JOSÉ MARIA MARIN, EX-PRESIDENTE DA CBF, PRESO HÁ TRÊS DIAS.
A patriotada futebolística sofreu seu duro golpe quando o FBI (Federal Bureau of Investigation) decretou a prisão do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin, e mais outros seis dirigentes esportivos. Segundo os investigadores, esse é só o começo do desmonte de uma cúpula que há muito tempo se beneficiava com fraudes ligadas ao futebol brasileiro.
É a mesma cúpula que se responsabilizava pela manipulação de resultados, de maneira que favorecesse a Seleção Brasileira de Futebol e seus dirigentes maiores, Ricardo Teixeira, João Havelange e outros, se aproveitando da boa-fé de muitos torcedores. Eles também estão sob investigação pelo FBI.
A manipulação envolvia até mesmo feitos aparentemente positivos, como a vitória da Copa do Mundo Japão-Coreia do Sul, de 2002, que analistas consideram a mais fraudulenta edição do famoso torneio mundial de futebol.
Nela, uma Seleção Brasileira de Futebol, medíocre e sem entrosamento - devido à proveniência dispersa dos jogadores brasileiros que atuam no exterior - , que se mostrava deficitária nas Eliminatórias, em 2001, e passou a Copa de 2002 fazendo um péssimo desempenho, apesar de ter ganho todas as partidas.
Uma delas, contra a Seleção da Inglaterra, os jogadores do país europeu tiveram um desempenho estranho. Pareciam mais seguros e equilibrados em relação aos brasileiros. Ronaldinho Gaúcho fez um gol e, depois, perdeu a cabeça e levou cartão vermelho.
Com um jogador a menos, a Seleção Brasileira poderia ter perdido a partida, mas os ingleses praticamente estavam "imobilizados", com atitudes que a imprensa esportiva britânica definiu como estranhas, tendo o jogador brasileiro Rivaldo encontrado o campo adversário "livre demais" para fazer o segundo gol.
A derrota do jogo contra a equipe inglesa seria o fim do "penta", uma premiação que a grande mídia corporativa, solidária aos dirigentes esportivos, define como "gloriosa", mas que foi a pior vitória obtida pela Seleção Brasileira de Futebol em sua história, pelo desempenho bastante duvidoso e pela queda "fácil demais" das grandes seleções no evento.
Para completar, Chico Xavier morreu em 30 de junho de 2002, dia em que o Brasil, quer dizer, os dirigentes esportivos brasileiros, estavam felizes. Isso aumentou não só o mito de Chico Xavier como o vínculo entre o "espiritismo" brasileiro e o fanatismo do futebol.
Com isso, veio a interpretação posterior da "profecia" de Chico Xavier sobre a "Data-Limite", alegando que a elevação do Brasil a "coração do mundo e pátria do Evangelho", "prevista" para a partir de 2019, seria adiantada em 2014, ano em que o país foi escolhido para sediar a Copa do Mundo da FIFA.
Isso uniu a patriotada do futebol à patriotada "espírita". Duas instituições, CBF e FEB, se uniram para promover a supremacia brasileira e usar o futebol como "forma" de "promover a fraternidade entre os povos do planeta".
A corrupção do futebol ganha a parceria da corrupção "espírita", em que os manipuladores de resultados e criadores de um esquema fraudulento, no qual os "amistosos" servem apenas para aumentar suas rendas já estratosféricas, se ligam à corrupção "espírita" e seu faz-de-conta "mediúnico" marcado por mensagens apócrifas vindas das mentes dos "médiuns".
A aliança das lideranças "espíritas" e dos "cartolas" brasileiros, se não é direta nem literal, pois nunca houve um acordo presencial entre ambos os lados, era pelo menos ideológica, diante da afinidade de sentimentos em prol da "supremacia brasileira".
E aí se observa a crise que o Brasil vive, que desafia o "otimismo" de "cartolas" e "espíritas", uma vez que seu ufanismo não corresponde aos interesses e necessidades reais das classes populares, que precisam mais de qualidade de vida do que do espetáculo para mascarar suas situações inferiorizadas pelo poder político e econômico.
domingo, 31 de maio de 2015
sábado, 30 de maio de 2015
"Desafio Charlie" e "Desafio Chico"
DRAMATIZAÇÃO DAS "PSICOGRAFIAS" DE CHICO XAVIER, NO FILME AS MÃES DE CHICO XAVIER.
Um dos assuntos do momento é o "Desafio Charlie", uma brincadeira feita por crianças e adolescentes que consiste em criar uma folha de papel, na qual as palavras "Sim" e "Não", com cada uma posicionada duas vezes, uma em diagonal com a outra, formam uma quadrinha, sobre a qual são colocados dois lápis, um sobre outro, em posição transversal.
Com esses objetos, os curiosos fazem perguntas de qualquer natureza - mesmo as mais maliciosas e traiçoeiras - a um suposto espírito a quem se dá o nome de "Charlie". O lápis de cima é movimentado e, se ele para na palavra "Sim", a resposta é afirmativa. Se para na palavra "Não", ela é negativa.
A prática é muito difundida nas mídias sociais, como no Instagram, Twitter, Facebook e YouTube. Vários jovens ficaram assustados. No Brasil, um caso de mal estar entre alunos de uma escola pública em Manaus foi noticiado pela imprensa.
A prática do "Desafio Charlie" fez várias alunas sentirem convulsões e desmaios. Uma aluna foi carregada de maca. Outra foi detida por um funcionário da escola e estava perturbada, falando coisas absurdas e pedindo para que ninguém a levasse para fora do lugar.
Houve alunos que se batiam ou se enforcavam, em cenas que causaram horror nos colegas. Vários estudantes imploraram para seus pais para não voltarem à escola, traumatizados com as ocorrências que tinham que tomar conhecimento.
A prática, comparável à tábua Ouija, representa um grande perigo e faz com que espíritos zombeteiros se divirtam às custas das perturbações que os curiosos acabam tendo com o jogo do "Charlie, Charlie", outro nome do fenômeno. A brincadeira é uma fonte de obsessões espirituais que podem trazer danos mais graves no futuro.
Dizendo assim, com toda a certeza se está afirmando, com a máxima coerência, do grave perigo que essa prática apresenta para seus usuários. Mas muitos devem pensar que o "movimento espírita", descontando adeptos descuidados, está imune a práticas igualmente perigosas. Só que não é bem assim que acontece.
CHICO XAVIER, O "HOMEM CHAMADO OUIJA"
O caso de Francisco Cândido Xavier e suas mensagens "espirituais" mostra que o verniz de "seriedade" é insuficiente para dar transparência e confiabilidade a essas práticas que, à sua maneira, são uma espécie de "Desafio Charlie" dos adultos, pelo perigo que isso representa.
Chico Xavier prejudicou muitas famílias explorando suas tragédias e transformando-as no ostensivo espetáculo de pieguice, sensacionalismo e propagandismo religioso. O anti-médium mineiro explorou levianamente as tragédias familiares e se apropriava e autopromovia às custas das dores que as famílias deveriam sofrer no íntimo de sua privacidade.
A desesperada corrida de familiares para saberem as mensagens dos entes queridos falecidos, formando longas filas visando o atendimento "fraternal" de Chico Xavier, mostram o grotesco do sensacionalismo místico, promovendo o "Homem Chamado Amor" que, na verdade, deveria ser definido como o "Homem Chamado Ouija".
Isso porque Chico Xavier foi a personificação humana da tábua Ouija, simbolicamente falando. É certo que ele escrevia mensagens apócrifas, quase sempre de sua própria imaginação, usando "leitura fria" de seus clientes (ou seja, as manipulava emocionalmente para divulgar detalhes aprofundados sobre suas vidas e as dos entes falecidos) para produzir mensagens de igual apelo religioso.
As famílias acabam recorrendo a ele como quem recorre à tábua Ouija, querendo saber respostas supostamente atribuídas aos espíritos de seus entes queridos. A perspectiva é a mesma, e o descuido também, e muitas famílias perdem tempo e se comovem à toa, diante de mensagens que, em verdade, não seriam realmente dos falecidos parentes ou amigos.
O "Desafio Chico" torna-se uma fonte de sensacionalismo, ostentação, exploração e prolongamento das tragédias e tristezas familiares. Falsas alegrias são produzidas pelas mensagens apócrifas, enquanto os familiares acabam expondo seus comportamentos patéticos, fartamente documentados para o marketing religioso feito para lotar "centros espíritas" e garantir fama, para não dizer dinheiro, a seus líderes e "médiuns".
A roupagem de "seriedade" e o pretexto da "caridade" não livram tal prática do caráter leviano e perigoso observado no "Desafio Charlie". Pelo contrário, em se tratando de uma prática ainda mais sutil e engenhosa, ela demonstra ser muito mais perigosa, perturbando os espíritos de bem encarnados e desencarnados e criando problemas diversos às famílias.
É bom deixar claro que o "espiritismo" brasileiro, pelas suas energias negativas trazidas pelo seu caráter católico-medieval, pelo seu moralismo religioso e seu ultraconservadorismo influem nas mortes precoces de membros de famílias já praticantes dessa religião confusa e retrógrada. Os jovens são "sacrificados" em prol de uma seita "espiritualista" que valoriza valores ideológicos antigos, herdados pelo Catolicismo português medieval.
Por isso, a "religião espírita", como se conhece no Brasil, completamente divorciada do pensamento científico de Allan Kardec, se reduz a um religiosismo de valor duvidoso, que rebaixa a mediunidade a um espetáculo comparável ao das tábuas Ouija, das mesas girantes e do "Desafio Charlie".
Sem estudos nem pesquisas sérios e honestos, e preso a um conservadorismo religioso e moralista, o "espiritismo" brasileiro acaba se equiparando às perigosas brincadeiras que fazem os espíritos zombeteiros se divertirem.
