sábado, 17 de janeiro de 2015
Caso Amauri Xavier não desmascarou só Chico Xavier, mas o "movimento espírita" como um todo
O caso Amauri Xavier não apenas desmascarou o tio, Francisco Cândido Xavier, como desmascarou o "movimento espírita" como um todo, na medida em que sua denúncia criou uma reação de fúria dos líderes "espíritas" e teve como consequência a tragédia precipitada do jovem.
Afinal, que religião é essa, fundamentada nos "mais elevados princípios morais" e na "nobre defesa do amor e da fraternidade" que deixaria Amauri morrer de tanto beber, quando ele era interno de um sanatório "espírita" que deveria ter sido eficaz na recuperação do rapaz?
E que líderes "espíritas", dotados de "caráter mais elevado", que reagem com tanta fúria e desprezo ao jovem Amauri, depois que ele revelou, por uma questão de consciência, que ele e seu tio não passavam de mistificadores?
Quem deve e teme e Amauri havia sido um personagem tão enigmático, diante da recusa de se fazer qualquer investigação sobre tal denúncia - mesmo na hipótese de Amauri estiver errado - , que até seus dados biográficos foram desencontrados e confusos, além de não haver até agora uma foto sobre o rapaz.
E olha que Chico Xavier possui várias fotos de álbuns de família, incluindo a irmã Maria Xavier e o marido desta, Jaci Pena, mas estranhamente não aparece alguma foto que aparecesse o sobrinho, tratado como um verdadeiro entulho humano.
Os textos de O Semanário, seja de Henrique Rodrigues, seja de Olívio Novaes, tentam ser melífluos quando o assunto é defender o "espiritismo" e Chico Xavier. Ainda que, no caso de Rodrigues, este tenha se preocupado mais em atacar Amauri e os padres católicos. No entanto, os "espíritas" não conseguem dizer, com segurança, se os padres católicos manipulavam ou eram manipulados por Amauri.
Pois o "desequilibrado" Amauri foi depreciado pelos líderes "espíritas", estes sim tomados de desequilíbrio e manifestando seu trauma de ter visto seu ídolo Chico Xavier no banco dos réus, por causa do processo movido pelos herdeiros de Humberto de Campos.
A "serpe venenosa" dos "iluminados espíritas" expôs o seu fel quando classificou, no seu julgamento severo - contradizendo o que sua doutrina determina, "não julgar" - os familiares de Campos de "mercenários", por desejarem a patente autoral do suposto autor espírita.
Enquanto isso, Chico Xavier e seus partidários, se apropriando de um nome ainda de grande sucesso como Humberto, morto ainda relativamente jovem, aos 48 anos de idade, afirmavam que só agiam "em nome da caridade", produzindo, sob o crédito do falecido escritor, textos que destoam severamente de seu estilo original.
Muitas obras que Chico publicou atribuindo a espíritos de escritores mortos são fáceis de terem suas fraudes detectadas. Seus estilos destoam e muito dos que os autores haviam produzido em vida, e no entanto são iguais quanto à mesma pregação chorosa de Chico Xavier, que costuma glamourizar o sofrimento humano.
Isso é bastante evidente. Não se trata de uma constatação caluniosa nem ofensiva. Se há irregularidades na obra de Chico Xavier, seremos obrigados a admiti-la por uma questão de coerência. Pretextos associados ao amor e à caridade não podem estar acima da lógica dos fatos, se existe um conflito nesse sentido, o amor e a caridade perdem todo o valor.
O caso Amauri Xavier só agravou, ainda mais, o lado do "movimento espírita", que a todo custo tenta abafar todo tipo de polêmica e irregularidade, fazendo com que Chico Xavier tentasse derrubar todo tipo de obstáculo para se tornar "líder" às custas dos estereótipos que ele trabalha.
Esses estereótipos, ligados a paradigmas de velhice, humildade e sabedoria que habitam o imaginário contraditório das pessoas, é que sustentam Xavier e o fazem imune a tudo, numa imunidade que nem os políticos mais corruptos conseguem obter como figuras do Poder Legislativo.
Ele tentou escapar ileso até mesmo à crise do roustanguismo, nos anos 70, fingindo defender a fidelidade a Allan Kardec para agradar espíritas prestigiados como Carlos Imbassahy (pai) e José Herculano Pires.
No entanto, as obras falam muito, mais do que pretensões e muito mais do que os "olhos do coração" podem (dentro dos seus limites fantasiosos) ver, e Chico Xavier foi o que mais seguiu Jean-Baptiste Roustaing, adaptando-o perfeitamente para o contexto brasileiro, de forma que Roustaing podia ser descartado, como teve que ser.
Mas o superherói dos "espíritas" queria estar imune a tudo e o "todo-poderoso" Chico Xavier só faltava ser considerado um dos mestres do marxismo, do iluminismo, da Semana de Arte Moderna, de tudo. Dão a Chico Xavier qualidades e atributos que ele não tem e até o futuro da humanidade da Terra é "entregue" a ele, de bandeja.
Só que isso cria um contexto surreal e Chico Xavier torna-se, por excelência, o mais surreal dos brasileiros, um homem que desafia ética, lógica e realidade, como se ele fosse o "dono" do Brasil com seu jogo de contrastes discursivos.
Daí que não querem tirar a máscara do caipira mineiro que assumiu inúmeras qualidades que na realidade nunca teve. E, uma vez desmascarado Chico Xavier, desmascara-se também o "movimento espírita", diante das manifestações de rancor contra Amauri Xavier quando este resolveu fazer as suas denúncias.
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