MALCOLM MUGGERIDGE, CHICO XAVIER E ROBERTO MARINHO - TUDO A VER.
O Brasil tem dessas tristes peculiaridades. Tem uma "cultura popular" surreal, controlada por uma elite de empresários do entretenimento que ditam o "gosto popular" por intermédio de executivos de rádio e TV. E temos ainda uma religiosidade extrema que teima em exercer monopólio sobre a realidade.
Muitos de nós ainda pensam a realidade como se fosse uma novela de televisão. Vemos as coisas de maneira institucionalizada, materialista ou mediante velhos preconceitos morais. Até o "funk" é um reflexo desses preconceitos e dessa imagem estereotipada e idealizada do "bom pobre" que as classes médias, ditas "esclarecidas", se mantém ideologicamente.
Há quinze anos, um ídolo religioso festivo e supostamente ecumênico, símbolo de aparente caridade e portador de uma mitologia ao mesmo tempo contraditória e fantasiosa, faleceu depois de anos doente. O "médium" Francisco Cândido Xavier, aliás, o primeiro anti-médium do Brasil, faleceu com 92 anos de idade, causando comoção entre seus fanáticos seguidores.
Popularmente conhecido como Chico Xavier, seu mito, aparentemente associado a qualidades positivas como "bondade", "humildade", "sabedoria" e "simplicidade", foi na verdade construído, e muiot bem construído, criando uma linearidade ideológica que agrada muitas pessoas, mesmo aquelas que não são consideradas "espíritas".
Mas mito bem construído não quer dizer necessariamente um mito realista. Afinal, é como diz o ditado: "é bom demais para ser verdade". O mito que hoje se conhece de Chico Xavier esconde aspectos bastante sombrios, a partir do fato dele ser um grande e gravíssimo deturpador da Doutrina Espírita.
Como uma versão brasileira de J. B. Roustaing, Chico Xavier difundiu, sob o rótulo de "espiritismo", conceitos extremamente contrários aos que foram originalmente difundidos pela obra de Allan Kardec. O caso aberrante de uma doutrina que renega os ensinamentos de seu precursor já é um atestado de desonestidade doutrinária, que faz desmerecer a alta reputação que o "espiritismo" brasileiro possui oficialmente.
Chico Xavier começou causando muitas confusões. Poeta mediano, ele preferiu investir numa suposta prosa e poética que se dizia "de autores já mortos", trazidas por alegada "comunicação espiritual".
Isso se constituiu numa farsa, na qual Chico Xavier evidentemente não participou sozinho, mas contou com uma multidão de editores e consultores literários, a serviço da FEB e sob a orientação do presidente da entidade, Antônio Wantuil de Freitas.
A farsa pode ser facilmente diagnosticada pelas irregularidades extremas de estilo, identificadas até mesmo em pequenos trechos, às vezes, mas, em outras, evidenciada por textos inteiros. Nomes como Auta de Souza e Humberto de Campos eram creditados em "obras espirituais" que nem de longe lembravam seus estilos originais. Soavam como os fakes da Internet soam hoje.
Só os enganos que Chico Xavier, que personificava o mito mineiro do "come quieto" (referência à imagem dos mineiros como "astuciosos") e, por isso, foi uma espécie de Aécio Neves religioso no seu tempo (o próprio Aécio manifestou profunda admiração pelo "médium"), no qual "fazia das suas" que nunca era punido, já desmerecem tanta idolatria, que chega ao nível da emotividade cega e viciada, uma espécie de masturbação com os olhos pela busca da comoção fácil.
Chico Xavier cometeu muitos males, além de deturpar a Doutrina Espírita e criar psicografias fake. Cometeu juízos de valor cruéis contra pessoas humildes que eram vítimas de infortúnios, acusadas de terem sido "romanos sanguinários". O juízo de valor, ao mencionar encarnação muito distante, era feito à revelia de qualquer teoria da Ciência Espírita e indicava, também, falta de misericórdia e descumprimento do ensinamento kardeciano do "esquecimento de vidas passadas".
O anti-médium - assim considerado por romper com o status de intermediário próprio do ofício de médium - de Pedro Leopoldo e Uberaba também cometeu outras crueldades: expôs demais as tragédias familiares, prolongando-as e alimentando o sensacionalismo midiático, combinado ao fanatismo religioso.
Ele evitou que pessoas encarassem a dor da perda de entes queridos na privacidade e num luto rápido, e, o que é mais grave, ainda enviou mensagens "espirituais" que soavam fake, produzidas por diversas fontes de pesquisa e interpretação, como a "leitura fria", alegando serem "mensagens espirituais" dos entes queridos, um trote comparável ao dos sequestradores que imitam as vozes de suas vítimas em sinistros estelionatos telefônicos.
O "médium" também difundiu valores ultraconservadores, vários deles próprios da Teologia do Sofrimento, corrente medieval do Catolicismo que fazia apologia da desgraça humana como meio de obter rapidamente as "bênçãos futuras". Com isso, criava mitos perigosos como "inimigo de si mesmo", que contraditoriamente incitava os sofredores a cometer suicídio, prática reprovada pelo próprio "espiritismo" brasileiro.
Há também trechos dos livros de Xavier que sugerem preconceitos sociais graves, como o racismo (quando, em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, índios e negros eram classificados como "selvagens") e o machismo ("o verdadeiro feminismo é feito dentro do Lar e na prece", ironizava Emmanuel), além do juízo de valor contra pessoas pobres (Cartas e Crônicas).
Não bastasse isso, Chico Xavier pedia para o povo, no auge da ditadura militar, "orar em favor dos militares", que construíam um "reino de amor" sob o sangue de muitos inocentes. E o anti-médium mineiro defendia a censura, ao dizer que "é no silêncio que Deus ouve os apelos dos sofredores".
Obscurantista, Xavier contrariava o legado kardeciano reprovando o questionamento. Odiava ver pessoas reclamando. Mas, quando lhe convinha, ele reclamava, também, como quando chamou de "bobagem da grossa" a desconfiança dos amigos do falecido engenheiro Jair Presente diante de irregularidades em supostas psicografias.
Xavier foi um mito ultraconservador que conseguiu ser empurrado até para a aceitação, um tanto ingênua, de pessoas progressistas, iludidas com a "boa imagem" de seu mito, aliando paradigmas de religiosidade muito retrógrados, mas ainda vistos como tradições a serem mantidas pelos brasileiros.
MITO DO "MÉDIUM BONDOSO" FOI PARA CONCORRER COM NEOPENTECOSTAIS
O que poucos percebem é que o mito de Chico Xavier mais conhecido hoje, o de suposto "símbolo de bondade e amor ao próximo", foi construído mediante uma necessidade de relançar o mito, antes associado a uma paranormalidade confusa e sensacionalista.
Deixou-se de enfatizar o suposto contato com os "literatos do além" e eliminou-se o envolvimento em supostas façanhas como psicofonia e materialização. Sem o tino sensacionalista de Wantuil, Chico Xavier, um mito sempre fabricado à maneira de um popstar, originalmente para enriquecer a FEB com as vendas de livros, sua imagem tinha que ser reciclada para um perfil mais clean, que permitisse a adoração religiosa sem causar tantas confusões.
E aí temos o seguinte contexto, em meados dos anos 1970: convulsões sociais com a crise da ditadura militar, ascensão de pastores eletrônicos (Edir Macedo e R. R. Soares) e desejo arrivista da Rede Globo em estabelecer um monopólio midiático. No "espiritismo", com a morte de Wantuil, veio a "fase dúbia" no qual os "espíritas" professavam um "roustanguismo sem Roustaing e com Kardec".
A FEB e a Rede Globo romperam com a animosidade e iniciaram um casamento feliz. Chico Xavier virou queridinho da Globo e seu mito foi reconstruído a partir de uma fonte internacionalmente conhecida: o documentário sobre Madre Teresa de Calcutá, Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), de Malcolm Muggeridge, produzido pela BBC em 1969.
Muggeridge, católico de direita, reconstruiu o mito de Madre Teresa de Calcutá - depois acusada de deixar seus assistidos em condições degradantes - como um "símbolo da caridade plena", criando um roteiro digno de novela televisiva, com a "filantropa" posando com bebês no colo e falando frases de efeito que os incautos pensam ser "filosofia".
Todo esse roteiro foi feito para Chico Xavier através de noticiários da Globo, como o Fantástico e o Globo Repórter. Foi um longo trabalho desenvolvido a partir dos anos 1970, o que comprova que a concepção que os brasileiros têm de "doutrina espírita" vem da visão deturpada que a FEB desenvolveu e que foi lapidada pelo discurso da Rede Globo, rede tão poderosa que exerce influência até em parte de seus detratores, que lhe herdam até os hábitos e as formas de ver o mundo.
O mito "ecumênico" de Chico Xavier, associado a suposta filantropia (na verdade Assistencialismo, a caridade que não se interessa em combater os problemas sociais, mas antes minimizá-los sem mexer nos privilégios das elites, as mesmas que premiam os "médiuns" com medalhas e condecorações, tais como ditadores, tiranos e corruptos fizeram com Madre Teresa), foi construído pela Globo para evitar que concorrentes criassem seitas religiosas com forte aparato midiático.
A Globo não conseguiu evitar que a Rede Record, cuja cabeça-de-rede, a TV Record de São Paulo, é remanescente das primeiras emissoras de TV surgidas no Brasil, fosse adquirida por Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. Mas teve de se consolar por ter conseguido transformar Chico Xavier numa "unanimidade", algo que nos faz lembrar de Nelson Rodrigues, quando certa vez associou a ideia de "unanimidade" a uma estupidez.
Faz sentido. Afinal, a adoração a Chico Xavier revela uma sociedade subserviente às paixões religiosas, com medo de esclarecer sobre a realidade nem sempre agradável da vida, e medo sobretudo de romper com paradigmas conservadores.
Reunindo paradigmas de religiosidade e moralismo bastante conservadores, Chico Xavier virou "santo" pelas "bênçãos" da Globo, e se os brasileiros adoram o "médium", eles expressam um conservadorismo que nem sempre se encorajam a assumir, tão apegados à pretensões e dissimulações que ocultam o lado beato e reacionário de muitos brasileiros, mesmo os ditos "modernos".
sexta-feira, 30 de junho de 2017
quinta-feira, 29 de junho de 2017
Grupo religioso se reúne em Brasília para vigílias e orações
Na noite de ontem, um grupo de vinte religiosos se reuniu em Brasília para fazer uma "vigília". A reunião ocorre toda terça-feira e o grupo, aparentemente sem fins ideológicos nem bandeiras, tem como único objetivo "pedir bênçãos para o Brasil". O grupo reúne católicos, evangélicos e "espíritas".
A coisa, a princípio, parece bem intencionada. Pessoas dotadas com alguma esperança, se reunindo sem se preocuparem com desavenças pessoais, para pedir que vibrações positivas cerquem o Brasil e permitam criar energias psíquicas para superar a crise. Seria muito bom se não fosse um detalhe: as religiões costumam também participar em movimentos que pedem soluções golpistas.
Segundo o historiador Jorge Ferreira, até "espíritas kardecistas" participaram da Marcha da Família Unida com Deus pela Democracia, movimento que impulsionou o golpe civil-militar de 1964. Recentemente, as manifestações pelo "Fora Dilma" tiveram adesão sobretudo de seitas neopentecostais e o aval do "movimento espírita".
Quem não se lembra de nomes como Janaína Pascoal, a juíza que participou da elaboração do pedido de impeachment de Dilma Rousseff? E nomes como Marco Feliciano e Jair Bolsonaro, comprometidos com causas moralistas retrógradas? E o ator Alexandre Frota, depois da ascensão de Michel Temer ao poder, sendo divulgador da Escola Sem Partido? Todos eles são evangélicos.
E o "movimento espírita"? Robson Pinheiro escreveu "psicografias" atribuindo forças astrais à suposta corrupção do PT. Robson e o "Correio Espírita" chegaram a atribuir "começo de uma era" para manifestações de "coxinhas" vestidos com a camiseta da (corrupta) CBF que, em parte, queriam até "intervenção militar" (eufemismo para um novo golpe militar).
Essas manifestações, nas quais se viu jovens fazendo grosseria, baixando as bermudas para mostrar seus glúteos nus para ridicularizar a presidenta Dilma, além de cartazes com símbolos nazistas e até senhoras descansando com o cartaz "Por que não mataram todos em 64?", foram definidas como "momentos de despertar político da juventude" e há quem tenha suposto que o Brasil estava inaugurando um "período de regeneração".
Os católicos é que parecem mais moderados, tanto pelo conservadorismo mais ameno de alguns setores e pelo progressismo de outros setores. Eles passaram os "espíritas" para trás em termos de visão progressista e a Igreja Católica hoje assumiu uma abordagem mais moderna, que os "espíritas" nem de longe conseguem mais fazer.
Já o "espiritismo" brasileiro parece acompanhar, à sua maneira, o ultraconservadorismo dos neopentecostais. Se estes pretendem retroceder o Brasil aos padrões moralistas do tempo de Moisés, os "espíritas" sonham em ver o Brasil num contexto sócio-religioso e místico dos tempos do imperador Constantino.
Na prática o "espiritismo" está se formatando para ser a versão atualizada do velho Catolicismo jesuíta português, que vigorou no Brasil no período colonial, e que entrou em declínio depois que o então primeiro-ministro português Marquês do Pombal, adotando um rígido corte de gastos para fazer Portugal recuperar-se de um violento terremoto, decidiu cortar as atividades da Companhia de Jesus na então colônia sul-americana.
Daí que há uma certa incoerência em muitas atividades "espíritas", na verdade com forte ranço católico, como a obsessão por preces. A religião abraçou a causa medieval da Teologia do Sofrimento e o governo Temer contava com uma agenda política bem ao gosto dos "espíritas", como as reformas trabalhista e previdenciária e a Escola Sem Partido, cujo projeto não difere muito do que já é adotado na Mansão do Caminho de Divaldo Franco.
Deste modo, a religião que pede para as pessoas aceitarem o sofrimento - como fazia Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier - e definiu o momento atual como "início de regeneração" deveria se repensar antes de apelar para preces por um país melhor. Afinal, o que o país sofre hoje em provações está muito de acordo com o velho moralismo adotado pelos "espíritas".
quarta-feira, 28 de junho de 2017
Sócrates e Jesus criticaram os falsos sábios de seu tempo
O Brasil está muito atrasado. Aqui as pessoas atribuem os falsos sábios como "verdadeiros" porque passam "mensagens amorosas" ou posam ao lado de crianças pobres. Ah, como é fácil mistificar e manipular as mentes das pessoas com os apelos à emoção (Ad Passiones)...