E isso vem com o agravante de que o verniz de seriedade e de superioridade do "espiritismo" causa ainda mais entusiasmo aos espíritos zombeteiros, por tornar a "brincadeira" da pretensa mediunidade mais sutil e engenhosa.
Um dos assuntos do momento é o "Desafio Charlie", uma brincadeira feita por crianças e adolescentes que consiste em criar uma folha de papel, na qual as palavras "Sim" e "Não", com cada uma posicionada duas vezes, uma em diagonal com a outra, formam uma quadrinha, sobre a qual são colocados dois lápis, um sobre outro, em posição transversal.
Com esses objetos, os curiosos fazem perguntas de qualquer natureza - mesmo as mais maliciosas e traiçoeiras - a um suposto espírito a quem se dá o nome de "Charlie". O lápis de cima é movimentado e, se ele para na palavra "Sim", a resposta é afirmativa. Se para na palavra "Não", ela é negativa.
A prática é muito difundida nas mídias sociais, como no Instagram, Twitter, Facebook e YouTube. Vários jovens ficaram assustados. No Brasil, um caso de mal estar entre alunos de uma escola pública em Manaus foi noticiado pela imprensa.
A prática do "Desafio Charlie" fez várias alunas sentirem convulsões e desmaios. Uma aluna foi carregada de maca. Outra foi detida por um funcionário da escola e estava perturbada, falando coisas absurdas e pedindo para que ninguém a levasse para fora do lugar.
Houve alunos que se batiam ou se enforcavam, em cenas que causaram horror nos colegas. Vários estudantes imploraram para seus pais para não voltarem à escola, traumatizados com as ocorrências que tinham que tomar conhecimento.
A prática, comparável à tábua Ouija, representa um grande perigo e faz com que espíritos zombeteiros se divirtam às custas das perturbações que os curiosos acabam tendo com o jogo do "Charlie, Charlie", outro nome do fenômeno. A brincadeira é uma fonte de obsessões espirituais que podem trazer danos mais graves no futuro.
Dizendo assim, com toda a certeza se está afirmando, com a máxima coerência, do grave perigo que essa prática apresenta para seus usuários. Mas muitos devem pensar que o "movimento espírita", descontando adeptos descuidados, está imune a práticas igualmente perigosas. Só que não é bem assim que acontece.
CHICO XAVIER, O "HOMEM CHAMADO OUIJA"
O caso de Francisco Cândido Xavier e suas mensagens "espirituais" mostra que o verniz de "seriedade" é insuficiente para dar transparência e confiabilidade a essas práticas que, à sua maneira, são uma espécie de "Desafio Charlie" dos adultos, pelo perigo que isso representa.
Chico Xavier prejudicou muitas famílias explorando suas tragédias e transformando-as no ostensivo espetáculo de pieguice, sensacionalismo e propagandismo religioso. O anti-médium mineiro explorou levianamente as tragédias familiares e se apropriava e autopromovia às custas das dores que as famílias deveriam sofrer no íntimo de sua privacidade.
A desesperada corrida de familiares para saberem as mensagens dos entes queridos falecidos, formando longas filas visando o atendimento "fraternal" de Chico Xavier, mostram o grotesco do sensacionalismo místico, promovendo o "Homem Chamado Amor" que, na verdade, deveria ser definido como o "Homem Chamado Ouija".
Isso porque Chico Xavier foi a personificação humana da tábua Ouija, simbolicamente falando. É certo que ele escrevia mensagens apócrifas, quase sempre de sua própria imaginação, usando "leitura fria" de seus clientes (ou seja, as manipulava emocionalmente para divulgar detalhes aprofundados sobre suas vidas e as dos entes falecidos) para produzir mensagens de igual apelo religioso.
As famílias acabam recorrendo a ele como quem recorre à tábua Ouija, querendo saber respostas supostamente atribuídas aos espíritos de seus entes queridos. A perspectiva é a mesma, e o descuido também, e muitas famílias perdem tempo e se comovem à toa, diante de mensagens que, em verdade, não seriam realmente dos falecidos parentes ou amigos.
O "Desafio Chico" torna-se uma fonte de sensacionalismo, ostentação, exploração e prolongamento das tragédias e tristezas familiares. Falsas alegrias são produzidas pelas mensagens apócrifas, enquanto os familiares acabam expondo seus comportamentos patéticos, fartamente documentados para o marketing religioso feito para lotar "centros espíritas" e garantir fama, para não dizer dinheiro, a seus líderes e "médiuns".
A roupagem de "seriedade" e o pretexto da "caridade" não livram tal prática do caráter leviano e perigoso observado no "Desafio Charlie". Pelo contrário, em se tratando de uma prática ainda mais sutil e engenhosa, ela demonstra ser muito mais perigosa, perturbando os espíritos de bem encarnados e desencarnados e criando problemas diversos às famílias.
É bom deixar claro que o "espiritismo" brasileiro, pelas suas energias negativas trazidas pelo seu caráter católico-medieval, pelo seu moralismo religioso e seu ultraconservadorismo influem nas mortes precoces de membros de famílias já praticantes dessa religião confusa e retrógrada. Os jovens são "sacrificados" em prol de uma seita "espiritualista" que valoriza valores ideológicos antigos, herdados pelo Catolicismo português medieval.
Por isso, a "religião espírita", como se conhece no Brasil, completamente divorciada do pensamento científico de Allan Kardec, se reduz a um religiosismo de valor duvidoso, que rebaixa a mediunidade a um espetáculo comparável ao das tábuas Ouija, das mesas girantes e do "Desafio Charlie".
Sem estudos nem pesquisas sérios e honestos, e preso a um conservadorismo religioso e moralista, o "espiritismo" brasileiro acaba se equiparando às perigosas brincadeiras que fazem os espíritos zombeteiros se divertirem.
E isso vem com o agravante de que o verniz de seriedade e de superioridade do "espiritismo" causa ainda mais entusiasmo aos espíritos zombeteiros, por tornar a "brincadeira" da pretensa mediunidade mais sutil e engenhosa.
sexta-feira, 29 de maio de 2015
A Copa do Mundo 2014 quis ser o "aperitivo" para a "Data-Limite"
SELEÇÃO BRASILEIRA, DIANTE DA HUMILHANTE DERROTA NO JOGO CONTRA A SELEÇÃO ALEMÃ, NA COPA DO MUNDO DE 2014.
A prisão, anteontem, do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin, atualmente uma das figuras de honra da gestão de Joseph Blatter (até a edição deste texto, presidente da FIFA, Federação Internacional de Football Association), da qual comentaremos em outra oportunidade, nos faz pensar sobre as relações entre ufanismo "espirita" e ufanismo no futebol.
Antes de se revelar o grande desastre para os brasileiros, tanto nos prejuízos financeiros quanto no péssimo desempenho da Seleção Brasileira de Futebol, a Copa do Mundo do Brasil 2014 era anunciada como um período de "grande importância" para a sociedade brasileira, sob a ótica do "espiritismo" brasileiro.
Até mesmo uma mensagem "psicofônica", na verdade um falsete de um líder "espírita" forjando o que imaginava ser a voz do abolicionista José do Patrocínio - que, tendo vivido no século XIX e no ínício do século XX, não viveu para ver as tecnologias de registro sonoro se tornarem mais acessíveis, não registrando sua voz para a posteridade - , foi feita.
A mensagem do falso José do Patrocínio apelava para uma risível, de tão constrangedora, propaganda religiosa, em que se atribuída ao combativo abolicionista o passivo apelo de "orar pela paz", trazida no dia 10 de maio do ano passado pelo "médium" João Pinto Rabelo, na sede da Federação "Espírita" Brasileira, em Brasília. Em outra oportunidade, reproduziremos a mensagem.
Essa mensagem supostamente psicofônica tentava coroar todas as expectativas que a FEB tinha em relação à Copa do Mundo realizada no Brasil. "Agora é que a profecia de Chico Xavier começará a valer. Era tudo o que sonhamos há décadas", diriam, provavelmente, seus líderes.
Chico Xavier faleceu em 30 de junho de 2002, no dia do "penta", oficialmente tido como "o dia em que o povo brasileiro estava feliz", conforme teria dito o anti-médium no final de sua vida. Só que a Copa de 2002, realizada na Coreia do Sul e no Japão, foi a pior da história desse evento e mostrou uma seleção brasileira, mesmo desastrosa, ganhar todas as partidas.
Houve até mesmo atuações irregulares de árbitros e um estranho desempenho da seleção inglesa, que deixou ser derrotada por uma insegura e temperamental seleção brasileira que, com um jogador a menos (Ronaldinho Gaúcho, autor do primeiro gol, perdeu a cabeça e foi expulso), "ganhou" a partida por 2 a 1, com o campo rival "liberado" para Rivaldo, sem marcação, fazer o segundo.
Essa era a Copa que Ricardo Teixeira, José Maria Marin, João Havelange, Marco Polo Del Nero e outros comparsas queriam. Eles é que foram os "brasileiros felizes" do estranho "penta", que cheirava a uma vitória comprada, já que, desde as Eliminatórias da Copa, em 2001, a Seleção Brasileira de Futebol não estava nos seus melhores momentos.
Mas aí a "vitória da seleção" criou expectativas que "ajudassem a confirmar" a "profecia" de Chico Xavier de que o Brasil seria "mesmo" o "coração do mundo" em 2019. 2014 seria o "aperitivo", depois que o Brasil foi escolhido para sediar o evento, como "prêmio" pelo seu "bom desempenho" em 2002.
