus de futilidade comparáveis aos das mesas girantes e das tábuas Ouija que se praticavam na Europa, não raro mediante fraudes explicitamente feitas.
Sim, porque isso é um grande retrocesso. Chico Xavier, que era razoavelmente letrado e não era cego, mas era totalmente ignorante da doutrina de Allan Kardec e tomado da mais perfida fé cega do religiosismo medieval, reduziu a proposta espírita a um espetáculo sensacionalista de usurpação da memória dos mortos, um sério e grave caso de obsessão de encarnado para desencarnados.
Aliás, Chico Xavier foi um grande obsessor dos mortos. Tornou-se o mais grave obsessor de Humberto de Campos, a ponto de se tornar "dono" de seu legado e impedir que hoje se conheça o autor maranhense sem desprender do mais pérfido vínculo com seu usurpador.
Quando Chico Xavier era vivo, ele era o encarnado que obsediava desencarnados, se aproveitando também da emotividade de Arnaldo Rocha, o apaixonado viúvo de Irma de Castro, a Meimei, e se apropriou da falecida.
Parnaso de Além-Túmulo, uma coleção de pastiches literários, também mostra o quanto Chico Xavier era um multi-obsessor, se apropriando dos nomes e dos prestígios dos mais diversos autores literários, e, ao ver Humberto de Campos fazendo uma resenha irônica do livro, Chico se vingou e se transformou no "dono" de seu legado.
O anti-médium mineiro, que deixou de ser médium para ser o centro das atenções - até para buscar mensagens de outrem falecido Chico virava uma "grife" para muitas famílias - , produzia um clima de emotividade para prender as pessoas no seu misticismo e transformar as tragédias humanas num espetáculo supostamente espiritualista.
E olha que muitas dessas famílias que perdem entes queridos já eram "espíritas" e já frequentavam seus "centros" assiduamente para ouvir doutrinárias. E por que, em vez de investir no falso consolo das tragédias ocorridas, o "espiritismo" não trouxe as energias necessárias que fizessem os ditos "amigos de luz" prevenirem os jovens a evitar sofrer as tragédias que acabaram lhes matando?
É muito fácil consolar alguém que chora pelo leite derramado do que criar condições para prevenir tragédias. Muitas das tragédias precoces provém de desatenções, imprudências, imprevidências e outros males que poderiam ser evitadas com algum despertar prévio de consciência.
Mas, com as tragédias ocorridas e, portanto, irreversíveis, o ideal seria que deixássemos as famílias suportarem as dores de forma discreta e preservadas na privacidade. Nem arrisquemos a dizer para essas famílias aceitarem a tragédia ocorrida, mas criar condições para que elas possam estar emocionalmente conformadas, sem que alguém peça para isso.
Pedir para que alguém se conforme com a tragédia pode entristecer ainda mais, causar depressão e incitar, sem querer, ao suicídio. Por isso, a perda de entes queridos deveria ser lidada no sossego da privacidade, e estimulando aqueles que perderam seus familiares a buscar ocupações alternativas para que possam conviver com a tragédia com menos dor.
Levando as tragédias familiares ao nível do espetáculo ostensivo, Chico Xavier causou o maior prejuízo de expor as tristezas das mães a uma exibição patética que só serve para propaganda religiosa e não resolve de forma alguma os dramas familiares. É a mediunidade, que Allan Kardec buscou estudar, que foi rebaixada a uma farra equivalente à das tábuas Ouija.
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