Quem conhece a trajetória do filósofo grego Sócrates e do ativista da Judeia, Jesus de Nazaré, sabe que os dois sempre contestaram os pseudo-sábios, marcados pela pretensão de terem respostas para tudo e da pose de grandiloquente erudição.
Sócrates se passava por ignorante não por um capricho religioso de submissão e suposta humildade, mas como um jogo irônico de fingir que exalta a sabedoria do interlocutor para depois desarmá-lo com argumentação habilidosa.
A frase "tudo que sei é que nada sei" é tão badalada e até apreciada por oportunistas e pedantes de todo tipo, ou de pessoas marcadas pela boa-fé da pretensa sabedoria, mas este sentido deturpado mais parece um gancho para mistificadores e oportunistas do que um atestado de simplicidade e realismo.
Jesus de Nazaré falava dos "sacerdotes" e dos "escribas", que fingiam humildade perante seus mestres religiosos, mas se gabavam em sentar nos primeiros bancos de seus templos, orando com falsa modéstia, enquanto falavam ou escreviam belas palavras, textos enfeitados, ou faziam oratórias em tons dramáticos, alguns se passando por "profetas".
Eram críticas duras que demonstravam os defeitos dos falsos sábios: textos empolados, oratória dramática, linguagem rebuscada, pretensão de ter respostas para tudo, ambição em possuir a verdade, fingir humildade a seus mestres religiosos, adotar extravagância nas poses e gestos.
As pessoas hoje em dia costumam enxergar o argueiro nos olhos dos oportunistas do passado, mas se recusam a ver as traves nos olhos dos oportunistas do presente. E o quanto os "médiuns espíritas" personificam os pseudo-sábios dos dias atuais, sem que, no entanto, despertassem qualquer tipo de desconfiança.
Embora a imagem dos "médiuns espíritas" agradasse muitas e muitas pessoas - é claro, à custa de muito Ad Passiones, tipo de falácia relacionado a todo tipo de apelo emocional - , eles se encaixam perfeitamente nas caraterísticas dos pseudo-sábios dos tempos de Sócrates e Jesus.
Como não pensar, por exemplo, no Divaldo Franco de poses grandiloquentes, oratória dramática, textos rebuscados, ideias prolixas e conceitos mistificadores? Dói para muitos saber que um ídolo religioso como ele pode estar associado à ideia de pseudo-sábio, o que faz muitas pessoas caírem da cama depois de sonharem com os "médiuns" cercados de criancinhas dançando ciranda.
E Francisco Cândido Xavier? A ignorância de Chico Xavier nem de longe pode ser comparada com a do filósofo grego. Afinal, não se trata da ignorância como modéstia contra a erudição acadêmica e nem um recurso irônico para desmascarar os falsos sábios. Até porque, neste caso, é Chico Xavier que é o falso sábio, e se ele foi ignorante em algo, foi de Espiritismo, porque ele nunca teve real interesse em conhecer profunda e honestamente o legado de Allan Kardec.
Dói para muitos brasileiros, tomados da emotividade cega que os mantém na zona do conforto da fé mistificadora e do entorpecimento das palavras belas e imagens dóceis, ver seus ídolos sendo definidos por outrem como falsos sábios, daí tantas resistências e revoltas, não raro com um ódio e uma irritação impróprios para quem se julga portador de elevadas vibrações.
Mas a verdade é que os "médiuns" são, sim, falsos sábios. Eles seguem a orientação igrejeira de Jean-Baptiste Roustaing, o que diz muito quanto ao fato de estarem afastados dos postulados espíritas originais. Nem todos que estufam o peito para dizer "Kardec, Kardec" serão considerados espíritas autênticos, e é certo que poucos que evoquem o nome do professor lionês sejam dignos de tal condição.
Os oportunistas do passado eram criticados por Jesus e Sócrates, mas os similares atuais dos falsos sábios tentam avançar na sua esperteza exaltando justamente quem reprovava os seus semelhantes de outrora. A esperteza mostra mil armadilhas e ser falso significa, acima de tudo, ter a pretensão de parecer verdadeiro, sem sê-lo de fato. Quantas armadilhas são colocadas num cenário que parece um jardim de flores...
terça-feira, 27 de junho de 2017
Unidos pela deturpação
O "espiritismo" brasileiro, nos últimos 40 anos, tentou forjar uma estabilidade, na qual a antiga supremacia dos "místicos" tornou-se mais dissimulada e menos centralizada. O alto clero da FEB, com a morte do ex-presidente Antônio Wantuil de Freitas, se isolava enquanto os astros do "movimento espírita" passavam a pregar um "roustanguismo com Kardec".
O discurso de "fraternidade" era apenas um pano de fundo para que os deturpadores do "movimento espírita", agora com poder maior para as federações regionais, construíssem sua "torre de Babel" apenas abafando divergências severas. Todos, porém, com um propósito comum: trair a Doutrina Espírita com a deturpação igrejeira, mas sempre dando a falsa impressão de que cumprem "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" à Codificação.
A "fraternidade da deturpação" tem suas divergências aqui e ali. Uns admitindo "virtudes" na obra de J. B. Roustaing. Outros vendo seu nome como um palavrão. Uns admitindo a "profecia da data-limite". Outros a renegando completamente. Uns inserindo até Astrologia no Espiritismo. Outros falando em masturbação e ato sexual em "colônias espirituais". Outros definindo a homossexualidade como "doença", outros como "mera confusão emocional". Uns admitindo um tributo dos "espíritas" ao Vaticano. Outros dizendo que isso é uma leviandade.
Tudo isso seria apenas uma questão de liberdade e diversidade de opiniões e escolhas se não fosse a alegação destes mesmos "espíritas" de supostamente professarem "um único e exato tipo de Espiritismo, o de Allan Kardec". Ver que tal postura acoberta uma série de hipocrisias é bastante constrangedor, e deixamos que o legado de Kardec seja transformado num "samba do crioulo doido", em nome da "caridade" e da "fraternidade".
Qualquer farsa cometida pelos "espíritas" é logo defendida com imagens de crianças pobres, destas que se obtém do acervo do Getty Images, Stock Photos e outros serviços de imagens. A "carteirada filantrópica" do "movimento espírita" é sempre servida como desculpa para se admitir qualquer tipo de deturpação, como se distorcer os ensinamentos de Allan Kardec ao sabor do igrejismo fosse válido "pelo pão dos pobres".
Para piorar, existem aqueles que criticam a "vaticanização" mas a praticam com gosto e exaltam os "vaticanizadores" do Espiritismo. De que adianta falar mal do "espiritismo à moda da casa", dos "múltiplos espiritismos", da "vaticanização", dos "Constantinos espíritas", para depois exaltar como "exemplo de sabedorias" obras igrejistas como aquele novo romance da autora "espírita" cujo enredo é do mais abundante moralismo igrejista?
Quantos "espíritas" falam mal da Idade Média, dizem que o Catolicismo medieval é "página virada", mas defendem ideias próprias do Catolicismo jesuíta que vigorou no Brasil-colônia e chamam para "proteger" as "casas espíritas" as almas dos mais diversos membros da Companhia de Jesus? E quantos críticos da "vaticanização" se esquecem que os próprios Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco são os maiores "vaticanizadores" de toda a Doutrina Espírita?
Os próprios Chico Xavier e Divaldo Franco, em seus livros, tentavam dar a falsa impressão de que não compartilham com o "superado" e "decadente" medievalismo católico. Mas isso foi conversa para boi dormir, porque tais obras são repletas do mais profundo e explícito medievalismo católico, com as mais piegas exaltações e defesas de dogmas católicos e expressões explícitas da mística própria do velho Catolicismo Apostólico Romano.
Da parte de Xavier, se via o redivivo padre Emmanuel da Nóbrega falando, de maneira hipócrita, do fim do Catolicismo medieval e das "tristes lembranças" daqueles tempos, fingindo defender irrestritamente o novo advento da Era do Conhecimento, porque Emmanuel sempre se expressou um severo opositor ao pensamento crítico e questionador, quando este se encoraja a contestar a validade dos velhos dogmas católicos ou dos dogmas neocatólicos inventados pelo "espiritismo", como a predestinação do Brasil como "pátria do Evangelho".
Quantos "vaticanizadores" do Espiritismo se protegem pela capa dos "fiéis discípulos do legado de Kardec". E quanta "vaticanização" é transmitida por baixo dos panos, sob a promessa de "respeitar rigorosamente as bases kardecianas", não raro com desmedido entusiasmo. Desta forma, os deturpadores querem que confundamos liberdade religiosa com confusão e contradições graves. O que tem de lobo querendo respeitar rigorosamente o rebanho...
segunda-feira, 26 de junho de 2017
Provas que os "médiuns" brasileiros não podem ser filósofos
FILÓSOFOS OFERECEM PERGUNTAS, ENQUANTO "MÉDIUNS ESPÍRITAS" SE SUPÕEM POSSUIR RESPOSTAS PARA TUDO.
Muitas pessoas, tomadas pela emotividade cega e pelas paixões religiosas, não conseguem discernir as coisas e contraem a mania de certos preciosismos. Uma delas é atribuir aos "médiuns" brasileiros a errônea reputação de "filósofos", uma grande bobagem sem pé nem cabeça.
A atribuição se dá sob desculpas bastante falaciosas. Só porque filosofia quer dizer "amiga da verdade" e aos "médiuns" brasileiros se associa a suposta imagem de superioridade moral e ao pretenso intelectualismo, as pessoas tendem a achar que eles são "verdadeiros filósofos" por causa da suposta inclinação à "verdade" e à "sabedoria".
Essas pessoas nunca leram um livro filosófico e pensam que filosofia é um punhado de frases curtas que se joga nas redes sociais como se fosse "lição de vida", uma prática confusa que pode alternar depoimentos coerentes de intelectuais autênticos como pregações moralistas ou mistificadoras de ídolos religiosos.
Essa atribuição de "filosofia" nada tem de racional, mas é típica do pretensiosismo preciosista de muitos brasileiros, que sempre arrumam uma desculpa "nobre" para seus caprichos e interesses individuais.
Por exemplo, se gostam de tal cantor pop, não é porque suas músicas agradam, mas porque ele é "um grande poeta", mesmo quando suas letras são verdadeiras bobagens. Ficam superestimando o astro, quando o que ele faz não é um amontoado de sucessos comerciais interpretados à custa de muita coreografia e alimentados por factoides de sua vida pessoal.
Os ídolos religiosos são beneficiados por esse pretensiosismo, no qual a emotividade cega se julga substituta da razão. Mas ignora, no caso dos "médiuns espíritas" brasileiros, a grande incoerência que é atribuí-los como "filósofos", que não é difícil de ser diagnosticada por quem entende da verdadeira Filosofia. Vejamos:
1) OS "MÉDIUNS" SE PRETENDEM A TER A RESPOSTA PRONTA PARA TUDO - Os verdadeiros filósofos não têm essa pretensão. O pensamento autenticamente filosófico não tem a pretensão de mostrar respostas, mas questões, procurando instigar o pensamento questionador, enquanto os "médiuns espíritas" têm por tarefa promover a conformação sem estimular o raciocínio crítico das pessoas.
2) OS "MÉDIUNS" EXPRESSAM IDEIAS MISTIFICADORAS - Por mais que um raciocínio filosófico apresente equívocos, seu propósito original é apresentar uma linha coerente de apresentação de ideias. Mas aí os seguidores dos "médiuns espíritas" vão dizer que o que estes falam é "claro, simples e coerente" e "dotado de muita lógica", mas essa alegação, além de ser mais emotiva que racional, revela uma falta de atenção. Se perguntarmos a esses seguidores sobre que razões eles têm, eles responderão de maneira confusa e expressarão sua constrangedora ignorância.
3) OS TEXTOS DOS "MÉDIUNS" SÃO PROLIXOS E REBUSCADOS - Não é próprio do filósofo autêntico o embelezamento de textos, mas o desenvolvimento de ideias. Em muitos casos, seus textos podem até serem difíceis de ler mas eles não tendem a serem prolixos ou rebuscados. Já os textos dos "médiuns" valem mais pelo adornamento de palavras, nas quais o pretexto das "mensagens de amor" e "lições de vida" só servem para dissimular ideias confusas e tentativas vãs de argumentação que divagam demais para apresentar ideias, havendo o risco constante de contradição e falta de lógica.
Com isso, facilmente se questiona a atribuição dos seguidores dos "médiuns" de que seus ídolos são "verdadeiros filósofos". Nem as alegações de "elevada condição moral" justificam, porque os três equívocos apresentados já comprovam que os "médiuns" não se comprometem com a busca da verdade, mas antes a posse de uma pretensa verdade à qual eles acham que não pode ser analisada.
Muitas pessoas, tomadas pela emotividade cega e pelas paixões religiosas, não conseguem discernir as coisas e contraem a mania de certos preciosismos. Uma delas é atribuir aos "médiuns" brasileiros a errônea reputação de "filósofos", uma grande bobagem sem pé nem cabeça.
A atribuição se dá sob desculpas bastante falaciosas. Só porque filosofia quer dizer "amiga da verdade" e aos "médiuns" brasileiros se associa a suposta imagem de superioridade moral e ao pretenso intelectualismo, as pessoas tendem a achar que eles são "verdadeiros filósofos" por causa da suposta inclinação à "verdade" e à "sabedoria".
Essas pessoas nunca leram um livro filosófico e pensam que filosofia é um punhado de frases curtas que se joga nas redes sociais como se fosse "lição de vida", uma prática confusa que pode alternar depoimentos coerentes de intelectuais autênticos como pregações moralistas ou mistificadoras de ídolos religiosos.
Essa atribuição de "filosofia" nada tem de racional, mas é típica do pretensiosismo preciosista de muitos brasileiros, que sempre arrumam uma desculpa "nobre" para seus caprichos e interesses individuais.
Por exemplo, se gostam de tal cantor pop, não é porque suas músicas agradam, mas porque ele é "um grande poeta", mesmo quando suas letras são verdadeiras bobagens. Ficam superestimando o astro, quando o que ele faz não é um amontoado de sucessos comerciais interpretados à custa de muita coreografia e alimentados por factoides de sua vida pessoal.
Os ídolos religiosos são beneficiados por esse pretensiosismo, no qual a emotividade cega se julga substituta da razão. Mas ignora, no caso dos "médiuns espíritas" brasileiros, a grande incoerência que é atribuí-los como "filósofos", que não é difícil de ser diagnosticada por quem entende da verdadeira Filosofia. Vejamos:
1) OS "MÉDIUNS" SE PRETENDEM A TER A RESPOSTA PRONTA PARA TUDO - Os verdadeiros filósofos não têm essa pretensão. O pensamento autenticamente filosófico não tem a pretensão de mostrar respostas, mas questões, procurando instigar o pensamento questionador, enquanto os "médiuns espíritas" têm por tarefa promover a conformação sem estimular o raciocínio crítico das pessoas.