Com isso, ao ufanismo futebolístico que tem como seu principal porta-voz o locutor da Rede Globo de Televisão, Galvão Bueno, se somou o ufanismo religioso que previa que, com a Copa de 2014, o Brasil iria reunir uma "grande diversidade de povos estrangeiros", fazendo com que o evento fosse "símbolo da fraternidade e da solidariedade cristãs".
Juntando isso ao ufanismo econômico do Governo Federal - que em 2002, contrariando as expectativas de mais um governo do PSDB, fez o Partido dos Trabalhadores vitorioso pela primeira vez - , surgiu a promessa do Brasil como maior potência econômica do planeta, e líder dos chamados BRICS (grupo dos países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Só que, desde 2012, estourou a crise econômica. Em 2013 já haviam protestos de rua contra tantas arbitrariedades de âmbito político e sócio-econômico. Em 2014 a Copa do Mundo 2014 foi um fiasco e a população saiu irritada. O "aperitivo" da "profecia' de Chico Xavier foi para o ralo.
Hoje se nota um país em crises profundas, em conflitos e crise de valores, e é pouco provável que a tal "profecia" se cumpra em 2019 ou mesmo depois dela. Dos BRICS, a China, mesmo autoritária e desigual, partiu para a dianteira, e é possível que Rússia e Índia passem a perna no Brasil, mesmo com suas respectivas crises.
Isso porque o Brasil não só é um país desigual mas um país confuso, que trabalhou suas expectativas e perspectivas ainda pensando em reviver o "milagre brasileiro" da Era Médici, através de elites tecnocráticas, empresariais e políticas que até hoje ditam valores nem sempre benéficos à sociedade.
A prisão, anteontem, do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin, atualmente uma das figuras de honra da gestão de Joseph Blatter (até a edição deste texto, presidente da FIFA, Federação Internacional de Football Association), da qual comentaremos em outra oportunidade, nos faz pensar sobre as relações entre ufanismo "espirita" e ufanismo no futebol.
Antes de se revelar o grande desastre para os brasileiros, tanto nos prejuízos financeiros quanto no péssimo desempenho da Seleção Brasileira de Futebol, a Copa do Mundo do Brasil 2014 era anunciada como um período de "grande importância" para a sociedade brasileira, sob a ótica do "espiritismo" brasileiro.
Até mesmo uma mensagem "psicofônica", na verdade um falsete de um líder "espírita" forjando o que imaginava ser a voz do abolicionista José do Patrocínio - que, tendo vivido no século XIX e no ínício do século XX, não viveu para ver as tecnologias de registro sonoro se tornarem mais acessíveis, não registrando sua voz para a posteridade - , foi feita.
A mensagem do falso José do Patrocínio apelava para uma risível, de tão constrangedora, propaganda religiosa, em que se atribuída ao combativo abolicionista o passivo apelo de "orar pela paz", trazida no dia 10 de maio do ano passado pelo "médium" João Pinto Rabelo, na sede da Federação "Espírita" Brasileira, em Brasília. Em outra oportunidade, reproduziremos a mensagem.
Essa mensagem supostamente psicofônica tentava coroar todas as expectativas que a FEB tinha em relação à Copa do Mundo realizada no Brasil. "Agora é que a profecia de Chico Xavier começará a valer. Era tudo o que sonhamos há décadas", diriam, provavelmente, seus líderes.
Chico Xavier faleceu em 30 de junho de 2002, no dia do "penta", oficialmente tido como "o dia em que o povo brasileiro estava feliz", conforme teria dito o anti-médium no final de sua vida. Só que a Copa de 2002, realizada na Coreia do Sul e no Japão, foi a pior da história desse evento e mostrou uma seleção brasileira, mesmo desastrosa, ganhar todas as partidas.
Houve até mesmo atuações irregulares de árbitros e um estranho desempenho da seleção inglesa, que deixou ser derrotada por uma insegura e temperamental seleção brasileira que, com um jogador a menos (Ronaldinho Gaúcho, autor do primeiro gol, perdeu a cabeça e foi expulso), "ganhou" a partida por 2 a 1, com o campo rival "liberado" para Rivaldo, sem marcação, fazer o segundo.
Essa era a Copa que Ricardo Teixeira, José Maria Marin, João Havelange, Marco Polo Del Nero e outros comparsas queriam. Eles é que foram os "brasileiros felizes" do estranho "penta", que cheirava a uma vitória comprada, já que, desde as Eliminatórias da Copa, em 2001, a Seleção Brasileira de Futebol não estava nos seus melhores momentos.
Mas aí a "vitória da seleção" criou expectativas que "ajudassem a confirmar" a "profecia" de Chico Xavier de que o Brasil seria "mesmo" o "coração do mundo" em 2019. 2014 seria o "aperitivo", depois que o Brasil foi escolhido para sediar o evento, como "prêmio" pelo seu "bom desempenho" em 2002.
Com isso, ao ufanismo futebolístico que tem como seu principal porta-voz o locutor da Rede Globo de Televisão, Galvão Bueno, se somou o ufanismo religioso que previa que, com a Copa de 2014, o Brasil iria reunir uma "grande diversidade de povos estrangeiros", fazendo com que o evento fosse "símbolo da fraternidade e da solidariedade cristãs".
Juntando isso ao ufanismo econômico do Governo Federal - que em 2002, contrariando as expectativas de mais um governo do PSDB, fez o Partido dos Trabalhadores vitorioso pela primeira vez - , surgiu a promessa do Brasil como maior potência econômica do planeta, e líder dos chamados BRICS (grupo dos países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Só que, desde 2012, estourou a crise econômica. Em 2013 já haviam protestos de rua contra tantas arbitrariedades de âmbito político e sócio-econômico. Em 2014 a Copa do Mundo 2014 foi um fiasco e a população saiu irritada. O "aperitivo" da "profecia' de Chico Xavier foi para o ralo.
Hoje se nota um país em crises profundas, em conflitos e crise de valores, e é pouco provável que a tal "profecia" se cumpra em 2019 ou mesmo depois dela. Dos BRICS, a China, mesmo autoritária e desigual, partiu para a dianteira, e é possível que Rússia e Índia passem a perna no Brasil, mesmo com suas respectivas crises.
Isso porque o Brasil não só é um país desigual mas um país confuso, que trabalhou suas expectativas e perspectivas ainda pensando em reviver o "milagre brasileiro" da Era Médici, através de elites tecnocráticas, empresariais e políticas que até hoje ditam valores nem sempre benéficos à sociedade.
quinta-feira, 28 de maio de 2015
Brincadeira do "Desafio Charlie" expressa nova "tábua Ouija"
Uma nova prática perigosa de evocação de espíritos virou mania entre os jovens, conforme vídeos divulgados nas mídias sociais. É o "Desafio Charlie" ("Charlie Challenge") ou simplesmente a brincadeira do "Charlie, Charlie", que se torna a nova "tábua Ouija" da vez.
A brincadeira consiste em colocar uma folha de papel e nela escrever as palavras "sim" e "não" em posições diagonais, formando uma quadrinha de quatro opções. Dois lápis são colocados em posição transversal, formando uma cruz.
Uma pergunta, qualquer que seja, é feita para um suposto espírito, denominado Charlie. O lápis que está posicionado acima do outro se movimenta e a resposta que alcançar, seja "sim" ou "não", é atribuída ao espírito.
Muitas pessoas ficaram impressionadas e até assustadas com o jogo, mas há quem ache isso ridículo, não o vendo mais do que uma brincadeira, uma simulação de contato espiritual. O grande problema é que mesmo nessas simulações a influência de espíritos brincalhões pode se tornar perigosa. Eles se divertem mesmo quando a brincadeira não seja necessariamente uma evocação espiritual.
Desde o Egito Antigo, práticas desse tipo eram feitas, e consistem na chamada necromancia, que é evocar os espíritos dos mortos para oferecerem uma resposta pronta sobre qualquer fato ou sobre o futuro de uma pessoa.
Em muitos casos, é um ritual místico, em outros uma brincadeira sobrenatural, mas a verdade é que se trata de uma prática sem a menor confiabilidade, que pode trazer impressões enganosas ou danos para a vida de cada pessoa.
E A "TÁBUA OUIJA" DO "ESPIRITISMO"?
O "movimento espírita", através dos comentários de seus líderes e palestrantes, julgam o fenômeno do "Desafio Charlie" como uma perigosa brincadeira que faria com que a ingenuidade dos instintos juvenis se deixassem levar por espíritos obsessores que participam desse jogo de perguntas e respostas.
Segundo a interpretação deles, o "movimento espírita" usa de forma "responsável" os dons mediúnicos, e que os "médiuns" Chico Xavier e Divaldo Franco tiveram suas trajetórias marcadas de "muita disciplina", feita com "precisão e rigor cirúrgicos".
Mas a realidade mostra que não é bem assim que acontece. Mesmo os "renomados" Chico e Divaldo estão associados a práticas tão perigosas e fúteis quanto o "Desafio Charlie", e, mesmo com Chico já falecido e Divaldo se aposentando da prática, eles não deixam de serem alvos de questionamentos severos.
Afinal, os dois, católicos fervorosos e discípulos de Jean-Baptiste Roustaing (apesar de Divaldo dizer que "pouco conhece" da obra do advogado francês), nunca estudaram a Ciência Espírita e nem quiseram desenvolver, a sério, a limitada mediunidade que tinham.
Em vez disso, a relativa mediunidade que os fazia falar com os espíritos do além - sobretudo seus respectivos mentores católicos, Emmanuel (que foi o Padre Manuel da Nóbrega) e Joana de Angelis (que NÃO foi Joana Angélica, porque a autoritária "orientadora" de Divaldo destoava em personalidade da sóror do Convento da Lapa) - e psicografar pereceu e se corrompeu.
