terça-feira, 23 de dezembro de 2014
Mensagem de suposto Humberto de Campos foi forjada pela FEB
Miguel Timponi, advogado da FEB, havia acusado os herdeiros de Humberto de quererem faturar financeiramente com o legado do autor, enquanto alegava que o trabalho de Chico Xavier era uma "caridade".
Em seu livro A Psicografia Ante os Tribunais, Timponi mostra a mensagem supostamente atribuída a Humberto de Campos, extremamente tristonha e que reflete muito mais o caráter melindroso de Chico Xavier misturado com o tom enérgico de Wantuil, nada lembrando o estilo do autor de O Brasil Anedótico.
Esse texto, reproduzido abaixo, foi um apelo do suposto espírito de Humberto para criar comoção diante do episódio, mas o conteúdo mostra claramente que ele havia escrito em quatro mãos por Chico Xavier e por Antônio Wantuil de Freitas, o então presidente da FEB, vide o tom melancólico do primeiro se alternando com a agressividade do segundo. Vale conferir:
"Não desconheço minha pesada responsabilidade moral, no momento quando o sensacionalismo abre torrente de amargura em torno de minh'alma.
Recebeu-me a Federação Espírita Brasileira, generosamente, em seus labores evangélicos, publicou-me as páginas singelas de noticiarista desencarnado, concedendo-me o ingresso na Academia da Espiritualidade. E continuei conversando com os desesperados de todos os matizes, voluntariamente, como o hóspede interessado em valer-se da casa acolhedora.
Eis, porém, que comparecem meus filhos diante da justiça, reclamando uma sentença declaratória. Querem saber, por intermédio do Direito Humano, se eu sou eu mesmo, como se as leis terrestres, respeitabilíssimas embora, pudessem substituir os olhos do coração. Abre-se o mecanismo processual, e o escândalo jornalístico acende a fogueira da opinião pública. Exigem meus filhos a minha patente literária e, para isso, recorrem à petição judicial. Não precisavam, todavia, movimentar o exército dos parágrafos e atormentar o cérebro dos juízes. Que é semelhante reclamação para quem já lhes deu a vida da sua vida? Que é um nome, simples ajuntamento de sílabas, sem maior significação? Ninguém conhece, na Terra, os nomes dos elevados cooperadores de Deus, que sustentam as leis universais; entretanto são elas executadas sem esquecimento de um til.
Na paz do anonimato, realizam-se os mais belos e os mais nobres serviços humanos.
Quero, porém, salientar, nesta resposta simples, que meus filhos não moveram semelhante ação por perversidade ou má-fé. Conheço-lhes as reservas infinitas de afeto e sei pesar o quilate do ouro da carinhosa admiração que consagram ao pai amigo, distanciado do mundo. Mas que paisagem florida, em meio do mato inculto, estará isenta da serpe venenosa e cruel? É por isto que não observo esse problema triste, como o fariseu orgulhoso, e sim como o publicano humilhado, pedindo a bênção de Deus para a humana incompreensão.
Diante, pois, do complicado problema em curso, ajoelho-me no altar da fé, rogando a Jesus inspire os dignos juízes de minha causa, para que façam cessar o escândalo, em torno do meu Espírito, considerando que o próprio Salomão funcionasse nessa causa, ao encarar as dificuldades do assunto, teria, talvez, de imitar o gesto de Pilatos, lavando as mãos".
HUMBERTO DE CAMPOS (sic)
Observa-se que em determinados trechos há o estilo de Chico Xavier, enquanto em outros há o estilo de Antônio Wantuil de Freitas. Dá para notar que nada do estilo original de Humberto de Campos transparece, mesmo de longe, no referido texto, divulgado depois do desfecho do processo, em agosto de 1944.
O primeiro parágrafo, por exemplo, tem a cara de Chico Xavier. Já o segundo parece vir de Wantuil, ao passo que o terceiro parece um longo texto combinado entre os dois, num trecho em que se desqualifica qualquer necessidade de exigir identidade verídica das obras "espirituais" em questão.
Sim, porque o trecho "Que é um nome, simples ajuntamento de sílabas, sem maior significação?"é uma desculpa esfarrapada para se omitir a verdadeira identidade, e isso numa passagem chorosa que, no final do referido terceiro parágrafo, tem mais a cara de Chico Xavier.
A frase isolada do quarto parágrafo, "Na paz do anonimato, realizam-se os mais belos e os mais nobres serviços humanos", é rigorosamente igual às frases que Chico Xavier escreve em próprio punho e diz em suas entrevistas, estando portanto a anos-luz de distância do estilo pessoal de Humberto de Campos.
A mensagem, portanto, só valeu pelo tom sentimentalista que garante, até hoje, o carisma de Francisco Cândido Xavier que, mesmo 12 anos depois de falecido, torna-se conhecido por suas frases dóceis e pela atitude contraditória em que se atribui suposta superioridade a caraterísticas naturalmente medíocres, como a velhice frágil, a ignorância e a pobreza.
A mensagem, portanto, foi forjada pela FEB para comover as pessoas, já que observamos que o texto se aproxima mais dos estilos de Wantuil e Chico, que teriam elaborado o texto em conjunto, do que de Humberto de Campos, que com toda a certeza nem estava aí para Chico Xavier, temeroso com sua obsessão em explorar o nome e o prestígio do falecido escritor maranhense.
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