2) OS "MÉDIUNS" EXPRESSAM IDEIAS MISTIFICADORAS - Por mais que um raciocínio filosófico apresente equívocos, seu propósito original é apresentar uma linha coerente de apresentação de ideias. Mas aí os seguidores dos "médiuns espíritas" vão dizer que o que estes falam é "claro, simples e coerente" e "dotado de muita lógica", mas essa alegação, além de ser mais emotiva que racional, revela uma falta de atenção. Se perguntarmos a esses seguidores sobre que razões eles têm, eles responderão de maneira confusa e expressarão sua constrangedora ignorância.
3) OS TEXTOS DOS "MÉDIUNS" SÃO PROLIXOS E REBUSCADOS - Não é próprio do filósofo autêntico o embelezamento de textos, mas o desenvolvimento de ideias. Em muitos casos, seus textos podem até serem difíceis de ler mas eles não tendem a serem prolixos ou rebuscados. Já os textos dos "médiuns" valem mais pelo adornamento de palavras, nas quais o pretexto das "mensagens de amor" e "lições de vida" só servem para dissimular ideias confusas e tentativas vãs de argumentação que divagam demais para apresentar ideias, havendo o risco constante de contradição e falta de lógica.
Com isso, facilmente se questiona a atribuição dos seguidores dos "médiuns" de que seus ídolos são "verdadeiros filósofos". Nem as alegações de "elevada condição moral" justificam, porque os três equívocos apresentados já comprovam que os "médiuns" não se comprometem com a busca da verdade, mas antes a posse de uma pretensa verdade à qual eles acham que não pode ser analisada.
domingo, 25 de junho de 2017
"Espiritismo" e sua falta da verdadeira autocrítica
Diante de tantos deslizes e tantas deturpações, o "espiritismo" brasileiro tenta argumentar que "erra muito, sim" e que a deturpação foi um caminho de tantos equívocos. Mas diz isso visando tão somente evitar sofrer os efeitos de suas más escolhas.
É suficiente assumir os erros? Não. Tantos são os que cometem erros gravíssimos e até crimes hediondos com a consciência de que optaram pela má escolha. E tantos os que cometem erros de maneira convicta fazem vitimismo quando são alvos dos prejuízos causados.
O "espiritismo" brasileiro cometeu erros gravíssimos e se afastou completamente dos ensinamentos de Allan Kardec. Se perdeu no caminho do pensamento de J. B. Roustaing e depois fez de tudo para dar a falsa impressão de que é "o mesmo Espiritismo de Kardec só que com as tradições religiosas brasileiras", uma desculpa sem pé nem cabeça.
Tentam reparar erros aqui e ali, mas isso é insuficiente, porque a prevalência da "catolicização" do "espiritismo" se tornou extrema. Os "espíritas" agem com muita hipocrisia. Numa primeira ocasião, abraçam o roustanguismo e a "vaticanização" com muito entusiasmo. Na ocasião seguinte, passam a ter vergonha das posturas que com tanta convicção defenderam.
Evidentemente, todo mundo erra. Mas há quem erra com mais gravidade que outros, errando de uma maneira irresponsável e intransigente. E o "espiritismo" cometeu traições doutrinárias graves ao pensamento de Kardec, defendendo coisas que a Ciência Espírita define como absurdas, como supor mundos espirituais sem realizar um estudo sequer e concebendo tudo pelos caprichos materialistas.
Quantas obras igrejeiras de moralismo tão mofado foram publicadas, que se chocam com a sobriedade do pensamento kardeciano. Quanto moralismo retrógrado feito, defesas da Teologia do Sofrimento, ideias "emprestadas" da Astrologia e do ocultismo em geral, e tantas e tantas analogias à liturgia católica, como evocação de padres jesuítas e freiras como "protetores" de "casas espíritas".
O problema é que o "espiritismo" fez tudo isso com gosto, e fez coisas desonestas como a mediunidade fake, que destoa das personalidades originais dos mortos alegados e era feita visando o mershandising religioso. São atitudes equivocadas que deveriam ter sido evitadas, mas os supostos "médiuns" estavam em busca de autopromoção, com falsa paranormalidade e, depois, pretenso ativismo e pseudo-intelectualismo.
Os efeitos causados por isso não são pequenos, e a deturpação da Doutrina Espírita não foi feita por acidente. Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco não teriam deturpado o Espiritismo por boa-fé, fizeram tudo de propósito, com gosto e de maneira mais convicta, insistente e reincidente.
Isso porque Chico Xavier e Divaldo Franco produziram atividades de grande repercussão, grande alcance de público e feitas durante muito tempo. 400 livros de Chico, outras centenas de Divaldo, os ciclos de palestras deste último, ao redor do mundo, para plateias cheias e pessoas influentes, o igrejismo de ambos não pode ser acidental, e eles claramente contrariam frontalmente o pensamento kardeciano, sendo portanto deturpadores da pior espécie.
Mas há, ainda, quem queira aproveitá-los na recuperação das bases doutrinárias. Como? Pela aparente filantropia, que, sabemos, não passa de Assistencialismo, mera caridade paliativa e pontual que pouco ajuda a população carente e mais serve para a propaganda pessoal dos "médiuns"?
Não. E o "espiritismo" brasileiro se encontra nesse impasse, e segue o seu pior caminho, que é fingir o mais autêntico apego a Kardec. Talvez se os "espíritas" brasileiros assumirem que romperam com Kardec e preferem o roustanguismo, seria menos mal, mas o Brasil vive de arrivismos e pretensões. Mesmo quem está na retaguarda faz de tudo para parecer estar na vanguarda.
E aí vemos que teoria e prática se desencontram. Os "espíritas", agora afeitos a bajular Herculano Pires, Deolindo Amorim e o que vier, falam tanto no "respeito rigoroso a Allan Kardec", mas, na prática, cometem traições muitíssimo graves, desenvolvendo um clone fajuto e mais antiquado da Igreja Católica. Se os "espíritas" assumem seus erros, eles deveriam pensar realmente o que querem na vida, em vez de insistirem nesse vergonhoso "roustanguismo com Kardec".
sábado, 24 de junho de 2017
"Caridade espírita" quase nada ajudou o Brasil
Principal argumento para blindar a deturpação da Doutrina Espírita e proteger a reputação dos "médiuns" que vivem do culto à personalidade, a "caridade espírita" não faz jus a sua fama de "transformadora" e "revolucionária" que seus adeptos tanto alardeiam por aí.
A "caridade" praticada pelo "espiritismo" brasileiro se limita a tarefas pontuais, dentro das definições do Assistencialismo. Até aí, nada demais, diante de "casas espíritas" que fazem projetos assistenciais e acolhem um grupo de pessoas pobres. O problema é o fato de que a medida é usada para proteger os deturpadores e tentar abafar qualquer questionamento, além de servir para a propaganda e promoção pessoal de seus ídolos religiosos, sobretudo "médiuns".
Para começar, nem tudo que é considerado oficialmente "caridade" no "espiritismo" brasileiro deve ser considerada como tal. As "cartas dos mortos" de Francisco Cândido Xavier, por exemplo, foram um processo pernicioso e perigoso que mistura fraudes com obsessão, além de alimentar o sensacionalismo através da divulgação da grande mídia.
Em primeiro lugar, isto é um ato de obsessão, na qual se evoca o nome do falecido sem muita necessidade, dentro de um clima de emotividade ao mesmo tempo piegas e mórbida, e ignorando se o espírito do falecido realmente está ou não disponível para trazer tal mensagem. Em certos casos, mas poucos, talvez estivesse disponível, não fosse o fato do "médium" Chico Xavier produzir mensagens fake, da mente do próprio mineiro.
A fraude foi diagnosticada por diversas fontes, e se torna, para desespero dos chiquistas, verídica. Há o estranho aspecto de muitas mensagens começarem com "Querida mamãe" e apresentarem propagandismo religioso explícito. Além do mais, muitas das mensagens apresentam claramente problemas de caráter pessoal do respectivo autor, como assinaturas diferentes das originais e aspectos de personalidade que contradizem com o que a respectiva pessoa foi em vida.
É a mesma queixa que se dá em relação aos autores famosos, quando Humberto de Campos, Olavo Bilac, Auta de Souza, Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos e outros "aparecem" nos livros de Chico Xavier com graves falhas quanto aos respectivos estilos e personalidades, praticamente refletindo, invariavelmente, a mesma linguagem e o mesmo pensamento pessoal do "médium", trazendo fortes indícios de terem sido obras fake.
As "mensagens dos mortos" não podem ser consideradas "caridade" porque acabam prolongando as tragédias humanas. Em vez das pessoas poderem encarar as tragédias de seus entes queridos no sossego da privacidade e num luto que poderia ser mais curto, a situação se prolonga e se complica com a exploração pitoresca e sensacionalista dessas supostas mensagens e pelo fato delas apresentarem indícios de fraudes, alimentados pela "leitura fria".
Para quem não sabe, a "leitura fria" é um método psicológico no qual o entrevistador colhe informações do entrevistado por meio de uma conversa em tom intimista. Com isso, o entrevistador não colhe apenas as informações que são ditadas pelo entrevistado, mas colhe também outras, mais sutis ou subliminares, que são trazidas pelo modo com que as pessoas falam ou reagem a respeito de alguma ideia.
Além disso, há várias denúncias de que as supostas mensagens espirituais seriam compostas de diversas informações colhidas não só da "leitura fria" ou das fontes diversas (imprensa, diários pessoais, conversas informais durante eventos "espíritas"), mas até mesmo dos formulários preenchidos pelos pacientes quando recorrem ao "auxílio fraterno".
Foi aí que veio uma pegadinha, num "centro espírita" em Campo Grande, Rio de Janeiro, em que a atriz Márcia Brito - que foi a Flora Própolis da Escolinha do Professor Raimundo - afirmou ter se impressionado quando a suposta mensagem atribuída ao falecido filho Ryan Brito citou o celular e RG da mãe. Ela se esqueceu que forneceu essas informações quando preencheu o formulário que sempre se faz num "auxílio fraterno".
Há muitas estranhezas nisso, não bastasse o fato do Brasil ter mais "médiuns" do que naturalmente se poderia ter. E também pelo fato dos "médiuns" não terem o caráter intermediário, mas serem sempre as atrações principais, com direito ao culto à personalidade, apesar de toda a roupagem de pretensa humildade. Além disso, os "médiuns", no Brasil, viram dublês de pensadores e de filantropos, garantindo assim seu estrelato.
E isso se reflete também na forma como os "espíritas" veem a "caridade", mais preocupados com o prestígio religioso do "benfeitor espírita", quase sempre um "médium", do que com os resultados alcançados, que, através de minuciosas pesquisas, se revelam bastante medíocres.
As próprias ações apresentam caraterísticas de Assistencialismo e não de Assistência Social. Só para entender a diferença dos dois, Assistência Social é uma caridade que transforma e o Assistencialismo é apenas uma caridade paliativa, que minimiza efeitos drásticos. Numa comparação mais metafórica, a Assistência Social elimina a doença da pobreza, o Assistencialismo apenas alivia suas dores e seus sintomas, sem no entanto trazer a cura.
O que vemos é o aspecto constrangedor de todo o estardalhaço que se faz com a "caridade espírita" diante de tão pouca coisa. As "caravanas" de Chico Xavier foram um espetáculo bastante ostensivo, exibicionista, mas cujo objetivo é muito frouxo: doar roupas e cestas básicas e oferecer sopas, um ato meramente paliativo, só considerado urgente em situações de calamidade pública.
Há muita diferença entre calamidade pública e pobreza extrema, porque na calamidade pública - recentemente houve um trágico incêndio num edifício residencial em Londres, mas a História registra o drama da Segunda Guerra Mundial - as perdas são inevitáveis em situações drásticas, de graves conflitos e catástrofes naturais.
Na pobreza extrema, o que ocorre são distorções sociais consequentes do descaso político, mas próprias de situações de aparente paz social e que podem ser resolvidas não pela caridade paliativa, mas por políticas profundas de emprego, educação e assistência social que instituições não-religiosas, envolvendo sindicatos e entidades de trabalhadores rurais, estão mais preparadas para fazer.
O grande problema dessa "caridade espírita" é que os mantimentos que a população recebe se esgotam em três semanas, se levarmos em conta que muitos pobres compõem famílias numerosas. Enquanto os "espíritas" saem comemorando por meses uma "caridade" feita num fim de semana ou numa efeméride, seus "beneficiados" voltaram à mesma situação carente de antes.
Há também outro problema, que se refere ao estrelato dos "médiuns". Enquanto a Mansão do Caminho não consegue ajudar, ao longo de seus 65 anos de existência, sequer 1% da população de Salvador (em índices nacionais, a coisa seria pior), Divaldo Franco faz turismo para fazer palestras para ricos e poderosos no Primeiro Mundo, promovendo a deturpação e espalhando as traições doutrinárias que o baiano fez ao legado kardeciano.
A realidade em que vive o Brasil não conseguiu superar a pobreza extrema e os moradores de rua só crescem, diante desse quadro político neoconservador que promove a exclusão social através das reformas trabalhista e previdenciária do governo Michel Temer.
Por sua pretensão de grandeza e pelo alto prestígio dos "médiuns", que se autoproclamam "os maiores ativistas sociais" do Brasil, se a "caridade espírita" tivesse realmente funcionado, o Brasil teria atingido níveis impressionantes de desenvolvimento social.
Não adianta os "espíritas" dizerem que a "tarefa é complexa", ou que "houve obstáculos no caminho", "os espíritos inferiores não deixaram" ou coisa parecida, porque a pretensão de grandeza faz com que muitos palestrantes "espíritas" digam, num dia, que "estão vencendo os obstáculos", mas, no dia seguinte, desmentem dizendo que "não foi possível realizar a tarefa".
O que concluímos é que a "caridade espírita", seja de forma quantitativa e qualitativa, só trouxe resultados medíocres. Houve ajuda, mas ela está bem abaixo das expectativas e ela não traz mérito algum à doutrina deturpadora, porque não se pode usar a "caridade" como escudo para trair Allan Kardec, porque usar o "pão dos pobres" como justificativa para a deturpação é rebaixar a "bondade" como um ato permissivo a qualquer leviandade. Isso não é "bondade" verdadeira.
sexta-feira, 23 de junho de 2017
"Espiritismo" e a lógica do marido traíra
MUITOS IMAGINAM QUE ALLAN KARDEC ACEITARIA AS TRAIÇÕES À SUA DOUTRINA.