Dessa forma, Chico Xavier preferiu escrever mensagens da sua própria mente e atribui-las aos espíritos do além. As mensagens apresentavam apenas sua caligrafia e seus textos eram muito semelhantes entre si. Divaldo foi na carona, mas depois resolveu, com seus falsetes, inventar que também fazia psicofonia.
E tudo isso era feito com os dois anti-médiuns fazendo propaganda do "espiritismo" que já nasceu deturpado no Brasil e tomado da mais absoluta irresponsabilidade. Só que todo um jogo de aparências, envolvendo um arremedo de filantropia e um simulacro de moralidade foi feito pelo movimento religioso e toda uma propaganda fez Chico e Divaldo virarem grandes mitos.
Tudo isso era feito com a astúcia e a pretensa serenidade dos líderes "espíritas". Algo que não se vê no comportamento impulsivo dos jovens que fazem o "Desafio Charlie" ou dos "leigos" que faziam a "tábua Ouija" e outras brincadeiras do tipo.
Só que aí a coisa é mais grave, porque os piores erros vêm sob a máscara dos falsos acertos, pretensamente grandiosos. A grandiloquência e a simulação de elevação moral faz com que as brincadeiras puxadas por Chico Xavier e Divaldo Franco tornassem muito mais perigosas do que a evocação espiritual forjada pelas brincadeiras juvenis.
Isso porque é muito mais fácil combater o "Desafio Charlie". Uma boa bronca dos pais e uma campanha na Internet podem desfazer a brincadeira com alguma eficiência. Já as brincadeiras de Chico e Divaldo vestem a capa da "moralidade plena" e da "caridade pura", o que torna suas práticas ainda mais traiçoeiras. Nestas práticas, os espíritos zombeteiros se divertem mais ainda.
quarta-feira, 27 de maio de 2015
A "profecia" da "Data-Limite" seria uma revanche dos degredados?
QUEM NÃO ERA CONDENADO À MORTE OU À TORTURA PELA INQUISIÇÃO PORTUGUESA ERA CONDENADO AO EXÍLIO, DENOMINADO "DEGREDO", EM TERRA DISTANTE.
Nas análises que fazemos sobre a "Data-Limite", lançamos diversas possibilidades, mas sempre num sentido de questionar o sentido "científico-filantrópico" atribuído oficialmente à suposta previsão trazida por Francisco Cândido Xavier através de relato dado a Geraldo Lemos Neto em 1969.
Geraldo, que divulgou o relato de Chico Xavier a partir de 1986, disse que a "profecia" anunciava o risco do Hemisfério Norte se tornar uma região inabitável, devido a guerras, atos terroristas e catástrofes naturais, e, sob as "cinzas" do "velho mundo", o Brasil se ascenderia como "coração do mundo" e "pátria do Evangelho", utopia bastante conhecida do anti-médium mineiro.
É certo que uma parcela de seguidores de Chico Xavier reclamou do caráter "fatalista" da suposta profecia, alegando que ela partiu de uma outra pessoa e Chico não teria pensado assim porque não o transmitiu ele mesmo para as pessoas.
No entanto, seu relato a Geraldo Lemos Neto, embora fosse a transmissão indireta de uma mensagem do anti-médium, corresponde, sim, ao pensamento de Chico Xavier, uma vez que juntam relatos já trazidos por seu "mentor" Emmanuel em 1938 e que a supremacia brasileira no mundo já era defendida pelo mineiro desde suas primeiras "psicografias".
É claro que chama muito a atenção o "alerta" da destruição do Hemisfério Norte, área onde se situam países que já têm experiência em progressos de caráter científico, intelectual e cultural. Países com larga experiência de crises, rebeliões e revoluções, que segundo Chico Xavier correriam o risco de desaparecerem pela catástrofe e pela violência.
DESTRUIÇÃO DE SOCIEDADES AVANÇADAS
O que isso quer dizer? Se compararmos o que as guerras fizeram com o legado da Antiguidade Clássica, sobretudo da Grécia Antiga, e o que a supremacia do Império Romano fez deixando à margem todas as grandes lições dos intelectuais e artistas gregos e de outros povos antigos, dá para perceber o sentido oculto da coisa, não muito agradável para os chiquistas.
Afinal, o que se observará é, mais uma vez, a destruição de países com avançado desenvolvimento sócio-econômico ou tecnológico e o "velho mundo" não envolve apenas países de "exemplos lamentáveis" como os EUA que exercem mal sua hegemonia planetária ou o Oriente Médio foco de grupos extremamente violentos.
O "velho mundo" envolve também países que rediscutem os próprios defeitos e debilidades de países desenvolvidos, como Alemanha, França e Bélgica, além das nações com significativa prosperidade e desenvolvimento humano, como os países da Escandinávia (Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia e a vulcânica Islândia).
Mais uma vez se repetirá o extermínio de um legado de sociedades desenvolvidas, interrompendo o caminho da evolução humana na Terra, adiando as transformações para tempos em que elas se tornassem inofensivas para as estruturas de poder dominante no planeta.
E, se as ruínas da Antiguidade Clássica abriram caminho para a fase medieval do Império Romano e, após sua queda, pela supremacia religiosa do Império Bizantino (antigo Império Romano do Oriente), a ascensão do Brasil através do "espiritismo cristão" e sobre as ruínas do "velho mundo", indicam a repetição da História, essa área tão mal compreendida pelo próprio Chico Xavier.
Afinal, cabe uns parênteses: Chico Xavier, embora razoavelmente escolarizado, expressava erros grosseiros de História, além de incompreensões aberrantes sobre Sociologia, Geologia e Geografia Humana, como se observa na sua abordagem risivelmente cartográfica sobre os rumos geopolíticos da humanidade da Terra.
Nota-se que nações que, embora com alguma tendência majoritariamente religiosa, mostrem tanto flexibilidade de crenças quanto a expressiva presença de ateus e agnósticos, são justamente as que a "profecia" de Chico Xavier define como "ameaçadas".
Em contrapartida, ele enfatiza nações consideradas "de firme supremacia religiosa" como as que seriam "poupadas" pelas catástrofes. E enumera o Brasil, predominantemente religioso, com a supremacia oficial do Catolicismo, a ascensão dos evangélicos e o protecionismo midiático e mercadológico ao "movimento espírita", como nação que se "ascenderá" ao poder planetário.
REVANCHE
E o que têm a ver os degredados com isso? Não seria uma espécie de "acerto de contas" para o "mundo" que expulsou bandidos, assassinos, arruaceiros, feiticeiros e ciganos visando o seu desenvolvimento social?
Portugal, que investiu na expulsão dessas pessoas, mais os hereges que não professaram originalmente o Catolicismo, definindo-os como degredados pelo fato de definirem o tipo de exílio deles em terras distantes (como áreas distantes de controle português, como Brasil e Angola, na África), queria se desenvolver como país, a partir da Era das Grandes Navegações (Séculos XV-XVI).
Após o terremoto que arrasou Lisboa e outras regiões portuguesas, em 1755, isso se tornou ainda mais acentuado. Portugal, considerado "país-cliente" da Grã-Bretanha, então a maior potência econômica do mundo, há muito queria se emancipar socialmente, transformando o Brasil no repositório de pessoas "desagradáveis" e o terremoto (ao qual se somou um maremoto) só aumentou essa necessidade.
Dessa maneira, se os degredados já eram enviados para o Brasil desde pouco antes de 1500, significando, aos olhos das autoridades da Coroa portuguesa, uma "limpeza social" no país europeu, o terremoto de 1755 representou medidas ainda mais austeras para evitar que Portugal falisse como nação.
E aí veio a ordem do Marquês de Pombal, primeiro-ministro português, de se encerrarem as atividades da Companhia de Jesus. O conhecido catecismo católico deixava de ser praticado em larga escala no Brasil e seus missionários teriam que voltar ao país de origem, porque a Metrópole portuguesa não queria gastar mais dinheiro para a colônia, de administração bastante onerosa.
E o que teria havido no plano espiritual? Muito provavelmente o plano de uma revanche através de uma religião que combinasse o antigo Catolicismo medieval com algumas concessões dadas às atividades hereges. Pegando carona na novidade da Doutrina Espírita de Allan Kardec, quase nada foi aproveitado do pedagogo francês, mas mesmo assim a religião se autobatizou como "espiritismo".
Em vez de uma doutrina de bases científicas que revelasse a natureza da vida espiritual, o que se viu foi uma variante "flexível" de Catolicismo, quase um "Catolicismo pirata" no qual se inseriram valores das heresias medievais, que lhe trouxeram um modelo de mediunidade mais místico do que científico e, não raro, charlatão, ao se promover através de fraudes.
A "religião espírita" do Brasil usaria a ideia de uma supremacia político-religiosa do Brasil para se contrapôr à raiz iluminista da França e EUA e dos movimentos filosóficos que fizeram as nações europeias se desenvolverem e cujo modelo fez Portugal realizar suas "faxinas" que irritaram tanto degredados quanto jesuítas que viam tudo no plano espiritual.
Daí o desejo tão forte dos "espíritas" em ver um Brasil em crise, problemático e ainda subdesenvolvido, comandar a "comunidade das nações". Daí a intenção deles de ver, mais uma vez, sociedades avançadas destruídas. E tudo isso sobre a conversa dócil da "solidariedade" e da "paz", tão presentes no discurso católico medieval, mesmo lançando mão das sangrentas cruzadas.
Nas análises que fazemos sobre a "Data-Limite", lançamos diversas possibilidades, mas sempre num sentido de questionar o sentido "científico-filantrópico" atribuído oficialmente à suposta previsão trazida por Francisco Cândido Xavier através de relato dado a Geraldo Lemos Neto em 1969.
