quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
A farsa da "reforma íntima"
Uma das bandeiras do "movimento espírita", sobretudo de Chico Xavier, a chamada "reforma íntima", revela-se uma grande manobra de cunho bastante conservador e que contraria frontalmente a visão progressista de Allan Kardec.
O que é a tal "reforma íntima"? É um princípio ideológico no qual não se deve desafiar os problemas de forma a comprometer as estruturas sociais vigentes. Se a pessoa sofre, ela terá que "reeducar" suas emoções e aceitar todo tipo de arbitrariedade, trabalhando apenas dentro dos limites de tais imposições e usando o tal "silêncio da prece" para "aliviar" as dores e angústias.
Os fanáticos por Chico Xavier veem nisso algo "transformador". Acreditam eles, na cegueira de seu sentimentalismo extremo, que as mudanças da sociedade só virão com as transformações meramente individuais, superestimando um único aspecto da necessidade de mudanças pessoais.
Afinal, a realidade bastante complexa exige que, às vezes, reformemos nossas emoções mas, em outras, impusemos nossas necessidades e desejos aos outros. A realidade é complicada demais para que tão somente nos limitemos a "reeducar" nossas emoções para aceitarmos as imposições da vida, como se vivêssemos para "engolir sapos".
No entanto, é isso que o "espiritismo" determina para nós. O "sábio" Emmanuel, ressurgido das trevas do jesuitismo de matizes medievais, já desaconselhava a contestação, o questionamento, o senso crítico, num claro e extremo desvio das recomendações de Allan Kardec.
Tanto as pregações de Emmanuel para que não façamos críticas nem protestos, contestações nem questionamentos, aceitando tudo "com amor" (em outras palavras: "Sorria! Você está sendo ferrado!") e a chamada "resignação", também conhecida como "abnegação". Ou, melhor dizendo, significa simplesmente CONFORMISMO.
Junte-se as declarações "sábias" do padre Emmanuel com as palavras açucaradas de Chico Xavier, que pregam que "quando mais se sofre, mais abençoado é", como se o melhor caminho para a humanidade é ser masoquista.
E o "espiritismo" glamouriza mesmo o sofrimento. Condena a contestação e a reação contrária e pede que fiquemos conformados. Se os algozes levam vantagem e ficam décadas sem sofrer um arranhão em suas vidas, que aceitemos isso e esperemos o "tempo" agir contra eles, nem que seja daqui a duas encarnações (cerca de 200 anos).
Chico Xavier foi conservador, defendeu o golpe de 1964 e ainda defendeu a ditadura militar nos anos mais duros do AI-5. Ele havia dito que os militares que ordenavam a tortura, a repressão, botando pessoas para levarem choque elétrico com os pés nus num balde de água, estariam construindo o "reino de amor" para a humanidade futura.
Claro. Viemos para sofrer, sofrer e sofrer. E aceitar tudo "com amor" e orando em silêncio. Isso lembra a ação dos prisioneiros medievais, daí que não dá para entender como os "racionais" adeptos do "espiritismo" brasileiro acham Chico Xavier "progressista".
E o pior disso tudo é que os palestrantes "espíritas" tentam dizer que "não viemos para sofrer", enchendo as agendas de palestras sobre a "felicidade", com seus oradores alegres com as "maravilhosas energias" dos "centros espíritas".
Em suma: nós sofremos horrores e temos que aceitar tudo com alegria e amor. E aí chegam os palestrantes para dizer que "não precisemos sofrer". Continuamos sofrendo, até de maneira pior com o passar do tempo, enquanto temos que acreditar em esperanças que nunca chegam, porque viemos para "sermos felizes". É muita contradição para uma emoção em ruínas.
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