O "espiritismo" brasileiro é deturpado e movido à desonestidade doutrinária. Comete deslizes por opção, decidindo por más escolhas que, tardiamente, são dissimuladas pela vergonha causada pela repercussão negativa.
Extremamente igrejista, o "espiritismo" brasileiro se rebaixou a um sub-Catolicismo de cunho medieval, um clone mais mofado da Igreja Católica. As desculpas, usadas aqui e ali, atribuídas sobretudo à "afinidade com os ensinamentos cristãos" não procede, porque essa desculpa é meramente de cunho religioso e institucional.
As pessoas aceitam que o "espiritismo" traia Allan Kardec por uma série de desculpas: as "tradições religiosas" brasileiras, a "afinidade com Jesus Cristo", a "proteção espiritual de padres, freiras e santos", e, principalmente, "a opção pela caridade". Neste último item, é impossível evitar a seguinte pergunta: "Como assim"?
Quer dizer, é então possível deturpar o Espiritismo, com sua catolicização sem batina nem ouro mas com suas ambições à parte, pregando moralismo medieval, defendendo a Teologia do Sofrimento que Kardec nunca iria defender, falando bobagens como "combater o inimigo em si mesmo" que só incentivam o suicídio que os "espíritas" tanto condenam, e no entanto uma mera "filantropia" pode ser vista como "atestado de fidelidade a Allan Kardec"?
Imagine um homem que trai a própria mulher com suas aventuras na vida noturna. Ele tenta disfarçar, diz que fará uma "hora extra" de trabalho, e, por isso, não poderá voltar para casa cedo. Enquanto a esposa imagina que o marido está no seu rigor profissional que o obriga a ter mais tempo para a sua atividade, ele se esbalda em orgias ao lado da mulherada, eventualmente levando uma das amantes para o hotel.
Mas esse homem também é conhecido por atividades assistenciais (leia-se Assistencialismo). Doa mantimentos com regularidade, compra um enxoval de roupas para os pobres, entrega tudo isso numa casa de "caridade", joga bola com meninos pobres, compra cobertor que ele coloca em mendigos que estão dormindo na ocasião etc.
Será que estas atividades fariam do homem um marido fiel? Ele traindo a esposa é uma coisa, é um ato desonesto. Não haveria lógica em usar a "caridade" para atribuir a ele uma fidelidade conjugal, porque tal atitude é completamente diferente da infidelidade conjugal. Ele continua sendo um traidor ou, como a linguagem mais corrente, um "traíra".
As pessoas falam que o "espiritismo" brasileiro, só pela roupagem de "caridade", está sendo "fiel aos ensinamentos de Allan Kardec". Só que isso é falso, apesar da referência a uma de suas famosas frases, "fora da caridade não há salvação". Mas isso é muito mal interpretado e usado levianamente para defender a deturpação igrejeira, a "catolicização" que vai contra os conhecimentos trazidos pela Codificação.
Além disso, a "caridade" acaba sendo apenas um artifício para que se legitimem as pregações de ideias contrárias aos postulados kardecianos, e remetem mais a um bom-mocismo que serve para a promoção pessoal dos "médiuns". A "caridade" acaba sendo apenas um pano de fundo para práticas nada honestas do "espiritismo" brasileiro, nos quais até devaneios esotéricos são defendidos como "postulados espíritas", quando eles se encontram inexistentes na Codificação.
A metáfora do marido traíra é, portanto, bastante ilustrativa. Assim como a do político corrupto que não vai virar "honesto" distribuindo cestas básicas em campanhas eleitorais. Daí a necessidade de compreender que a suposta filantropia em nenhum momento inocenta os deturpadores do Espiritismo de seus atos levianos e nem os deixa imunes de sofrer os efeitos dessas más atitudes.
O "espiritismo" brasileiro é deturpado e movido à desonestidade doutrinária. Comete deslizes por opção, decidindo por más escolhas que, tardiamente, são dissimuladas pela vergonha causada pela repercussão negativa.
Extremamente igrejista, o "espiritismo" brasileiro se rebaixou a um sub-Catolicismo de cunho medieval, um clone mais mofado da Igreja Católica. As desculpas, usadas aqui e ali, atribuídas sobretudo à "afinidade com os ensinamentos cristãos" não procede, porque essa desculpa é meramente de cunho religioso e institucional.
As pessoas aceitam que o "espiritismo" traia Allan Kardec por uma série de desculpas: as "tradições religiosas" brasileiras, a "afinidade com Jesus Cristo", a "proteção espiritual de padres, freiras e santos", e, principalmente, "a opção pela caridade". Neste último item, é impossível evitar a seguinte pergunta: "Como assim"?
Quer dizer, é então possível deturpar o Espiritismo, com sua catolicização sem batina nem ouro mas com suas ambições à parte, pregando moralismo medieval, defendendo a Teologia do Sofrimento que Kardec nunca iria defender, falando bobagens como "combater o inimigo em si mesmo" que só incentivam o suicídio que os "espíritas" tanto condenam, e no entanto uma mera "filantropia" pode ser vista como "atestado de fidelidade a Allan Kardec"?
Imagine um homem que trai a própria mulher com suas aventuras na vida noturna. Ele tenta disfarçar, diz que fará uma "hora extra" de trabalho, e, por isso, não poderá voltar para casa cedo. Enquanto a esposa imagina que o marido está no seu rigor profissional que o obriga a ter mais tempo para a sua atividade, ele se esbalda em orgias ao lado da mulherada, eventualmente levando uma das amantes para o hotel.
Mas esse homem também é conhecido por atividades assistenciais (leia-se Assistencialismo). Doa mantimentos com regularidade, compra um enxoval de roupas para os pobres, entrega tudo isso numa casa de "caridade", joga bola com meninos pobres, compra cobertor que ele coloca em mendigos que estão dormindo na ocasião etc.
Será que estas atividades fariam do homem um marido fiel? Ele traindo a esposa é uma coisa, é um ato desonesto. Não haveria lógica em usar a "caridade" para atribuir a ele uma fidelidade conjugal, porque tal atitude é completamente diferente da infidelidade conjugal. Ele continua sendo um traidor ou, como a linguagem mais corrente, um "traíra".
As pessoas falam que o "espiritismo" brasileiro, só pela roupagem de "caridade", está sendo "fiel aos ensinamentos de Allan Kardec". Só que isso é falso, apesar da referência a uma de suas famosas frases, "fora da caridade não há salvação". Mas isso é muito mal interpretado e usado levianamente para defender a deturpação igrejeira, a "catolicização" que vai contra os conhecimentos trazidos pela Codificação.
Além disso, a "caridade" acaba sendo apenas um artifício para que se legitimem as pregações de ideias contrárias aos postulados kardecianos, e remetem mais a um bom-mocismo que serve para a promoção pessoal dos "médiuns". A "caridade" acaba sendo apenas um pano de fundo para práticas nada honestas do "espiritismo" brasileiro, nos quais até devaneios esotéricos são defendidos como "postulados espíritas", quando eles se encontram inexistentes na Codificação.
A metáfora do marido traíra é, portanto, bastante ilustrativa. Assim como a do político corrupto que não vai virar "honesto" distribuindo cestas básicas em campanhas eleitorais. Daí a necessidade de compreender que a suposta filantropia em nenhum momento inocenta os deturpadores do Espiritismo de seus atos levianos e nem os deixa imunes de sofrer os efeitos dessas más atitudes.
quinta-feira, 22 de junho de 2017
"Espiritismo" e a analogia da consulta médica
O seguinte texto pode esclarecer como reagem os "espíritas" brasileiros em relação ao sofrimento humano.
Um paciente no consultório médico faz sua queixa de uma grave doença que lhe causa dores insuportáveis. Ele recorreu ao doutor confiante de que pudesse obter alguma receita ou remédio para cura, e por isso estava ali na sua exposição.
- Eu não consigo andar, de tanta dor!! Não consigo fazer as coisas do dia a dia, mas também tenho dificuldades para descansar. Perco o sono todas as noites, diante da dor que eu sinto, preciso de sua ajuda para me dar um remédio para a cura. Faço todas as recomendações que o senhor lhe der.
O médico, porém, responde com uma pergunta:
- Amigo, eu acho que você deve conviver com a dor. Deve aceitá-la, talvez até gostar dela, e ter paciência o máximo que puder.
- Como assim, doutor? Eu peço a cura e tento me esforçar para aguentar as dores que sinto agora, com a força da minha mente para evitar gemer, e você me diz para eu gostar da dor?
- Meu amigo, isso é um desafio que você tem que ter. Se eu curar você da doença, como é que você irá aprender com a vida?
- Eu estou deixando de fazer até as coisas mais desafiadoras, doutor! Só estou sentindo dor! Até as coisas mais simples estou tendo dificuldade para fazer! Perco sono toda noite!
- Já reservou um tempo para preces?
- Olha, doutor, faço preces o tempo inteiro. Digo sempre para Jesus me ajudar a suportar a dor, mas a coisa é difícil, é angustiante. Nem dá para mentalizar direito, com tanta dor no corpo!
- Amigo, confie e tenha paciência. Aguente a dor. Aguente quantos anos forem necessários. Se morrer, é porque você recebeu o abraço de Deus.
- Mas eu sinto dor. Eu gastei transporte e reservei um tempo para sua consulta, para você dizer para eu aceitar a dor até não se sabe quando, ou talvez até o fim da vida? E acha que vou perder essa vida, na qual eu nasci para alguma missão, assim de bandeja, jogando a vida no lixo?
- Entenda, amado amigo. Sua missão é sentir dor, que irá moldar sua alma. Se eu lhe desse a cura, como você se comportaria com isso?
- Eu me comportaria bem, seria feliz e prestativo, faria todo tipo de atividade, não teria medo de desafios, aprenderia a vida da melhor forma.
- Por que você não faz tudo isso sentindo dor? Veja o céu azul, os pássaros cantando, o rio mantém seu curso mesmo com os gritos de dor e os conflitos das espécies.
- Por que está me dizendo isso?
- Veja bem. Todos sentem os piores flagelos e a Terra gira, as flores nascem, crescem e morrem, os passarinhos voam e os belos ruídos da Natureza ressoam harmoniosamente.
- Mas eu sinto dor. Como é que posso me relaxar para ver o céu azul e os passarinhos? Meu corpo sofre de intensa dor.
- Mude seus pensamentos que a dor logo sai.
- Não dá. É orgânico. Tento mentalizar o fim da dor e ela só se agrava. Só para andar até aqui tive dificuldades, e ainda vim de longe, pegando mais de um ônibus!
- Meu amigo, tenha paciência e fé em si mesmo...
- Não posso. Tentei tudo. Que médico é esse que tem a cura nas mãos mas prefere que eu fique aguentando a dor? Depois eu critico o seu trabalho e o senhor não gosta e sai chorando. Se eu soubesse a sua resposta, nunca teria vindo aqui. Teria ficado em casa convivendo com a dor.
quarta-feira, 21 de junho de 2017
Brasil ainda é um país preconceituoso
CENA DE "BAILE FUNK" DE UNIVERSITÁRIOS EM PERNAMBUCO - PRECONCEITO SE ROMPE COM... PRECONCEITO.
O Brasil é um país ainda marcado de muito preconceito. São preconceitos que existem até em pessoas que se dizem "contra o preconceito", como na recente onda da pretensa cultura popular de mercado, em que uma imagem caricatural do povo pobre era defendida por uma facção de intelectuais e celebridades como se fosse "fim do preconceito", confundindo "romper o preconceito" com aceitação passiva, não raro bem mais preconceituosa que qualquer rejeição.
Na onda conservadora dos últimos dois anos, houve várias demonstrações de preconceitos e humilhações sociais, partindo de cyberbullyings ou de relatos de teor machista, racista e homofóbico. A coisa ficou tão aberrante que vieram fenômenos pitorescos como o "pobre de direita", que defende o privilégio dos ricos, e o "patriota entreguista", capaz de parar para ouvir o Hino Nacional Brasileiro, mas que defende a venda de nossas riquezas para empresas estrangeiras.
Até a imagem da mulher solteira é depreciada, de maneira mais agressiva do que se imagina. A campanha da mídia do entretenimento de promover uma imagem depreciativa da mulher solteira, que só curte noitadas e praia, se "sensualiza" demais e enche o corpo de tatuagem, piercing e silicone, mas que comete gafes quando tenta opinar sobre alguma coisa, é um "convite" para a mulher que quiser se emancipar procurar um marido com algum cargo de liderança ou poder.
A arrogância com que certas mulheres siliconadas se projetam, com um falso feminismo e um suposto empoderamento não esconde que essas mulheres, que são as que mais vendem a imagem pejorativa da "solteiríssima", abusando de seu narcisismo e caindo em contradição quando, num momento, se afirmam serem "solteiras e felizes" e, em outro, soltam bordões como "estou à procura de um príncipe encantado" e "os homens fogem de medo de mim".
A cultura popular é a que mais sofre com a imagem preconceituosa, e não é pela rejeição aos "sucessos do povão", mas à própria expressão de uma imagem caricatural das classes populares, nas quais se legitimam como "qualidades positivas" situações que, em verdade, são bastante negativas para o povo pobre: a prostituição, o comércio de produtos piratas ou contrabandeados, o alcoolismo, a pedofilia, as moradias precárias nas favelas, a ignorância, entre outros.
É chocante que, durante muito tempo, prevaleceu um discurso de "ruptura do preconceito" que recomendava a aceitação dessa imagem degradada do povo pobre. Um discurso que era difundido pela Rede Globo mas foi também inserido na mídia de esquerda. Era, portanto, um discurso hipócrita, mas cujo apelo emotivo fazia atrair o apoio de muita gente e fabricar uma pretensa unanimidade entre as pessoas que se achavam progressistas e modernas.
A hipocrisia era tanta que, se alguém rejeita o "funk" por conhecê-lo profundamente, é "preconceituoso", mas se outro acha o "funk" genial sem ouvir e sem saber do que se trata, ele é tido como "sem preconceitos", quando na verdade o primeiro é que estabeleceu um conceito ao gênero e o último é que estabeleceu uma visão pré-concebida da coisa.
Os movimentos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros ou travestis) também ainda são muito estereotipados. A "mulher sapatão" de comportamento agressivo e o gay estereotipado que se veste de drag queen revela ainda uma visão espetacularizada da coisa, muito diferente da sobriedade que se vê nas relações homoafetivas que acontecem no exterior. Até as passeatas LGBT que ocorrem nas capitais são presas a uma estética "carnavalizada" que não raro compromete a causa.
O preconceito é tanto que poucos imaginam que as mulheres siliconadas que "sensualizam demais" são crias do machismo. O Brasil ainda se apega tão selvagemente ao machismo que muitos ainda têm medo de ver um feminicida conjugal, desses que mataram mulheres pela "defesa da honra", falecerem de repente. Se eles morrem mesmo, nem a imprensa se dispõe a noticiar, diante desse medo.