Geraldo, que divulgou o relato de Chico Xavier a partir de 1986, disse que a "profecia" anunciava o risco do Hemisfério Norte se tornar uma região inabitável, devido a guerras, atos terroristas e catástrofes naturais, e, sob as "cinzas" do "velho mundo", o Brasil se ascenderia como "coração do mundo" e "pátria do Evangelho", utopia bastante conhecida do anti-médium mineiro.
É certo que uma parcela de seguidores de Chico Xavier reclamou do caráter "fatalista" da suposta profecia, alegando que ela partiu de uma outra pessoa e Chico não teria pensado assim porque não o transmitiu ele mesmo para as pessoas.
No entanto, seu relato a Geraldo Lemos Neto, embora fosse a transmissão indireta de uma mensagem do anti-médium, corresponde, sim, ao pensamento de Chico Xavier, uma vez que juntam relatos já trazidos por seu "mentor" Emmanuel em 1938 e que a supremacia brasileira no mundo já era defendida pelo mineiro desde suas primeiras "psicografias".
É claro que chama muito a atenção o "alerta" da destruição do Hemisfério Norte, área onde se situam países que já têm experiência em progressos de caráter científico, intelectual e cultural. Países com larga experiência de crises, rebeliões e revoluções, que segundo Chico Xavier correriam o risco de desaparecerem pela catástrofe e pela violência.
DESTRUIÇÃO DE SOCIEDADES AVANÇADAS
O que isso quer dizer? Se compararmos o que as guerras fizeram com o legado da Antiguidade Clássica, sobretudo da Grécia Antiga, e o que a supremacia do Império Romano fez deixando à margem todas as grandes lições dos intelectuais e artistas gregos e de outros povos antigos, dá para perceber o sentido oculto da coisa, não muito agradável para os chiquistas.
Afinal, o que se observará é, mais uma vez, a destruição de países com avançado desenvolvimento sócio-econômico ou tecnológico e o "velho mundo" não envolve apenas países de "exemplos lamentáveis" como os EUA que exercem mal sua hegemonia planetária ou o Oriente Médio foco de grupos extremamente violentos.
O "velho mundo" envolve também países que rediscutem os próprios defeitos e debilidades de países desenvolvidos, como Alemanha, França e Bélgica, além das nações com significativa prosperidade e desenvolvimento humano, como os países da Escandinávia (Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia e a vulcânica Islândia).
Mais uma vez se repetirá o extermínio de um legado de sociedades desenvolvidas, interrompendo o caminho da evolução humana na Terra, adiando as transformações para tempos em que elas se tornassem inofensivas para as estruturas de poder dominante no planeta.
E, se as ruínas da Antiguidade Clássica abriram caminho para a fase medieval do Império Romano e, após sua queda, pela supremacia religiosa do Império Bizantino (antigo Império Romano do Oriente), a ascensão do Brasil através do "espiritismo cristão" e sobre as ruínas do "velho mundo", indicam a repetição da História, essa área tão mal compreendida pelo próprio Chico Xavier.
Afinal, cabe uns parênteses: Chico Xavier, embora razoavelmente escolarizado, expressava erros grosseiros de História, além de incompreensões aberrantes sobre Sociologia, Geologia e Geografia Humana, como se observa na sua abordagem risivelmente cartográfica sobre os rumos geopolíticos da humanidade da Terra.
Nota-se que nações que, embora com alguma tendência majoritariamente religiosa, mostrem tanto flexibilidade de crenças quanto a expressiva presença de ateus e agnósticos, são justamente as que a "profecia" de Chico Xavier define como "ameaçadas".
Em contrapartida, ele enfatiza nações consideradas "de firme supremacia religiosa" como as que seriam "poupadas" pelas catástrofes. E enumera o Brasil, predominantemente religioso, com a supremacia oficial do Catolicismo, a ascensão dos evangélicos e o protecionismo midiático e mercadológico ao "movimento espírita", como nação que se "ascenderá" ao poder planetário.
REVANCHE
E o que têm a ver os degredados com isso? Não seria uma espécie de "acerto de contas" para o "mundo" que expulsou bandidos, assassinos, arruaceiros, feiticeiros e ciganos visando o seu desenvolvimento social?
Portugal, que investiu na expulsão dessas pessoas, mais os hereges que não professaram originalmente o Catolicismo, definindo-os como degredados pelo fato de definirem o tipo de exílio deles em terras distantes (como áreas distantes de controle português, como Brasil e Angola, na África), queria se desenvolver como país, a partir da Era das Grandes Navegações (Séculos XV-XVI).
Após o terremoto que arrasou Lisboa e outras regiões portuguesas, em 1755, isso se tornou ainda mais acentuado. Portugal, considerado "país-cliente" da Grã-Bretanha, então a maior potência econômica do mundo, há muito queria se emancipar socialmente, transformando o Brasil no repositório de pessoas "desagradáveis" e o terremoto (ao qual se somou um maremoto) só aumentou essa necessidade.
Dessa maneira, se os degredados já eram enviados para o Brasil desde pouco antes de 1500, significando, aos olhos das autoridades da Coroa portuguesa, uma "limpeza social" no país europeu, o terremoto de 1755 representou medidas ainda mais austeras para evitar que Portugal falisse como nação.
E aí veio a ordem do Marquês de Pombal, primeiro-ministro português, de se encerrarem as atividades da Companhia de Jesus. O conhecido catecismo católico deixava de ser praticado em larga escala no Brasil e seus missionários teriam que voltar ao país de origem, porque a Metrópole portuguesa não queria gastar mais dinheiro para a colônia, de administração bastante onerosa.
E o que teria havido no plano espiritual? Muito provavelmente o plano de uma revanche através de uma religião que combinasse o antigo Catolicismo medieval com algumas concessões dadas às atividades hereges. Pegando carona na novidade da Doutrina Espírita de Allan Kardec, quase nada foi aproveitado do pedagogo francês, mas mesmo assim a religião se autobatizou como "espiritismo".
Em vez de uma doutrina de bases científicas que revelasse a natureza da vida espiritual, o que se viu foi uma variante "flexível" de Catolicismo, quase um "Catolicismo pirata" no qual se inseriram valores das heresias medievais, que lhe trouxeram um modelo de mediunidade mais místico do que científico e, não raro, charlatão, ao se promover através de fraudes.
A "religião espírita" do Brasil usaria a ideia de uma supremacia político-religiosa do Brasil para se contrapôr à raiz iluminista da França e EUA e dos movimentos filosóficos que fizeram as nações europeias se desenvolverem e cujo modelo fez Portugal realizar suas "faxinas" que irritaram tanto degredados quanto jesuítas que viam tudo no plano espiritual.
Daí o desejo tão forte dos "espíritas" em ver um Brasil em crise, problemático e ainda subdesenvolvido, comandar a "comunidade das nações". Daí a intenção deles de ver, mais uma vez, sociedades avançadas destruídas. E tudo isso sobre a conversa dócil da "solidariedade" e da "paz", tão presentes no discurso católico medieval, mesmo lançando mão das sangrentas cruzadas.
terça-feira, 26 de maio de 2015
O "sonho" de Chico Xavier, segundo a tecla SAP
PINTURA MEDIEVAL MOSTRANDO JESUS CRISTO COMO "MONARCA EUROPEU".
Que tradução poderia ser feita, verificando os interesses subliminares do "espiritismo" brasileiro, para a suposta "profecia" que Francisco Cândido Xavier teria sonhado pouco tempo após a viagem de astronautas estadunidenses à Lua, fato ocorrido em 20 de julho de 1969?
O referido sonho foi relatado ao jovem Geraldo Lemos Neto, que a partir de 1986 revelou os detalhes. A corrente "realista" dos seguidores de Chico Xavier renega a validade dessas informações, aparentemente trazidas por outra pessoa e não diretamente pelo anti-médium mineiro.
No entanto, consideramos o sentido chiquista da mensagem, porque ela tem afinidades com o antigo desejo de Chico Xavier de ver o Brasil como país mais poderoso do mundo (o "coração do mundo", como ele sempre quis) e a "profecia" já havia sido citada por Emmanuel três décadas antes.
Vamos aqui, contudo, traduzir a "profecia" conforme o conteúdo subliminar, entendendo o "espiritismo" não como uma "adaptação brasileira" da doutrina de Allan Kardec (ideia que, embora bastante difundida, não corresponde à verdade), mas uma versão repaginada do Catolicismo medieval português, assim que se viu deixado de lado por correntes reformistas do Vaticano.
O que teria sido o sonho, segundo a "tecla SAP" do discurso que havia por trás da aparência? É o que veremos a seguir:
"Um grupo de astronautas dos EUA, levando adiante as intenções do país norte-americano de fazer frente à disputa pela supremacia tecnológica espacial com a então URSS, conseguiu viajar e regressar sem problemas para a Lua, satélite do planeta Terra.
Verificando que o fato seria o apogeu das disputas políticas no Hemisfério Norte e do avanço do progresso científico dos países desenvolvidos, Chico Xavier sonhou que um grupo de espíritos ligados ao Catolicismo medieval, incluindo uma representação de Jesus Cristo e um degredado que passou a usar o nome de Ismael, juntamente com o Padre Manuel da Nóbrega, renomeado Emmanuel, realizaram uma reunião da qual Chico foi convidado a participar.
Preocupados com o auge do mundo científico e racional, em que haveria a disputa entre capitalismo e socialismo, eles aproveitaram a deixa para superestimar os conflitos pontuais que esses países vivem, além de outros provenientes de movimentos fundamentalistas árabes, para supor que haveria a destruição do Hemisfério Norte.
A reunião seria um meio de "costurar" ocorrências pontuais ligadas ao terrorismo, aos conflitos do Primeiro e Segundo Mundos, ao poderio da OTAN (Organização do Tratado Atlântico Norte) e ao terrorismo árabe com as catástrofes que acontecem em áreas como Itália, Indonésia, Japão, EUA, Islândia e outros países para anunciar a destruição do hemisfério.
Juntam-se ocorrências soltas e cria-se um discurso no qual a personificação 'científica' do Deus espiritólico (espírita + católico), a "mãe" Natureza (em 1969 o termo era bastante usado no jargão hippie), 'castigaria' os 'irmãos do Norte' se eles não promovessem o conceito católico de paz e solidariedade.
A subserviência religiosa é a receita para que o Hemisfério Norte seja poupado pela Natureza, caso contrário, à sequência de acontecimentos conflituosos e ações bélicas e terroristas, associadas aos mundos capitalista, socialista e islâmico, se daria uma série de violentas catástrofes que destruiriam o 'velho mundo', tornando suas áreas inabitáveis e dizimando milhões e milhões de cidadãos.
Pouca gente seria salva da carnificina geológica e meteorológica, e muito dos progressos culturais, intelectuais e científicos que escapassem do controle e das perspectivas da 'fé cristã' se perderiam, para serem longa e dificilmente recuperados no decorrer dos séculos, como o legado da Antiguidade Clássica que só se recuperou a partir do século XVI de nossa era.
A medida é mais um meio de evitar transformações sociais profundas que realizassem rupturas com as estruturas de poder vigentes. O extermínio de áreas consideradas 'independentes' do controle do sistema de dogmas e ritos trazidos pelo Catolicismo medieval é um modo de adiar para séculos a realização de conquistas sociais, de forma a ocorrerem apenas quando seu impacto se tornar minimizado e sua essência praticamente domesticada.
Dessa forma, os presentes na reunião estudam uma forma de repetir mais uma vez o 'freio conservador' movido pela Igreja Católica Apostólica Romana, para evitar o avanço das ideias laicas e ameaçadoras ao sistema de privilégios existentes.
Portanto, o objetivo é deixar que esse avanço seja adiado até que os detentores de poder, sem abrir mão de seus privilégios, possam se adaptar aos poucos às mudanças, pelo retardamento das transformações previstas.
O Brasil, domesticado pela fé católica e por políticas neoliberais, se ascenderá como país mais poderoso do mundo e nova sede da nova teocracia planejada pelos reunidos, através do rótulo de "espiritismo". Assim, o país, já pouco inclinado ao nível e ritmo de transformações desejados pelo povo do Norte, passará, com a destruição do hemisfério setentrional, ao comando do planeta e à imposição de valores mais conservadores ao que restou do 'velho mundo'".
Que tradução poderia ser feita, verificando os interesses subliminares do "espiritismo" brasileiro, para a suposta "profecia" que Francisco Cândido Xavier teria sonhado pouco tempo após a viagem de astronautas estadunidenses à Lua, fato ocorrido em 20 de julho de 1969?
O referido sonho foi relatado ao jovem Geraldo Lemos Neto, que a partir de 1986 revelou os detalhes. A corrente "realista" dos seguidores de Chico Xavier renega a validade dessas informações, aparentemente trazidas por outra pessoa e não diretamente pelo anti-médium mineiro.
No entanto, consideramos o sentido chiquista da mensagem, porque ela tem afinidades com o antigo desejo de Chico Xavier de ver o Brasil como país mais poderoso do mundo (o "coração do mundo", como ele sempre quis) e a "profecia" já havia sido citada por Emmanuel três décadas antes.
Vamos aqui, contudo, traduzir a "profecia" conforme o conteúdo subliminar, entendendo o "espiritismo" não como uma "adaptação brasileira" da doutrina de Allan Kardec (ideia que, embora bastante difundida, não corresponde à verdade), mas uma versão repaginada do Catolicismo medieval português, assim que se viu deixado de lado por correntes reformistas do Vaticano.
O que teria sido o sonho, segundo a "tecla SAP" do discurso que havia por trás da aparência? É o que veremos a seguir:
"Um grupo de astronautas dos EUA, levando adiante as intenções do país norte-americano de fazer frente à disputa pela supremacia tecnológica espacial com a então URSS, conseguiu viajar e regressar sem problemas para a Lua, satélite do planeta Terra.
Verificando que o fato seria o apogeu das disputas políticas no Hemisfério Norte e do avanço do progresso científico dos países desenvolvidos, Chico Xavier sonhou que um grupo de espíritos ligados ao Catolicismo medieval, incluindo uma representação de Jesus Cristo e um degredado que passou a usar o nome de Ismael, juntamente com o Padre Manuel da Nóbrega, renomeado Emmanuel, realizaram uma reunião da qual Chico foi convidado a participar.
Preocupados com o auge do mundo científico e racional, em que haveria a disputa entre capitalismo e socialismo, eles aproveitaram a deixa para superestimar os conflitos pontuais que esses países vivem, além de outros provenientes de movimentos fundamentalistas árabes, para supor que haveria a destruição do Hemisfério Norte.
A reunião seria um meio de "costurar" ocorrências pontuais ligadas ao terrorismo, aos conflitos do Primeiro e Segundo Mundos, ao poderio da OTAN (Organização do Tratado Atlântico Norte) e ao terrorismo árabe com as catástrofes que acontecem em áreas como Itália, Indonésia, Japão, EUA, Islândia e outros países para anunciar a destruição do hemisfério.
Juntam-se ocorrências soltas e cria-se um discurso no qual a personificação 'científica' do Deus espiritólico (espírita + católico), a "mãe" Natureza (em 1969 o termo era bastante usado no jargão hippie), 'castigaria' os 'irmãos do Norte' se eles não promovessem o conceito católico de paz e solidariedade.
A subserviência religiosa é a receita para que o Hemisfério Norte seja poupado pela Natureza, caso contrário, à sequência de acontecimentos conflituosos e ações bélicas e terroristas, associadas aos mundos capitalista, socialista e islâmico, se daria uma série de violentas catástrofes que destruiriam o 'velho mundo', tornando suas áreas inabitáveis e dizimando milhões e milhões de cidadãos.
Pouca gente seria salva da carnificina geológica e meteorológica, e muito dos progressos culturais, intelectuais e científicos que escapassem do controle e das perspectivas da 'fé cristã' se perderiam, para serem longa e dificilmente recuperados no decorrer dos séculos, como o legado da Antiguidade Clássica que só se recuperou a partir do século XVI de nossa era.
A medida é mais um meio de evitar transformações sociais profundas que realizassem rupturas com as estruturas de poder vigentes. O extermínio de áreas consideradas 'independentes' do controle do sistema de dogmas e ritos trazidos pelo Catolicismo medieval é um modo de adiar para séculos a realização de conquistas sociais, de forma a ocorrerem apenas quando seu impacto se tornar minimizado e sua essência praticamente domesticada.
Dessa forma, os presentes na reunião estudam uma forma de repetir mais uma vez o 'freio conservador' movido pela Igreja Católica Apostólica Romana, para evitar o avanço das ideias laicas e ameaçadoras ao sistema de privilégios existentes.
Portanto, o objetivo é deixar que esse avanço seja adiado até que os detentores de poder, sem abrir mão de seus privilégios, possam se adaptar aos poucos às mudanças, pelo retardamento das transformações previstas.
O Brasil, domesticado pela fé católica e por políticas neoliberais, se ascenderá como país mais poderoso do mundo e nova sede da nova teocracia planejada pelos reunidos, através do rótulo de "espiritismo". Assim, o país, já pouco inclinado ao nível e ritmo de transformações desejados pelo povo do Norte, passará, com a destruição do hemisfério setentrional, ao comando do planeta e à imposição de valores mais conservadores ao que restou do 'velho mundo'".
Como o Estado Islâmico "realizará" o "alerta" de Chico Xavier?
FORTALEZA NA CIDADE DE TADMUR (PALMIRA), NA SÍRIA, É DOMINADA POR INTEGRANTES DO ESTADO ISLÂMICO.
A ação do grupo terrorista Estado Islâmico preocupa as autoridades das Nações Unidas, que reclamam uma ação conjunta dos países ocidentais para combater essa milícia jihadista, que passou a controlar o território da Síria pela metade e também uma parte do território do vizinho Iraque.
O grupo se envolve em atividades de destruição de patrimônios históricos e o fato deles terem dominado a cidade de Tadmur (Palmira), toda constituída de um valioso patrimônio histórico, é preocupante pela sua intenção em promover retrocessos sociais profundos.
Afinal, grupos de fundamentalismo religioso agem para tentar retroceder a humanidade àquilo que eles leram e acreditam nos chamados livros sagrados. Dependendo do ponto de vista, movimentos religiosos pretendem retroceder a humanidade para parâmetros que, pelo menos em sua essência, correspondessem aos tempos "áureos" descritos nos seus livros de referência.
O mais curioso é que o Catolicismo atual e o Protestantismo, em que pesem suas fantasias surreais e seus jargões inusitados (como "adoração" e "trono", no caso dos evangélicos), não agem tanto em promover a marcha-a-ré da humanidade para os tempos primitivos de algum cenário religioso.
Já o "espiritismo" decepciona pelo fato de que, autoproclamado "vanguarda dos movimentos espiritualistas", desejar retroceder a humanidade para os parâmetros fundamentais do Império Romano / Bizantino de 1.500 anos atrás.
E o que o Estado Islâmico traz de recado, se verificarmos algum sentido na suposta "profecia" de Francisco Cândido Xavier, que "alertava" que o Hemisfério Norte corria o risco de se tornar uma região "inabitável", devido às guerras e catástrofes?
A princípio, o Hemisfério Norte, segundo essa interpretação, seria abalado pelo terrorismo do fanatismo islâmico em seus vários grupos, que paulatinamente destruiriam patrimônios culturais que viriam dos mais antigos aos mais contemporâneos, como forma de destruir a chamada "civilização" que afastou o "futuro" que os extremistas acreditam estarem destinados.