Há até o preconceito que leva as pessoas a adotar uma postura seletiva a tipos sociais que cometem o mesmo descuido de saúde. Digamos que três tipos de homens fumam demais: o ator de teatro, o roqueiro e o feminicida conjugal e todos morrem de infarto na casa dos 55 anos.
A sociedade moralista vê a morte do primeiro com resignação, a do segundo com alívio e a do terceiro com desespero. Há quem diga, pasmem, sobre o óbito do feminicida: "Mas já, assim tão cedo?". E isso quando suas mulheres teriam sido mortas, quase sempre, com bem menos idade.
No caso do racismo, a expressão de grupos musicais de "pagode", seja ele "romântico" ou "sensual", também revela esse preconceito contra os próprios negros que interpretam tais canções. Seja a imagem auto-ridicularizada de certos conjuntos, letras sobre "macacos" e "baratas da vizinha", seja o apelo "sensual" de negros caricatos da Bahia, que trabalham o estereótipo pejorativo do "tarado abobalhado", a negritude que tais intérpretes dizem defender é, na verdade, bastante depreciada.
E isso tudo ainda é temperado com a ideia restritiva de "bondade" ao institucionalismo religioso. Embora o discurso apele para defender a "bondade" como uma "virtude de todos e de qualquer um", com ídolos religiosos "reconhecendo" até a generosidade de muitos ateus, a verdade é que sempre existe um empenho para privatizar a "bondade" como uma virtude que tenha sempre um selo religioso, como nos selos de garantia de produtos industrializados.
Mas isso ainda é pouco, se percebermos, no caso do "espiritismo" brasileiro, a "bondade" serve de escudo para proteger os deturpadores. O "espiritismo" brasileiro agora conhece o preço caríssimo da catolicização, expressa na quase totalidade das "casas espíritas" e em quase toda a literatura produzida, de romances "mediúnicos" a livros teóricos, e tenta abafar os questionamentos profundos com todas as alegações de "bondade" e "caridade", por meio de apelos emocionais.
Só que isso mostra mais preconceito. A ideia das pessoas de que todo apelo emocional é "positivo" e "saudável" as conforta e qualquer religião que venha com ilustrações de corações fofinhos é sempre "digna de confiança". Só que esquecemos que esse gênero de apelos emocionais, o Ad Passiones, é reconhecido como um tipo de falácia, que é a mentira veiculada como se fosse "verdade indiscutível".
Da mesma forma, também poucos imaginam que o "espiritismo" possa fazer Assistencialismo. Mas faz. Poucos percebem, quando defendem os "médiuns" pela suposta caridade que fazem, que os resultados obtidos são muito medíocres e bastante inexpressivos, afinal se essa "caridade" funcionasse, o Brasil teria atingido padrões escandinavos de qualidade de vida, até pela grandeza e triunfalismo que se costuma associar aos ídolos "espíritas".
Isso cria uma postura bastante ridícula. É muito comum os "espíritas", diante de um suposto progresso humanitário, dizer num momento que "já estamos progredindo" e, em outro, desmentir isso, dizendo que "não foi possível". Dizer taxativamente uma coisa e depois desmentir é um hábito e isso também é usado para mascarar o Assistencialismo, diante dos resultados medíocres obtidos: alegam "terem dificuldades" para "levar adiante os progressos sociais".
A figura do "médium" acaba sendo distorcida diante de tantos preconceitos que se tem da atividade. Perdendo o caráter intermediário original da atividade, o "médium" vira um sacerdote do "espiritismo", sendo o centro das atenções e dublê de pensador e ativista social. E, através de "mediunidades" que claramente soam fake, os "médiuns" nem precisam receber os mortos, diante da arrogância deles em "falar em nome deles" e se promover às custas dos nomes dos falecidos.
O Brasil tem três problemas que permitem tantos preconceitos, aberrações e retrocessos. Um é a desinformação generalizada, combinada com a baixa escolaridade. Outro é o moralismo severo que quer controlar demais a liberdade humana. Terceiro, oposto ao segundo, é a libertinagem que quer condenar até a moral mais prudente.
Isso cria sentimentos surreais como ter medo de ver feminicidas conjugais falecerem e aparecerem nos obituários de imprensa, ou de exaltar a "caridade espírita" em função mais do prestígio do "benfeitor" do que o "mero detalhe" dos "beneficiados". E isso quando funkeiras dançam com os glúteos exibidos para a plateia enquanto se autoproclamam a "melhor definição de feminista" que se tem no Brasil. Depois acusam as feministas do Primeiro Mundo de verem Harry Potter demais...
O Brasil é um país ainda marcado de muito preconceito. São preconceitos que existem até em pessoas que se dizem "contra o preconceito", como na recente onda da pretensa cultura popular de mercado, em que uma imagem caricatural do povo pobre era defendida por uma facção de intelectuais e celebridades como se fosse "fim do preconceito", confundindo "romper o preconceito" com aceitação passiva, não raro bem mais preconceituosa que qualquer rejeição.
Na onda conservadora dos últimos dois anos, houve várias demonstrações de preconceitos e humilhações sociais, partindo de cyberbullyings ou de relatos de teor machista, racista e homofóbico. A coisa ficou tão aberrante que vieram fenômenos pitorescos como o "pobre de direita", que defende o privilégio dos ricos, e o "patriota entreguista", capaz de parar para ouvir o Hino Nacional Brasileiro, mas que defende a venda de nossas riquezas para empresas estrangeiras.
Até a imagem da mulher solteira é depreciada, de maneira mais agressiva do que se imagina. A campanha da mídia do entretenimento de promover uma imagem depreciativa da mulher solteira, que só curte noitadas e praia, se "sensualiza" demais e enche o corpo de tatuagem, piercing e silicone, mas que comete gafes quando tenta opinar sobre alguma coisa, é um "convite" para a mulher que quiser se emancipar procurar um marido com algum cargo de liderança ou poder.
A arrogância com que certas mulheres siliconadas se projetam, com um falso feminismo e um suposto empoderamento não esconde que essas mulheres, que são as que mais vendem a imagem pejorativa da "solteiríssima", abusando de seu narcisismo e caindo em contradição quando, num momento, se afirmam serem "solteiras e felizes" e, em outro, soltam bordões como "estou à procura de um príncipe encantado" e "os homens fogem de medo de mim".
A cultura popular é a que mais sofre com a imagem preconceituosa, e não é pela rejeição aos "sucessos do povão", mas à própria expressão de uma imagem caricatural das classes populares, nas quais se legitimam como "qualidades positivas" situações que, em verdade, são bastante negativas para o povo pobre: a prostituição, o comércio de produtos piratas ou contrabandeados, o alcoolismo, a pedofilia, as moradias precárias nas favelas, a ignorância, entre outros.
É chocante que, durante muito tempo, prevaleceu um discurso de "ruptura do preconceito" que recomendava a aceitação dessa imagem degradada do povo pobre. Um discurso que era difundido pela Rede Globo mas foi também inserido na mídia de esquerda. Era, portanto, um discurso hipócrita, mas cujo apelo emotivo fazia atrair o apoio de muita gente e fabricar uma pretensa unanimidade entre as pessoas que se achavam progressistas e modernas.
A hipocrisia era tanta que, se alguém rejeita o "funk" por conhecê-lo profundamente, é "preconceituoso", mas se outro acha o "funk" genial sem ouvir e sem saber do que se trata, ele é tido como "sem preconceitos", quando na verdade o primeiro é que estabeleceu um conceito ao gênero e o último é que estabeleceu uma visão pré-concebida da coisa.
Os movimentos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros ou travestis) também ainda são muito estereotipados. A "mulher sapatão" de comportamento agressivo e o gay estereotipado que se veste de drag queen revela ainda uma visão espetacularizada da coisa, muito diferente da sobriedade que se vê nas relações homoafetivas que acontecem no exterior. Até as passeatas LGBT que ocorrem nas capitais são presas a uma estética "carnavalizada" que não raro compromete a causa.
O preconceito é tanto que poucos imaginam que as mulheres siliconadas que "sensualizam demais" são crias do machismo. O Brasil ainda se apega tão selvagemente ao machismo que muitos ainda têm medo de ver um feminicida conjugal, desses que mataram mulheres pela "defesa da honra", falecerem de repente. Se eles morrem mesmo, nem a imprensa se dispõe a noticiar, diante desse medo.
Há até o preconceito que leva as pessoas a adotar uma postura seletiva a tipos sociais que cometem o mesmo descuido de saúde. Digamos que três tipos de homens fumam demais: o ator de teatro, o roqueiro e o feminicida conjugal e todos morrem de infarto na casa dos 55 anos.
A sociedade moralista vê a morte do primeiro com resignação, a do segundo com alívio e a do terceiro com desespero. Há quem diga, pasmem, sobre o óbito do feminicida: "Mas já, assim tão cedo?". E isso quando suas mulheres teriam sido mortas, quase sempre, com bem menos idade.
No caso do racismo, a expressão de grupos musicais de "pagode", seja ele "romântico" ou "sensual", também revela esse preconceito contra os próprios negros que interpretam tais canções. Seja a imagem auto-ridicularizada de certos conjuntos, letras sobre "macacos" e "baratas da vizinha", seja o apelo "sensual" de negros caricatos da Bahia, que trabalham o estereótipo pejorativo do "tarado abobalhado", a negritude que tais intérpretes dizem defender é, na verdade, bastante depreciada.
E isso tudo ainda é temperado com a ideia restritiva de "bondade" ao institucionalismo religioso. Embora o discurso apele para defender a "bondade" como uma "virtude de todos e de qualquer um", com ídolos religiosos "reconhecendo" até a generosidade de muitos ateus, a verdade é que sempre existe um empenho para privatizar a "bondade" como uma virtude que tenha sempre um selo religioso, como nos selos de garantia de produtos industrializados.
Mas isso ainda é pouco, se percebermos, no caso do "espiritismo" brasileiro, a "bondade" serve de escudo para proteger os deturpadores. O "espiritismo" brasileiro agora conhece o preço caríssimo da catolicização, expressa na quase totalidade das "casas espíritas" e em quase toda a literatura produzida, de romances "mediúnicos" a livros teóricos, e tenta abafar os questionamentos profundos com todas as alegações de "bondade" e "caridade", por meio de apelos emocionais.
Só que isso mostra mais preconceito. A ideia das pessoas de que todo apelo emocional é "positivo" e "saudável" as conforta e qualquer religião que venha com ilustrações de corações fofinhos é sempre "digna de confiança". Só que esquecemos que esse gênero de apelos emocionais, o Ad Passiones, é reconhecido como um tipo de falácia, que é a mentira veiculada como se fosse "verdade indiscutível".
Da mesma forma, também poucos imaginam que o "espiritismo" possa fazer Assistencialismo. Mas faz. Poucos percebem, quando defendem os "médiuns" pela suposta caridade que fazem, que os resultados obtidos são muito medíocres e bastante inexpressivos, afinal se essa "caridade" funcionasse, o Brasil teria atingido padrões escandinavos de qualidade de vida, até pela grandeza e triunfalismo que se costuma associar aos ídolos "espíritas".
Isso cria uma postura bastante ridícula. É muito comum os "espíritas", diante de um suposto progresso humanitário, dizer num momento que "já estamos progredindo" e, em outro, desmentir isso, dizendo que "não foi possível". Dizer taxativamente uma coisa e depois desmentir é um hábito e isso também é usado para mascarar o Assistencialismo, diante dos resultados medíocres obtidos: alegam "terem dificuldades" para "levar adiante os progressos sociais".
A figura do "médium" acaba sendo distorcida diante de tantos preconceitos que se tem da atividade. Perdendo o caráter intermediário original da atividade, o "médium" vira um sacerdote do "espiritismo", sendo o centro das atenções e dublê de pensador e ativista social. E, através de "mediunidades" que claramente soam fake, os "médiuns" nem precisam receber os mortos, diante da arrogância deles em "falar em nome deles" e se promover às custas dos nomes dos falecidos.
O Brasil tem três problemas que permitem tantos preconceitos, aberrações e retrocessos. Um é a desinformação generalizada, combinada com a baixa escolaridade. Outro é o moralismo severo que quer controlar demais a liberdade humana. Terceiro, oposto ao segundo, é a libertinagem que quer condenar até a moral mais prudente.
Isso cria sentimentos surreais como ter medo de ver feminicidas conjugais falecerem e aparecerem nos obituários de imprensa, ou de exaltar a "caridade espírita" em função mais do prestígio do "benfeitor" do que o "mero detalhe" dos "beneficiados". E isso quando funkeiras dançam com os glúteos exibidos para a plateia enquanto se autoproclamam a "melhor definição de feminista" que se tem no Brasil. Depois acusam as feministas do Primeiro Mundo de verem Harry Potter demais...
terça-feira, 20 de junho de 2017
"Médiuns" e palestrantes "espíritas" repetem orgulho dos fariseus
A PRETENSÃO DE QUERER TER RESPOSTAS PARA TUDO - O "MÉDIUM" DIVALDO FRANCO E SUA EXTRAVAGÂNCIA DE QUERER POSSUIR A VERDADE.
O "espiritismo" brasileiro repete práticas, crenças e procedimentos que não apenas causaram vergonha e constrangimento ao pedagogo Allan Kardec como refletem os mesmos vícios dos antigos sacerdotes fariseus que viveram nos tempos de Jesus de Nazaré.
A extravagância da pose "ilustrada", o discurso verborrágico, a falsa humildade, a pretensão de sabedoria absoluta, a pressa em estar mais perto de Deus, tudo isso Jesus reprovava, com muita energia, dos antigos sacerdotes em sua época.
Pode parecer chocante aos brasileiros, desinformados de tudo hoje em dia, verificar esse vício nos oradores e escritores do "movimento espírita", mas eles demonstram, até com certa evidência, esses vícios bastante extravagantes, que só não causam constrangimento às pessoas porque elas estão entorpecidas e seduzidas pelo apelo emotivo das paixões religiosas.