Mas uma coisa deve ser observada, afinal tanto a "profecia" de Chico Xavier quanto as ações do Estado Islâmico, guardadas todas as suas profundas diferenças em todos os aspectos, se referem ao extermínio de um mundo moderno, "amaldiçoado" por conta de seu progresso milenar.
Se os jihadistas sonham em desenvolver uma teocracia árabe, através da destruição do mundo moderno, do qual poderiam afetar também o Hemisfério Sul, se forem adiante, os "espíritas" sonham em recuperar a teocracia romana-bizantina, sediada no Brasil e com adaptações de contexto (heresias são aceitas pelos "espíritas" devido à influência dos cristãos-novos, os hereges convertidos pelo batismo católico).
Daí um grande problema para a "profecia" de Chico Xavier, porque o avanço jihadista pode, em primeiro momento, "realizar" o suposto alerta do sonho que o anti-médium teve em 1969, motivado pela viagem de astronautas estadunidenses à Lua, através das ações terroristas e da destruição do mundo moderno, "coroada" este ano com o atentado à sede do periódico francês Charlie Hebdo.
Mas, num outro momento, a ação jihadista pode afetar também o Hemisfério Sul, que de maneira contraditória é considerado "protegido" ou "vulnerável" conforme as partes do discurso dado por Chico Xavier no relato "profético" de seu sonho de 46 anos atrás.
Isso porque ele, em algumas vezes, disse que o Hemisfério Sul estaria a salvo das violentas catástrofes, mesmo um Chile cheio de vulcões e vulnerável a sérios terremotos, mas em outras ele diz que "certas áreas" serão afetadas sim, como o litoral brasileiro. Em algumas vezes, disse que o Brasil seria próspero em solidariedade, em outras disse que o país seria "invadido" de maneira conflituosa.
As falhas geológicas e sociológicas da "análise" chiquista já invalidam a "profecia" em si. E a relação que as ações do Estado Islâmico podem ter com a destruição do Hemisfério Norte revelam detalhes duvidosos, até pela natureza diferente do grupo terrorista.
Quanto à Terceira Guerra Mundial, pode ser que o Estado Islâmico impulsione, neste sentido, a reação dos países desenvolvidos, mas nada será como era dada a narrativa que Chico Xavier trouxe para Geraldo Lemos Neto. Será algo diferente e muito mais complexo.
A ação do grupo terrorista Estado Islâmico preocupa as autoridades das Nações Unidas, que reclamam uma ação conjunta dos países ocidentais para combater essa milícia jihadista, que passou a controlar o território da Síria pela metade e também uma parte do território do vizinho Iraque.
O grupo se envolve em atividades de destruição de patrimônios históricos e o fato deles terem dominado a cidade de Tadmur (Palmira), toda constituída de um valioso patrimônio histórico, é preocupante pela sua intenção em promover retrocessos sociais profundos.
Afinal, grupos de fundamentalismo religioso agem para tentar retroceder a humanidade àquilo que eles leram e acreditam nos chamados livros sagrados. Dependendo do ponto de vista, movimentos religiosos pretendem retroceder a humanidade para parâmetros que, pelo menos em sua essência, correspondessem aos tempos "áureos" descritos nos seus livros de referência.
O mais curioso é que o Catolicismo atual e o Protestantismo, em que pesem suas fantasias surreais e seus jargões inusitados (como "adoração" e "trono", no caso dos evangélicos), não agem tanto em promover a marcha-a-ré da humanidade para os tempos primitivos de algum cenário religioso.
Já o "espiritismo" decepciona pelo fato de que, autoproclamado "vanguarda dos movimentos espiritualistas", desejar retroceder a humanidade para os parâmetros fundamentais do Império Romano / Bizantino de 1.500 anos atrás.
E o que o Estado Islâmico traz de recado, se verificarmos algum sentido na suposta "profecia" de Francisco Cândido Xavier, que "alertava" que o Hemisfério Norte corria o risco de se tornar uma região "inabitável", devido às guerras e catástrofes?
A princípio, o Hemisfério Norte, segundo essa interpretação, seria abalado pelo terrorismo do fanatismo islâmico em seus vários grupos, que paulatinamente destruiriam patrimônios culturais que viriam dos mais antigos aos mais contemporâneos, como forma de destruir a chamada "civilização" que afastou o "futuro" que os extremistas acreditam estarem destinados.
Mas uma coisa deve ser observada, afinal tanto a "profecia" de Chico Xavier quanto as ações do Estado Islâmico, guardadas todas as suas profundas diferenças em todos os aspectos, se referem ao extermínio de um mundo moderno, "amaldiçoado" por conta de seu progresso milenar.
Se os jihadistas sonham em desenvolver uma teocracia árabe, através da destruição do mundo moderno, do qual poderiam afetar também o Hemisfério Sul, se forem adiante, os "espíritas" sonham em recuperar a teocracia romana-bizantina, sediada no Brasil e com adaptações de contexto (heresias são aceitas pelos "espíritas" devido à influência dos cristãos-novos, os hereges convertidos pelo batismo católico).
Daí um grande problema para a "profecia" de Chico Xavier, porque o avanço jihadista pode, em primeiro momento, "realizar" o suposto alerta do sonho que o anti-médium teve em 1969, motivado pela viagem de astronautas estadunidenses à Lua, através das ações terroristas e da destruição do mundo moderno, "coroada" este ano com o atentado à sede do periódico francês Charlie Hebdo.
Mas, num outro momento, a ação jihadista pode afetar também o Hemisfério Sul, que de maneira contraditória é considerado "protegido" ou "vulnerável" conforme as partes do discurso dado por Chico Xavier no relato "profético" de seu sonho de 46 anos atrás.
Isso porque ele, em algumas vezes, disse que o Hemisfério Sul estaria a salvo das violentas catástrofes, mesmo um Chile cheio de vulcões e vulnerável a sérios terremotos, mas em outras ele diz que "certas áreas" serão afetadas sim, como o litoral brasileiro. Em algumas vezes, disse que o Brasil seria próspero em solidariedade, em outras disse que o país seria "invadido" de maneira conflituosa.
As falhas geológicas e sociológicas da "análise" chiquista já invalidam a "profecia" em si. E a relação que as ações do Estado Islâmico podem ter com a destruição do Hemisfério Norte revelam detalhes duvidosos, até pela natureza diferente do grupo terrorista.
Quanto à Terceira Guerra Mundial, pode ser que o Estado Islâmico impulsione, neste sentido, a reação dos países desenvolvidos, mas nada será como era dada a narrativa que Chico Xavier trouxe para Geraldo Lemos Neto. Será algo diferente e muito mais complexo.
segunda-feira, 25 de maio de 2015
"Estado Islâmico" e a questão da religião e do atraso da humanidade
O Estado Islâmico está ampliando seus domínios, invadindo e conquistando cidades e planejando, aos poucos, criar um califado, uma espécie de teocracia jihadista, a ser instalada às custas de muita carnificina e de destruição de patrimônios históricos mais antigos.
Recentemente, eles tomaram uma cidade da Síria, Palmira - ironicamente, parece um nome tipicamente brasileiro, na sua tradução em português, já que o original a cidade chama-se Tadmur - , que fica próxima da fronteira com o Iraque, onde outra cidade já havia sido conquistada pelo grupo jihadista, Ramadi.
Palmira é considerada pela Unesco um dos maiores sítios arqueológicos do mundo, e toda a cidade constitui de muitos prédios, monumentos e objetos históricos, que ameaçam ser destruídos pelos guerrilheiros do Estado Islâmico, o que, se ocorrer, representará um enorme dano para a humanidade.
Para combater o Estado Islâmico, o governo iraquiano é obrigado a recorrer a milícias xiitas para ao menos tentar frear sua ascensão. O grupo Estado Islâmico é uma força jihadista (expressão derivada de "jihad", que em árabe quer dizer "luta"), que usa o pretexto da religião para promover guerras em prol de sua supremacia política.
Eles pretendem reverter a humanidade para os moldes de um "mundo islâmico" no qual os integrantes do grupo acreditam. Infelizmente, é um dos males da religião, o de querer que a sociedade pare no tempo, e isso não é exclusivo do fundamentalismo islâmico que tem agora no Estado Islâmico a sua mais preocupante expressão.
RELIGIÃO, ATRASO E ALIENAÇÃO
Deixemos de lado os lamentos clichês que os "espíritas" tanto dizem, referindo ao Estado Islâmico a infeliz decisão de "irmãozinhos menos esclarecidos" que "desconhecem as valiosas lições de fraternidade da doutrina do Cristo".
Primeiro, porque não é aqui o caso de evocarmos necessariamente a figura de Jesus, até porque, entre os islâmicos, o que acontece é a má compreensão da doutrina muçulmana de Maomé, que para seus seguidores é o seu profeta maior.
O que observamos é que a religião, quando atinge níveis de fanatismo, recorre a atos violentos para evitar que a humanidade se transforme à revelia de seu sistema de crenças, que preferem ver a sociedade parada no tempo, vivendo uma vida subordinada a um "deus" ou um "código" e o único progresso esperado é o depois da morte, através de um "paraíso" ou uma "outra vida".
É claro que, no Brasil, o "espiritismo" brasileiro não tem o caráter bélico do Estado Islâmico e no caso dos métodos de ações nem dá para comparar um e outro, por conta de suas diferenças extremas. No entanto, a visão de atraso e retrocesso da humanidade, aliada à alienação vital que só promete uma "vida melhor" após a morte, guarda semelhanças em ambos.
Se no Oriente Médio o Estado Islâmico luta para retroceder a humanidade para os padrões do islamismo, daí a ação de seus militantes em destruir patrimônios históricos que representassem a origem da civilização moderna, no Brasil o "espiritismo" pretende recuperar o Catolicismo medieval do Império Bizantino, mesmo admitindo algumas concessões relacionadas a movimentos heréticos.