Mas um texto, extraídi de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec (tradução de José Herculano Pires), do Capítulo 07, Bem-Aventurados os Pobres de Espírito, no texto Quem Se Elevar Será Rebaixado, um trecho retirado do Novo Testamento nos alerta para a presunção de encurtar o caminho para o céu, que domina as ambições de muitos palavreadores "espíritas", mesmo aqueles que buscam o tempo todo simular o máximo de humildade nas poses, gestos e palavras:
"Então se chegou a ele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o e pedindo-lhe alguma coisa. Ele lhe disse: Que queres? Respondeu ela: Dize a estes meus dois filhos que se assentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda. E respondendo Jesus, disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber? Disseram-lhe eles: Podemos. Ele lhes disse: É verdade que haveis de beber o meu cálice; mas, pelo que toca a terdes assento à minha direita ou à minha esquerda, não me pertence conceder-vos, mas isso é para aqueles a quem meu Pai o tem preparado. E quando os dez ouviram isto, indignaram-se contra os dois irmãos. Mas Jesus os chamou a si e lhes disse: Sabeis que os príncipes das nações dominam os seus vassalos, e que os maiores exercitam sobre eles o seu poder. Não será assim entre vós; mas aquele que quiser ser o maior, esse seja o vosso servidor, e o que entre vós quiser ser o primeiro, seja o vosso escravo; assim como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em redenção de muitos. (Mateus, XX: 20-28)".
Os "espíritas", em vez de servir, querem ser servidos. Eles falam tanto que as pessoas aguentem o sofrimento, mudem seus pensamentos, abram mão de suas habilidades e se submetam a sacrifícios extremos. Falam tanto em defesa da servidão dos outros, mas eles mesmos, os "espíritas", nem de longe querem ajudar os sofredores, apenas criando um discurso prolixo cuja mensagem poderia se resumir a poucas palavras: "Se vira!".
Os sofredores, evidentemente, fazem sua parte. Tudo o que os "espíritas" pedem aos sofredores, estes já o fizeram. Tiveram jogo de cintura, meteram a cara, mudaram seus pensamentos, forjaram sorriso e alegria em momentos tristes, perdoaram algozes, ampliaram a paciência, tiveram perseverança e até oraram, oraram e oraram muitas preces. Assumiram arrependimentos, reconheceram erros e tudo o mais. Fizeram o inimaginável para vencerem na vida e não venceram.
Quando os sofredores reclamam da falta de sorte, não é por estarem de braços cruzados. Eles fizeram sua parte no serviço que até lhes foi excessivo. O sofrimento que, em tese, se impôs "dentro de suas capacidades de suportá-lo", ultrapassou tais capacidades. Foi como uma dívida que, mesmo totalmente paga, se renova em juros exorbitantes.
O sofredor acaba encarando uma espécie de estelionato moral. Já não é mais encarar dificuldades, mas suportar encrencas e até danos morais pesados, com as circunstâncias ocorrendo para esmagar suas almas e reduzi-las a uma apatia e uma depressão intensas, e, mesmo assim, o "espiritismo" ainda recomenda alegria e esperança nesses momentos de asfixia.
Confundindo desafios com desgraças, aprendizados com prejuízos, os ideólogos "espíritas" parecem não ver a diferença entre natação e afogamento. Uma coisa é a pessoa encarar novas habilidades em tarefas complicadas mas não degradantes, outra coisa é a pessoa ser alvo de humilhação e empecilhos só para obter um menor e relativo benefício.
Uma coisa é nadar contra a correnteza com energia e cautela, para conseguir um caminho para a superfície. Outra coisa é se afogar ao ser tragado pelo mar em onda ameaçadora, com tubarões nas proximidades a devorar o indivíduo, diante de enrascadas sem fim.
O "espiritismo" se revela uma religião desumana, tamanho foi o grau de deturpação que fez, na religião brasileira, mais próxima do imperador Constantino do que de Allan Kardec. E a hipocrisia gritante de tantos palestrantes "espíritas" assusta, porque eles traem Kardec o tempo inteiro, mas também juram com insistência que lhe são "absolutamente fiéis".
Os "espíritas", mesmo forjando "sincera humildade", se tornam extravagantes e presunçosos. Querem ter a posse da verdade, mesmo que não assumam isso no discurso. Lutam para ficar com a palavra final em qualquer coisa, mesmo sob o preço de dizerem uma coisa em um texto ou palestra e, em outra exposição escrita ou falada, dizer uma coisa completamente diferente.
Se acham "sábios" e querem conquistar o céu com seu balé de palavras lindas. Mas às vezes os "espíritas" ferem, com seus juízos de valor em torno do sofrimento alheio. Acham que é fácil um sofredor se dividir entre o trabalho na enxada e a prece, sobrecarregando a mente já estressada que, não raro, é capaz de ferir o pé com a enxada, por um erro de atenção.
Os "espíritas" juram que praticam "caridade plena", e posam cercados de crianças saltitantes durante os festejos da doutrina igrejeira. Fazem uma caridade que só traz resultados medíocres e pequenos, mas comemora demais como se tivesse feito "até demais" pelos necessitados. Quanta leviandade comemorar demais pelo quase nada que se faz!
E como os "espíritas", aparecendo ao lado de personagens ilustres nas fotos de imprensa, querem tanto alcançar o céu. Já imaginam que Divaldo Franco, por exemplo, já tem uma cerimônia pronta para quando retornar à "pátria espiritual".
Acham que Francisco Cândido Xavier já conquistou o "céu". Quanta ingenuidade! Diante de tantas confusões que o grande deturpador da causa espírita fez, não se espera dele que, na volta ao mundo espiritual e na preparação para o reencarne, tenha se revelado o mais ordinário dos ordinários, decepcionado em ver as promessas de ingresso ao Céu se comprovarem muito distantes.
Os "espíritas", se nos basearmos nas parábolas contadas por Jesus, se encaixam naqueles extravagantes religiosos que se exaltam, se não no discurso, mas nas posturas e nos artifícios mais sutis. Os "médiuns", deixando o papel intermediário que lhes deveria caber como obrigação, vivem no culto à personalidade e bancam os dublês de pensadores e ativistas, virando eles mesmos versões atuais dos antigos sacerdotes reprovados firmemente por Jesus.
Desta maneira, os sofredores que tanto recorreram ao "espiritismo" para pedir pão e levaram serpentes, têm o maior mérito de serem consolados, porque tudo fizeram de receita para vencer na vida, e muitos não puderam vencer.
Mas os verdadeiros perdedores são aqueles oradores e escritores que vivem no turismo das belas cidades, exibindo suas coreografias de palavras lindíssimas, investindo num arremedo de caridade só para serem vistos como "bondosos" e fazendo todo um teatro de boas palavras e boas emoções visando o ingresso mais rápido ao Céu. Muitos que pensaram assim já foram rebaixados, ao retornarem ao além-túmulo. Quem sabe o umbral não está cheio desses "bons espíritas"?
O "espiritismo" brasileiro repete práticas, crenças e procedimentos que não apenas causaram vergonha e constrangimento ao pedagogo Allan Kardec como refletem os mesmos vícios dos antigos sacerdotes fariseus que viveram nos tempos de Jesus de Nazaré.
A extravagância da pose "ilustrada", o discurso verborrágico, a falsa humildade, a pretensão de sabedoria absoluta, a pressa em estar mais perto de Deus, tudo isso Jesus reprovava, com muita energia, dos antigos sacerdotes em sua época.
Pode parecer chocante aos brasileiros, desinformados de tudo hoje em dia, verificar esse vício nos oradores e escritores do "movimento espírita", mas eles demonstram, até com certa evidência, esses vícios bastante extravagantes, que só não causam constrangimento às pessoas porque elas estão entorpecidas e seduzidas pelo apelo emotivo das paixões religiosas.
Mas um texto, extraídi de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec (tradução de José Herculano Pires), do Capítulo 07, Bem-Aventurados os Pobres de Espírito, no texto Quem Se Elevar Será Rebaixado, um trecho retirado do Novo Testamento nos alerta para a presunção de encurtar o caminho para o céu, que domina as ambições de muitos palavreadores "espíritas", mesmo aqueles que buscam o tempo todo simular o máximo de humildade nas poses, gestos e palavras:
"Então se chegou a ele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o e pedindo-lhe alguma coisa. Ele lhe disse: Que queres? Respondeu ela: Dize a estes meus dois filhos que se assentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda. E respondendo Jesus, disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber? Disseram-lhe eles: Podemos. Ele lhes disse: É verdade que haveis de beber o meu cálice; mas, pelo que toca a terdes assento à minha direita ou à minha esquerda, não me pertence conceder-vos, mas isso é para aqueles a quem meu Pai o tem preparado. E quando os dez ouviram isto, indignaram-se contra os dois irmãos. Mas Jesus os chamou a si e lhes disse: Sabeis que os príncipes das nações dominam os seus vassalos, e que os maiores exercitam sobre eles o seu poder. Não será assim entre vós; mas aquele que quiser ser o maior, esse seja o vosso servidor, e o que entre vós quiser ser o primeiro, seja o vosso escravo; assim como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em redenção de muitos. (Mateus, XX: 20-28)".
Os "espíritas", em vez de servir, querem ser servidos. Eles falam tanto que as pessoas aguentem o sofrimento, mudem seus pensamentos, abram mão de suas habilidades e se submetam a sacrifícios extremos. Falam tanto em defesa da servidão dos outros, mas eles mesmos, os "espíritas", nem de longe querem ajudar os sofredores, apenas criando um discurso prolixo cuja mensagem poderia se resumir a poucas palavras: "Se vira!".
Os sofredores, evidentemente, fazem sua parte. Tudo o que os "espíritas" pedem aos sofredores, estes já o fizeram. Tiveram jogo de cintura, meteram a cara, mudaram seus pensamentos, forjaram sorriso e alegria em momentos tristes, perdoaram algozes, ampliaram a paciência, tiveram perseverança e até oraram, oraram e oraram muitas preces. Assumiram arrependimentos, reconheceram erros e tudo o mais. Fizeram o inimaginável para vencerem na vida e não venceram.
Quando os sofredores reclamam da falta de sorte, não é por estarem de braços cruzados. Eles fizeram sua parte no serviço que até lhes foi excessivo. O sofrimento que, em tese, se impôs "dentro de suas capacidades de suportá-lo", ultrapassou tais capacidades. Foi como uma dívida que, mesmo totalmente paga, se renova em juros exorbitantes.
O sofredor acaba encarando uma espécie de estelionato moral. Já não é mais encarar dificuldades, mas suportar encrencas e até danos morais pesados, com as circunstâncias ocorrendo para esmagar suas almas e reduzi-las a uma apatia e uma depressão intensas, e, mesmo assim, o "espiritismo" ainda recomenda alegria e esperança nesses momentos de asfixia.
Confundindo desafios com desgraças, aprendizados com prejuízos, os ideólogos "espíritas" parecem não ver a diferença entre natação e afogamento. Uma coisa é a pessoa encarar novas habilidades em tarefas complicadas mas não degradantes, outra coisa é a pessoa ser alvo de humilhação e empecilhos só para obter um menor e relativo benefício.
Uma coisa é nadar contra a correnteza com energia e cautela, para conseguir um caminho para a superfície. Outra coisa é se afogar ao ser tragado pelo mar em onda ameaçadora, com tubarões nas proximidades a devorar o indivíduo, diante de enrascadas sem fim.
O "espiritismo" se revela uma religião desumana, tamanho foi o grau de deturpação que fez, na religião brasileira, mais próxima do imperador Constantino do que de Allan Kardec. E a hipocrisia gritante de tantos palestrantes "espíritas" assusta, porque eles traem Kardec o tempo inteiro, mas também juram com insistência que lhe são "absolutamente fiéis".
Os "espíritas", mesmo forjando "sincera humildade", se tornam extravagantes e presunçosos. Querem ter a posse da verdade, mesmo que não assumam isso no discurso. Lutam para ficar com a palavra final em qualquer coisa, mesmo sob o preço de dizerem uma coisa em um texto ou palestra e, em outra exposição escrita ou falada, dizer uma coisa completamente diferente.
Se acham "sábios" e querem conquistar o céu com seu balé de palavras lindas. Mas às vezes os "espíritas" ferem, com seus juízos de valor em torno do sofrimento alheio. Acham que é fácil um sofredor se dividir entre o trabalho na enxada e a prece, sobrecarregando a mente já estressada que, não raro, é capaz de ferir o pé com a enxada, por um erro de atenção.
Os "espíritas" juram que praticam "caridade plena", e posam cercados de crianças saltitantes durante os festejos da doutrina igrejeira. Fazem uma caridade que só traz resultados medíocres e pequenos, mas comemora demais como se tivesse feito "até demais" pelos necessitados. Quanta leviandade comemorar demais pelo quase nada que se faz!
E como os "espíritas", aparecendo ao lado de personagens ilustres nas fotos de imprensa, querem tanto alcançar o céu. Já imaginam que Divaldo Franco, por exemplo, já tem uma cerimônia pronta para quando retornar à "pátria espiritual".
Acham que Francisco Cândido Xavier já conquistou o "céu". Quanta ingenuidade! Diante de tantas confusões que o grande deturpador da causa espírita fez, não se espera dele que, na volta ao mundo espiritual e na preparação para o reencarne, tenha se revelado o mais ordinário dos ordinários, decepcionado em ver as promessas de ingresso ao Céu se comprovarem muito distantes.
Os "espíritas", se nos basearmos nas parábolas contadas por Jesus, se encaixam naqueles extravagantes religiosos que se exaltam, se não no discurso, mas nas posturas e nos artifícios mais sutis. Os "médiuns", deixando o papel intermediário que lhes deveria caber como obrigação, vivem no culto à personalidade e bancam os dublês de pensadores e ativistas, virando eles mesmos versões atuais dos antigos sacerdotes reprovados firmemente por Jesus.
Desta maneira, os sofredores que tanto recorreram ao "espiritismo" para pedir pão e levaram serpentes, têm o maior mérito de serem consolados, porque tudo fizeram de receita para vencer na vida, e muitos não puderam vencer.
Mas os verdadeiros perdedores são aqueles oradores e escritores que vivem no turismo das belas cidades, exibindo suas coreografias de palavras lindíssimas, investindo num arremedo de caridade só para serem vistos como "bondosos" e fazendo todo um teatro de boas palavras e boas emoções visando o ingresso mais rápido ao Céu. Muitos que pensaram assim já foram rebaixados, ao retornarem ao além-túmulo. Quem sabe o umbral não está cheio desses "bons espíritas"?
segunda-feira, 19 de junho de 2017
O lugar dos espíritas autênticos, segundo os deturpadores do Espiritismo
De repente, houve uma onda de deturpadores do Espiritismo fazendo "emocionados elogios" aos espíritas autênticos. Não se trata apenas da habitual bajulação a Allan Kardec, nem na apropriação tendenciosa dos alertas do espírito Erasto, mas de evocar os nomes de espíritas brasileiros autênticos, como José Herculano Pires e Deolindo Amorim.
Os deturpadores andam publicando textos de espíritas autênticos ou fazendo relatos biográficos dos mesmos. Aparentemente, atendem a uma necessidade de lembrar dos espíritas que lutaram pela valorização dos postulados espíritas originais, mas sendo essa atitude vinda justamente daqueles que praticam o igrejismo e exaltam também outros deturpadores, isso é para desconfiar.
Afinal, é bom demais para ser verdade. A ideia é evitar os conflitos nos bastidores do "movimento espírita" que eclodiram depois que o presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, se aposentou, em 1970, quatro anos antes de morrer.
Sem Wantuil, começaram a se revelar irregularidades a respeito do poder centralizado da Federação "Espírita" Brasileira e sua ganância financeira em torno das vendas de seus livros. Isso criou um conflito entre as federações regionais e a federação nacional que deu origem à "fase dúbia", um "roustanguismo com Kardec" que reagiu ao nome de J. B. Roustaing, símbolo da FEB.
Desta feita, as federações regionais, que passaram a comandar o "movimento espírita" nos últimos tempos, com a FEB apenas atuando de maneira formal, sem intervir nos interesses gerais do movimento, já que a atual fase do "movimento espírita" priorizaria a autonomia das federações regionais.
O que chama a atenção, no entanto, é o simulacro de recuperação das bases doutrinárias, feito pela "fase dúbia". Os ideais igrejeiros originários de Jean-Baptiste Roustaing passaram a coexistir com a aparente apreciação do pensamento kardeciano original. Igrejismo e cientificismo se misturaram e uma promiscuidade ideológica se viu surgir e crescer, dissimulada por apelos à "caridade" e à "fraternidade", tipicamente igrejeiros.
Diferente da Era Wantuil, o "movimento espírita" fez um pacto mais áureo do que o Pacto Áureo de 1949. As federações regionais conquistaram autonomia, influenciadas pelo prestígio dos "médiuns" Francisco Cândido Xavier, mineiro, e Divaldo Pereira Franco, baiano. Um acordo foi feito também para evitar qualquer desavença com os espíritas autênticos, como Herculano Pires e, em tese, até mesmo os mais entusiasmados igrejeiros tinham que se autoproclamar "kardecistas".
O termo "kardecismo" surgiu aí, depois de supostas mensagens espirituais de Adolfo Bezerra de Menezes, um dos fundadores da FEB, alegar "arrependimento" por ter sido roustanguista e passar a apelar para todos "kardequizarem", o que dá o tom da mensagem, já que a expressão "kardequizar" soa como uma corruptela do termo "catequizar", termo referente à pedagogia católica trazida pelos antigos jesuítas, no período colonial.
Só que o termo "kardecista" acabou se desvinculando da essência kardeciana original, daí que os verdadeiros espíritas sempre se afirmam "kardecianos" e não "kardecistas". Isso porque o "kardecismo", que é a "fase dúbia" do "movimento espírita", enfatizou ainda mais ideais roustanguistas, trazidos sobretudo por meio de romances "espíritas" e pelas palestras dos "médiuns" que já descaraterizaram a atividade original e intermediária do médium espiritual.
A "fase dúbia" representou a ascensão de Divaldo Franco, então um emergente entre os astros do "movimento espírita". Mas representou também a reinvenção do mito de Chico Xavier, antes pupilo de Wantuil de Freitas, e desfez-se, no "médium" mineiro, aquela imagem pitoresca e sensacionalista que causou confusões, vide episódios como o julgamento do caso Humberto de Campos e as fraudes da farsante Otília Diogo.
Até o fim da Era Wantuil, Chico era blindado pela TV Tupi. Geralmente, nos Diários Associados, Chico "levava surra" da revista O Cruzeiro e era "socorrido" pela TV Tupi. Mas como o "médium" sempre trouxe energias estranhas - Chico está associado à "maldição dos filhos mortos" por boa parte de seus seguidores verem seus filhos morrerem de repente - , a proteção da TV Tupi também teve seu preço muito caro.
Depois que até a revista O Cruzeiro fez as pazes com Chico Xavier, e após o desfecho do caso Otília Diogo, em que Chico, espécie de "Aécio Neves pré-delação da JBS" dos "espíritas" no sentido da blindagem absoluta, foi inocentado apesar da cumplicidade, a TV Tupi ainda veiculou uma novela "espírita" que a dramaturga Ivani Ribeiro adaptou livremente do livro Nosso Lar, a famosa A Viagem.
Aí os Diários Associados naufragaram na crise, a revista O Cruzeiro se descaraterizou em 1975 - mudou seu projeto gráfico para algo mais simplório e com linha editorial copiada da revista Visão - e a TV Tupi entrou em decadência, forçando a empresa fundada por Assis Chateaubriand (aposentado em 1960 e morto em 1968) a vender boa parte de seu espólio e enfrentar uma greve de funcionários que tinham o pagamento salarial atrasado.
Diante desse quadro, a blindagem de Chico Xavier passou a ser das Organizações Globo, que romperam com a antiga animosidade ao "médium" e contribuíram para reinventar seu mito, enfatizando a suposta caridade com base no que o inglês Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá.
Sem enfatizar façanhas como ser um suposto porta-voz de intelectuais já falecidos ou de supostas práticas de psicofonia e materialização, deixou-se de lado os "dons fantásticos" para reduzir o "médium" a um "carteiro de Deus", forjando mensagens igrejeiras supostamente em nome de pessoas anônimas mortas, prestando um "serviço" aos parentes desses entes queridos.
Era uma construção ideológica que deu mais certo do que apelar para a literatura "espiritual", que soava claramente fake. Não sendo mais os "mortos famosos", mas os "anônimos", os escândalos eram minimizados. Fora esse apelo, Chico ainda seguiu rigorosamente o roteiro que Muggeridge fez para inventar o mito de Madre Teresa.
Com isso, também forçou-se a associação de Chico Xavier com a Doutrina Espírita original, num recurso próprio da "fase dúbia". O maior ídolo do "movimento espírita", oriundo da fase Wantuil, era reinventado e reembalado de forma a ser "digestível" não só por espíritas autênticos, mas também por ateus, esquerdistas e outros perfis ideológicos.
Com a recente estratégia de bajular os espíritas autênticos, os deturpadores do Espiritismo usam uma tática habilidosa, a de estabelecer um vínculo tendencioso com os verdadeiros nomes brasileiros da Doutrina Espírita, para o caso de uma grave crise atingir o "movimento espírita". Mas isso é como políticos do PSDB exaltando personalidades do PT, um oportunismo que não tem a menor credibilidade.
Essa estratégia, no entanto, revela o verdadeiro lugar que os deturpadores do Espiritismo no Brasil reservam aos espíritas autênticos: a "morada" teórica dos livros e do passado biográfico, já que eles estão mortos. Eles que se reduzam à letra "desencarnada" das exposições teóricas, enquanto a "prática espírita" se volta ao mais escancarado igrejismo. Tenta-se ser "kardeciano" na teoria, mas na prática continua-se sendo roustanguista, até mais do que quando se assumia o nome de Roustaing.
A "fase dúbia", com suas múltiplas dissimulações, tentava aproveitar todo tipo de oportunismo. Isso não faz do "espiritismo" uma religião melhor. Pelo contrário, confundir contradição e equilíbrio é algo deplorável, e o que se observa no "espiritismo" brasileiro é um grande engodo doutrinário que só parece "apresentável" para o público leigo. Até este conhecer a podridão nos bastidores, vai achar que "tudo é lindo" no "espiritismo" brasileiro.
domingo, 18 de junho de 2017
A bajulação dos deturpadores aos espíritas autênticos
Nada como um deturpador igrejeiro do "movimento espírita" sair bajulando e exaltando os espíritas autênticos. Não bastassem as bajulações um tanto tendenciosas a Allan Kardec e seus espíritos relacionados - de Jesus de Nazaré a Erasto - , as adulações envolvem também espíritas brasileiros autênticos, como José Herculano Pires e Deolindo Amorim.
Na crise em que vive o "espiritismo" brasileiro, não são poucos os "médiuns" e os palestrantes que deturpam o Espiritismo a correr para o barco adversário, como piratas que migram para o navio inimigo. Assim, tentam "exaltar" a sabedoria e a coerência dos autênticos batalhadores da Doutrina Espírita, como se isso representasse um serviço exemplar para a propagação do verdadeiro Espiritismo.
Mas não é. A bajulação a Herculano, Deolindo, Carlos Imbassahy e outros não é garantia que o deturpador aprendeu realmente a lição e vai se tornar "espírita para valer". A aparente confraternização esconde, sob a beleza do seu discurso e a aparente pureza de seus gestos, objetivos bastante levianos de arrivismo e até de vínculo com causas que lhes são contrárias.
Quantas vítimas dessa adulação viscosa, essa baba de ovo, essa saliva escorrendo pela boca, de pessoas que deturpam o sentido de fraternidade, pregando uma espécie de "fraternidade para mim mesmo", na qual se exalta todo mundo que representa algo positivo e avançado para se obter vantagens pessoais e estabelecer vínculo com as personalidades realmente valiosas que passaram pela Terra.
Quantos bajuladores baratos se escondem em livros, palestras e títulos tão nobres. No "espiritismo" brasileiro, abrigo para tantas mentes medíocres, trapaceiras e canastronas, tantos são os que bajulam todo mundo que estiver ligado a algo positivo. Há aqueles que bajulam até mesmo Ernesto Che Guevara e Jimi Hendrix, talvez para causar impressão no público mais jovem.
Ah, quanta falta de observação de muitos brasileiros, iniciantes, leigos ou mesmo habituais no "espiritismo" brasileiro, de quantas incoerências existem em muitos palestrantes, em parte "médiuns", em outra parte apenas pretensos intelectuais, que com seu balé de palavras bonitas veiculam ideias que se chocam entre si, sendo capazes de escrever uma coisa num texto e outra completamente diferente em outro.
Quantos bajuladores arrancam aplausos com suas belas palavras! Ah, que veneno pode representar um elogio vindo de um bajulador barato, ferindo mais do que uma maledicência aberta! Quantos traidores não estão por trás daqueles que apertam a mão de pessoas de perfil mais avançado, dando-lhe os mais elaborados louvores verbais, para depois apunhalá-los pelas costas praticando ideias contrárias as dos bajulados.
Os brasileiros não observam isso com cautela e aceitam que escritores e palestrantes "espíritas" digam uma coisa num momento e outra depois. Num momento, ficam com o cientificismo de Kardec e juram fidelidade absoluta. Num outro momento, o traem com igrejismo extremado, e ficam com os deturpadores que usam a "caridade" como escudo para seus trabalhos de catolicização do Espiritismo.
Quanta podridão há nos bastidores do "movimento espírita". Quantos roustanguistas de carteirinha se dizem "absolutamente fiéis" a Kardec. Quantos exércitos de palavras são feitos para mostrar o bom mocismo dos deturpadores, que pensam que se pode falar em "caridade" e "fraternidade" para legitimar ideias contrárias à Codificação.
Diante desse esforço hercúleo dos Golias da palavra, dos Constantinos da fé a pregar mistificação, o "espiritismo", que tanto se gaba em "valorizar o Conhecimento", ainda condena o questionamento aprofundado, que tão levianamente define como "falta de perdão", usando expressões fortes como "tóxico do intelectualismo" para esconder seu medo de ser questionado.
Pois Kardec, que aceitava o debate e a controvérsia, nunca aprovaria esse engodo doutrinário, essa "lavagem de porco" a que se reduziu o "espiritismo" no Brasil, misturando igrejismo e cientificismo, ideias fantasiosas e outras realísticas, teorias mediúnicas corretas com mediunidade fake, e pregando a Teologia do Sofrimento sem assumir no discurso essa teoria medieval. O amor não pode proteger a hipocrisia.
sábado, 17 de junho de 2017
Confusão no "espiritismo" não é diversidade
De alguma forma, o governo Michel Temer serviu para trazer as pessoas a gravidade de muitas confusões e erros que eram consentidos por serem associados a elites antes associadas à qualidades positivas referentes à administração, moderação política, austeridade e transparência.
Neste caso, o atual cenário político, manchado por uma série de gravíssimos escândalos que deixam o Brasil numa posição vulnerável, é revelada a podridão que o topo da pirâmide social tanto escondeu e que era fruto de um método ilícito de ascensão social, que ia do clientelismo ás propinas.
Isso ensina às pessoas o fato de que os erros não se medem pela posição social de quem pratica. Graves erros não recebem como atenuantes o prestígio social de seu praticante e as pessoas comuns também não podem ficar indiferentes a eles, porque em muitos casos os erros podem afetar a vida das pessoas.
No "espiritismo", há um monte de aspectos bastante sombrios e extremamente negativos. O pecado original do "movimento espírita" foi a preferência dada ao igrejismo de Jean-Baptiste Roustaing, que criou uma série de problemas, confusões, dissimulações. Ele criou as bases catolicizadas das quais o "espiritismo" brasileiro finge ter superado, mas que pratica até com maior intensidade do que antes.
Os arrivismos e jogos de interesses aqui e ali passaram a ser ainda mais perniciosos e levianos do que antes, há cem anos. Pelo menos a catolicização do Espiritismo no Brasil tinha como justificativa atrair o apoio da Igreja Católica para proteger a outra doutrina da repressão policial que sofreu naqueles tempos.
Hoje, porém, nada justifica o "outro Catolicismo" a que se rebaixou o legado de Kardec no Brasil. E o mais grave é que uma parcela de igrejeiros, incluindo influentes palestrantes e, em parte, "médiuns espíritas", se diz "rigorosamente fiel" a Allan Kardec, mesmo traindo com seus postulados.
Tem gente que fala mal da "vaticanização da Doutrina Espírita" mas elogia todo tipo de igrejeiro. Elogia até a Legião da Boa Vontade, uma espécie de neo-catolicismo enrustido e "eclético". Elogia até Roustaing, mas depois pede para que "se valorizem" os espíritas autênticos como José Herculano Pires e Deolindo Amorim.
É tanta confusão no "movimento espírita" que mesmo os adeptos de Francisco Cândido Xavier não se entendem completamente. Uns acreditam que Chico Xavier fez a "profecia da Data-Limite", outros dizem que isso é absurdo, uns dizem que Chico foi reencarnação de Kardec, outros acham isso improcedente etc.
Divaldo Franco havia feito um falsete, tido como psicofonia, atribuído ao marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente da República no Brasil. Mas Chico Xavier havia dito que Deodoro havia se reencarnado na pessoa do hoje senador Fernando Collor de Mello.
Chico Xavier era defensor explícito da Teologia do Sofrimento, embora não assumisse essa denominação. Divaldo era mais sutil na defesa dessa corrente medieval. Já o conterrâneo e amigo de Divaldo, José Medrado, se aproxima mais da Teologia da Prosperidade dos neopentecostais, até porque a Cidade da Luz é vizinha a uma filial da Igreja Universal do Reino de Deus, em Pituaçu, em Salvador.
Confusão não é diversidade e contradição não é equilíbrio. Os bastidores do "espiritismo" brasileiro ocorrem de forma que poderia chocar os seguidores que forem informados de tais deslizes. Mas a postura do "deixa pra lá", movida pelo prestígio social dos "espíritas" - o prestígio religioso, que, apesar do verniz de "humildade", os coloca no "alto da pirâmide", como braço religioso da plutocracia - , sempre consente com esse engodo doutrinário.
Essa confusão até poderia fazer sentido se não fosse a pretensão dos deturpadores da Doutrina Espírita em geral de defender "não vários espiritismos, mas um único Espiritismo, o de Allan Kardec". Essa pretensão invalida qualquer consentimento com os erros cometidos pelos "espíritas", porque no discurso se pede "respeitar" o Espiritismo original, mas na prática comete-se traições de arrancar os cabelos.
Ter coerência não é questão de estufar o peito, falar grosso e firme e escrever com aparato de erudição em belas palavras. Quantas terríveis incoerências, omissões, fraudes, dissimulações foram feitas pelos "espíritas", da literatura fake das pretensas psicografias de Chico Xavier - que mostraram um suposto Olavo Bilac que perdeu seu talento poético - , de fantasias materialistas (colônias espirituais) feitas para justificar o sofrimento na Terra, e tantas coisas aberrantes?
Esse é o problema que faz o "espiritismo" brasileiro entrar numa aguda crise e que pode fazer os "espíritas" terem que assumir que romperam com Allan Kardec. Eles poderiam se assumir neo-católicos, roustanguistas, se associar à Legião da Boa Vontade, só não podem mais dizer que "defendem totalmente Kardec" porque isso já causou muito vexame e pode piorar as coisas.
sexta-feira, 16 de junho de 2017
"Médiuns" acabam ofendendo mortos ao se apropriar deles para propaganda religiosa
ATRAVÉS DE OBRAS FAKE, HUMBERTO DE CAMPOS E RAUL SEIXAS PASSARAM A DEFENDER IDEIAS QUE NÃO DEFENDERIAM.
Muitos se recusam a admitir, mas o "espiritismo" brasileiro cometeu deslizes e equívocos da mais extrema gravidade, como a mediunidade fake e as ideias fundamentadas no livro Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing.
Esconder Roustaing e o articulador de muitos erros, o ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, debaixo do tapete, não resolve as coisas, porque muitos dos ídolos do "movimento espírita" foram e ainda são cúmplices de muitos procedimentos levianos e até ilícitos. No histórico do "espiritismo" brasileiro, existe até uma morte suspeita, do sobrinho de Francisco Cândido Xavier, Amauri Xavier, possivelmente envenenado por "queima de arquivo".
Isso é muito chocante para os leitos que recorrem à grande imprensa para conhecer o que é o "espiritismo" e observa um "céu de brigadeiro" no qual coexistem com supostas paz e equilíbrio o cientificismo de Allan Kardec e o igrejismo de Chico Xavier.
Muitos se recusam a perceber o quanto esses erros diversos nos bastidores do "espiritismo" brasileiro são muito graves, desmoralizando o legado trabalhoso que o pedagogo francês teve para difundir e explicar a Codificação. Mesmo quando admitem os erros, os seguidores, simpatizantes e leigos do "espiritismo" brasileiro chegam mesmo a acreditar que pode haver coerência numa seita de tantas confusões, impasses e até mentiras.
Como um PSDB da religião, blindado ao máximo e evitando a denúncia de uma tosse que venha de um "espírita", o "espiritismo" brasileiro se valeu de uma mediunidade fake, constatação esta que pode assustar e indignar muitos, mas é feita pela análise comparativa das obras "mediúnicas" com os estilos e outros aspectos pessoais dos mortos alegados, famosos ou não.
Essa pretensa mediunidade mostra irregularidades imensas que o fato de deixar "certos problemas" debaixo do tapete, sob a desculpa dos "mistérios da espiritualidade", não demonstra uma cautela no tema da manifestação espiritual, mas antes uma perigosa e irresponsável omissão.
As irregularidades de muitas pretensas psicografias e psicopictografias, para não dizer as psicofonias que mais parecem falsetes de stand up comedy, podem ser facilmente identificadas por análises de conteúdo, da mesma forma que podemos identificar fraudes em cartas apócrifas de sequestradores imitando a caligrafia de suas vítimas.
No caso das supostas psicografias de Chico Xavier, que o marketing religioso fez vender uma falsa imagem de "caridade plena", com toda a mitificação própria das paixões religiosas, as irregularidades podem ser identificadas por uma simples atenção nos textos dos supostos autores mortos e compará-los com o que eles haviam deixado em vida.
No caso de Auta de Souza, jovem poetisa potiguar que viveu no final do século XIX, o estilo peculiar da artista desaparece diante das supostas mensagens espirituais trazidas por Chico Xavier. Em vez do estilo feminino e quase infantil de Auta, observa-se o estilo masculino e igrejeiro do "médium" e, em certos momentos, a suposta Auta expressa pensamentos próprios de Chico em relação à Teologia do Sofrimento, da qual o "médium" foi sempre devoto.
Humberto de Campos também fez desaparecer seu estilo, em que pese eventuais pastiches que parodiam sua forma de narrar. Note-se que, no lugar do autor de escrita culta, mas acessível, de prosa coloquial e descontraída, há um moralista religioso de texto melancólico e rebuscado, com um estilo totalmente diferente. Através de Chico Xavier, o nome de Humberto também foi usado para vínculo com a Teologia do Sofrimento defendida pelo "médium".
No caso de Raul Seixas, outro suposto médium, Nelson Moraes, tentou imitar, mas de forma grosseira e caricatural, o estilo do roqueiro, em suposta psicografia usando o pseudônimo Zílio, que claramente não condiz ao estilo do roqueiro baiano. Além disso, a "mensagem espiritual" força a barra ao acentuar uma mística religiosa que Raul havia abandonado nos últimos anos de vida.
Nelson cometeu um grande erro que derruba qualquer hipótese de autenticidade na atribuição do seu Zílio à identidade de Raul Seixas, apelando também para a Teologia do Sofrimento na parte do não-questionamento da vida, algo que vai contra os ensinamentos kardecianos que buscam o questionamento como meio de resolver os problemas:
"Antes de questionar a vida, questione a si mesmo, analise seus conceitos, seus sentimentos, sua gratidão por aqueles que o ajudaram a renascer na Terra e, com certeza, você encontrará uma grande razão para viver e lutar contra o único inimigo que pode derrotá-lo: você mesmo!".
Muitos se recusam a admitir, mas o "espiritismo" brasileiro cometeu deslizes e equívocos da mais extrema gravidade, como a mediunidade fake e as ideias fundamentadas no livro Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing.
Esconder Roustaing e o articulador de muitos erros, o ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, debaixo do tapete, não resolve as coisas, porque muitos dos ídolos do "movimento espírita" foram e ainda são cúmplices de muitos procedimentos levianos e até ilícitos. No histórico do "espiritismo" brasileiro, existe até uma morte suspeita, do sobrinho de Francisco Cândido Xavier, Amauri Xavier, possivelmente envenenado por "queima de arquivo".
Isso é muito chocante para os leitos que recorrem à grande imprensa para conhecer o que é o "espiritismo" e observa um "céu de brigadeiro" no qual coexistem com supostas paz e equilíbrio o cientificismo de Allan Kardec e o igrejismo de Chico Xavier.
Muitos se recusam a perceber o quanto esses erros diversos nos bastidores do "espiritismo" brasileiro são muito graves, desmoralizando o legado trabalhoso que o pedagogo francês teve para difundir e explicar a Codificação. Mesmo quando admitem os erros, os seguidores, simpatizantes e leigos do "espiritismo" brasileiro chegam mesmo a acreditar que pode haver coerência numa seita de tantas confusões, impasses e até mentiras.
Como um PSDB da religião, blindado ao máximo e evitando a denúncia de uma tosse que venha de um "espírita", o "espiritismo" brasileiro se valeu de uma mediunidade fake, constatação esta que pode assustar e indignar muitos, mas é feita pela análise comparativa das obras "mediúnicas" com os estilos e outros aspectos pessoais dos mortos alegados, famosos ou não.
Essa pretensa mediunidade mostra irregularidades imensas que o fato de deixar "certos problemas" debaixo do tapete, sob a desculpa dos "mistérios da espiritualidade", não demonstra uma cautela no tema da manifestação espiritual, mas antes uma perigosa e irresponsável omissão.
As irregularidades de muitas pretensas psicografias e psicopictografias, para não dizer as psicofonias que mais parecem falsetes de stand up comedy, podem ser facilmente identificadas por análises de conteúdo, da mesma forma que podemos identificar fraudes em cartas apócrifas de sequestradores imitando a caligrafia de suas vítimas.
No caso das supostas psicografias de Chico Xavier, que o marketing religioso fez vender uma falsa imagem de "caridade plena", com toda a mitificação própria das paixões religiosas, as irregularidades podem ser identificadas por uma simples atenção nos textos dos supostos autores mortos e compará-los com o que eles haviam deixado em vida.
No caso de Auta de Souza, jovem poetisa potiguar que viveu no final do século XIX, o estilo peculiar da artista desaparece diante das supostas mensagens espirituais trazidas por Chico Xavier. Em vez do estilo feminino e quase infantil de Auta, observa-se o estilo masculino e igrejeiro do "médium" e, em certos momentos, a suposta Auta expressa pensamentos próprios de Chico em relação à Teologia do Sofrimento, da qual o "médium" foi sempre devoto.
Humberto de Campos também fez desaparecer seu estilo, em que pese eventuais pastiches que parodiam sua forma de narrar. Note-se que, no lugar do autor de escrita culta, mas acessível, de prosa coloquial e descontraída, há um moralista religioso de texto melancólico e rebuscado, com um estilo totalmente diferente. Através de Chico Xavier, o nome de Humberto também foi usado para vínculo com a Teologia do Sofrimento defendida pelo "médium".
No caso de Raul Seixas, outro suposto médium, Nelson Moraes, tentou imitar, mas de forma grosseira e caricatural, o estilo do roqueiro, em suposta psicografia usando o pseudônimo Zílio, que claramente não condiz ao estilo do roqueiro baiano. Além disso, a "mensagem espiritual" força a barra ao acentuar uma mística religiosa que Raul havia abandonado nos últimos anos de vida.
Nelson cometeu um grande erro que derruba qualquer hipótese de autenticidade na atribuição do seu Zílio à identidade de Raul Seixas, apelando também para a Teologia do Sofrimento na parte do não-questionamento da vida, algo que vai contra os ensinamentos kardecianos que buscam o questionamento como meio de resolver os problemas:
"Antes de questionar a vida, questione a si mesmo, analise seus conceitos, seus sentimentos, sua gratidão por aqueles que o ajudaram a renascer na Terra e, com certeza, você encontrará uma grande razão para viver e lutar contra o único inimigo que pode derrotá-lo: você mesmo!".
OFENSA À MEMÓRIA DOS MORTOS
Agindo desta forma, usurpando os nomes dos mortos para produzir imagens fake, os "médiuns" fazem dois tipos de oportunismo. Um é quando os mortos foram pessoas famosas, a apropriação tem por objetivo chamar a atenção com um nome ilustre, um tipo de pretensiosismo fraudulento que havia sido previsto no século XIX pela obra O Livro dos Médiuns, de Kardec.
Neste caso, a apropriação de um nome famoso rende sensacionalismo e atrai para o "movimento espírita" a adesão de muitos fãs da celebridade morta, criando assim um sucesso literário que rende dinheiros para a federação "espírita" nacional (FEB) ou regional, dando também publicidade para o suposto médium de plantão, que garante assim o seu estrelato.
No caso do morto não-famoso, o oportunismo é outro, desenvolvendo um outro sensacionalismo através da exploração ostensiva da comoção familiar, assim como serve para propaganda do suposto médium, que tenta se passar por alguém mais confiável e familiar para seus seguidores e adeptos. Isso também atrai muitas pessoas que desenvolvem uma devoção ao "médium", que se transforma em ídolo religioso, desenvolvendo um perigoso tipo de estrelato e presunção.
Mas o que chama a atenção, tanto em um quanto em outro tipo, é que a memória dos mortos acaba sendo alvo de séria ofensa. Afinal, se as mensagens "espirituais" destoam dos aspectos pessoais dos mortos alegados, isso é bem mais do que um simples deslize, mas uma desonestidade que não raro causa sérios danos à memória do falecido.
No caso de Chico Xavier, caso gravíssimo envolve Cartas e Crônicas, de 1966, quando o juízo de valor pessoal do "médium" contra as humildes vítimas do incêndio em um circo de Niterói, cinco anos antes, já era gravíssimo por si mesmo e piora ainda mais quando Chico põe a responsabilidade toda para Humberto, mal disfarçado pelo pseudônimo Irmão X.
Neste caso, ofende-se seriamente a memória de Humberto de Campos, avacalhado por Chico Xavier da maneira mais leviana possível. E Chico ainda praticou aquela farsa toda de atrair, em 1957, Humberto de Campos Filho para uma exibição de Assistencialismo e Ad Passiones, incluindo um tendencioso abraço "fraternal" na qual o anti-médium mineiro arriscou até um falsete, depois de hipnotizar e forçar o filho do autor maranhense a chorar de maneira copiosa, se usando do perigoso recurso do love bombing ("bombardeio de amor", um tipo de manipulação da mente humana).
Mas ofensas são feitas da parte de outros "médiuns", seja pelo juízo de valor, seja pela apropriação indébita, seja pela suposição de encarnações antigas através do "achismo", já que, sabemos, o "espiritismo" brasileiro nem está aí para a Ciência Espírita. Ou então pela malandragem do "médium" usar os nomes dos mortos de sua escolha para "forçá-los", simbolicamente, a "concordarem" com ele.
Transformar um morto em garoto-propaganda da religião "espírita" é muito comum, tal como botar na conta do falecido ideias que este nunca defenderia. Raul Seixas, por exemplo, nunca iria defender ideias medievais como a do "inimigo de si mesmo". Quem acompanhou as últimas entrevistas de Raul Seixas sabe muito bem que Zílio era uma fraude construída a partir de estereótipos que o roqueiro baiano recebeu das páginas de fofocas e de programas de variedades da TV aberta.
Isso é terrível e traz uma falsa impressão de que toda pessoa, quando morre, vira funcionário de igreja. E isso desmoralizou e arruinou completamente com a atividade mediúnica no Brasil, transformada numa terrível brincadeira de faz de conta, e fez também os espíritos do além-túmulo se tornarem praticamente incomunicáveis com os brasileiros, diante da desconfiança quanto a fraudes e receio de promover as vaidades pessoais dos "médiuns".