É certo que até aí Estado Islâmico e "espiritismo" brasileiro se diferem extremamente, pois se o primeiro quer que a humanidade retorne aos moldes do islamismo primitivo e abra mão de suas conquistas milenares, o "espiritismo" quer que a humanidade retorne aos parâmetros do Império Bizantino, apenas variando numa relativa tolerância a atividades consideradas hereges.
Não se sabe até que ponto estas duas religiões ou outras que existem podem aceitar ou renegar as conquistas da modernidade, ou até que ponto os avanços tecnológicos e outras conquistas práticas poderiam servir para movimentos de retrogradação social.
O que se sabe é que, no caso do "espiritismo", a parcial apreciação da ciência e as práticas tidas como "espíritas", mas herdadas não da doutrina de Allan Kardec mas de práticas heréticas ligadas à feitiçaria, ao misticismo cigano e ao curandeirismo primitivo (mas também inserindo neste a falsa homeopatia dos medicine shows), antes mortalmente combatidos pelo Catolicismo medieval.
Pois o próprio "espiritismo" se valeu da herança de um Catolicismo medieval que começava a perder o valor. Os medievais eram deixados de lado e a Igreja Católica, no final do século XIX, começava a passar por um revisionismo que chegou, em 1961, com o Concílio II do Vaticano, a admitir uma vertente de esquerda, a Teologia da Libertação.
Mas mesmo o Catolicismo conservador começava a adotar reformas e revisões que fizeram com que a ala medieval fosse deixada de lado, e os católicos ortodoxos aos poucos eram isolados tanto das graduais mudanças católicas quanto de outros ortodoxos que, pela tolerância com movimentos e práticas hereges, tornaram-se uma dissidência não-assumida com o nome de "espiritismo".
As religiões dificilmente conseguem acompanhar com fidelidade e isenção as transformações diversas da humanidade. Pode-se admitir que, atualmente, o Catolicismo e o Protestantismo façam tentativas de modernização, mas é surpreendente que o "espiritismo" que se conhece no Brasil nem de longe se interesse em acompanhar as mudanças do tempo.
É verdade que, no caso do Protestantismo, algumas seitas de segundo escalão queiram transmitir valores homofóbicos ou de alguma intolerância social, mas não existe um movimento organizado que possa criar de épocas antigas um "norte" para toda uma série de retrocessos sociais. Ao que parece, eles não estão preocupados em fazer a humanidade voltar aos tempos de Abraão.
Pelo contrário, o "espiritismo", em vez de se sujeitar a compreender o mundo em suas mudanças, prefere submeter esse mundo ao seu julgamento retrógrado, cheio de moralismo religioso, com a ânsia de escravizar o mundo à pequenez das avaliações da "fé espírita".
O atraso do "espiritismo" brasileiro, que se autoproclamava a "vanguarda" dos movimentos espiritualistas brasileiros, é preocupante, e, com toda a distância de qualquer intenção de usar os métodos brutais do Estado Islâmico, nem assim deixa de sugerir reações violentas.
O "espiritismo" brasileiro julga o homicídio como um atenuante, já que o vê como um ato nefasto mas que "cumpre" supostos resgates espirituais e reajustes morais das vítimas (ou seja, a vítima é a culpada). Admite que o homicida irá "pagar pelo que fez", mas adia a "sentença" para outras encarnações, apostando no princípio do "fiado moral".
REAÇÕES VIOLENTAS DOS CHIQUISTAS
Quando Amauri Pena, sobrinho de Francisco Cândido Xavier, resolveu denunciar os bastidores do "movimento espírita" nas fraudes mediúnicas, os dirigentes "espíritas" reagiram com ódio e fúria. Apesar do envolvimento com álcool e furtos, Amauri foi violentamente depreciado pelos amigos e adeptos de Chico Xavier e morreu jovem demais para quem apenas se envolvia com álcool, o que pode sugerir ser vítima de agressões e até envenenamento.
Os internautas que seguem Chico Xavier também reagem com violência a qualquer crítica ou questionamento, mesmo quando tentam, com mal disfarçada ironia, usarem "palavras mais fraternais", como "Irmão, você está sendo obsediado", equivalente "espírita" ao apelo neopentecostal "Você está possuído pelo demônio".
Num país em que a Igreja Universal do Reino de Deus cria seus Gladiadores do Altar, algumas seitas neo-pentecostais já mostram sessões de jiu-jitsu ou patrocinam eventos de MMA, chiquistas despejam sua fúria contra quem contestar um único espirro de Chico Xavier.
Se o "espiritismo" está a mil anos luz longe de ser um Estado Islâmico, nem por isso está isento de se empenhar pelo atraso da humanidade, já que a profecia da "Data-Limite" menciona o fim do Hemisfério Norte desenvolvido, o que lembra a destruição de boa parte do legado da Antiguidade Clássica para a formação do Império Romano medieval.
domingo, 24 de maio de 2015
"Espiritismo" brasileiro é muito menos espírita do que parece
PADRE MANUEL DA NÓBREGA, O JESUÍTA QUE, EM ESPÍRITO, TORNOU-SE "MENTOR" DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.
Ainda descrevendo o caso dos degredados, observa-se que a religião que se autoproclama a vanguarda das crenças espiritualistas, o "espiritismo" brasileiro, na verdade é uma combinação da essência do Catolicismo medieval português com algumas concessões trazidas pela origem herege dos cristãos-novos.
Graças à influência dos degredados no povoamento do Brasil, o país até hoje tem como tradição desenvolver ideias novas em bases ideológicas velhas, que praticamente eliminam a essência original das novidades, sejam elas criadas no Brasil ou trazidas do exterior, e só são consolidadas quando se convertem nas formas deturpadas, onde as bases originais são quase todas descartadas.
Se hoje temos internautas reacionários, que nas mídias sociais eventualmente combinam juntos uma campanha difamatória contra alguém que discorda do que os reaças pensam - geralmente defendendo decisões transmitidas "de cima" pela política, pelo mercado ou pelo poder midiático - , é porque faz parte da "filosofia degradada" combinar formas novas com conteúdos retrógrados.
Mesmo na cultura rock, expressão vinculada, em tese, à modernidade juvenil, nota-se que o árduo trabalho da Rádio Fluminense FM, de Niterói (RJ), com todo o prestígio que alcançou, foi deixado para trás e hoje o segmento é muito mal representado pelas deturpações grotescas da Rádio Cidade, que com sua mentalidade pop nunca teve tradição nem vocação para explorar o rock.
É a "filosofia" dos degredados que influi neste caso, herança do hábito de um degredado seguir tardiamente uma causa, depois que viu nela alguma conveniência. Por um lado, a Rádio Cidade se consagrou como rádio pop comum, e só embarcou no rock quando passou a ver nele "uma graninha extra". E a causa do rock no rádio só se firmou na forma deturpada feita pela Cidade.
A "filosofia degredada" cria um ambiente energético que protege corruptos, assassinos, ladrões, canastrões e canalhas. Porque eles são as representações modernas dos antigos degredados, que sempre adotam a metodologia de primeiro se ascender através das piores qualidades e depois "ir lapidando" com o tempo.
O Brasil não consegue progredir por causa disso. Trabalha o progresso através de um pacto com o retrocesso, e a história sempre registrou movimentos que dificilmente se tornam inteiramente vanguardistas, porque sempre têm que negociar com alguma força retrógrada para se expressar e ter alguma projeção.
"ESPIRITISMO" NADA ESPÍRITA
O "espiritismo" brasileiro não seria exceção, uma vez que ele, em tese, surgiu de uma novidade trazida pela França, a Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec. Embora o pedagogo francês seja permanentemente evocado pelos "espíritas" brasileiros, quase nada se aproveitou de fato do seu repertório de conhecimentos. De kardeciano, o "espiritismo" brasileiro só tem a fachada.
O que vemos no "espiritismo" brasileiro, na verdade, é uma combinação do Catolicismo medieval português, que ainda exercia influência na sociedade do Segundo Império brasileiro, com as concessões trazidas pela origem herética dos "cristãos-novos", o que faz com que mesmo as ideias aparentemente espíritas do "espiritismo" brasileiro nada tenham a ver com Kardec.
Kardec só "foi aproveitado" em duas ideias: a consciência da vida após a morte e a reencarnação. Mas essas duas ideias são muito anteriores a Kardec e há registros dessa crença até mesmo nas expressões rudimentares na pré-história.
Os ritos e dogmas que se aproximam da natureza espírita e que foram adotados pela doutrina liderada pela FEB, portanto, correspondem aos procedimentos associados à feitiçaria e ao curandeirismo que os movimentos heréticos haviam praticado na Idade Média. Essencialmente, nenhum vestígio de Allan Kardec.
Pode parecer ridículo para muitos de seus seguidores, mas o "espiritismo" brasileiro praticamente nada tem de realmente espírita, já que sua combinação de moralismo religioso, herdado do Catolicismo medieval, com as práticas de aparente mediunidade, terapias e curandeirismo, herdadas dos movimentos heréticos, criaram uma seita que nenhuma relação real tem com Kardec.
É só prestar atenção, rigorosamente. A doutrina de Allan Kardec é uma, a que foi popularizada por Chico Xavier é outra completamente diferente. A de Xavier é a que combina Catolicismo medieval com curandeirismo e misticismo herético dos "cristãos-novos", criando uma diferença tão aberrante com a doutrina kardeciana que alguns reparos tiveram que serem feitos.
DEGREDADOS E A POLÍTICA
Afinal, é da praxe dos degredados mentir ou dizer meias-verdades, e uma das "artes" conhecidas no Brasil é justificar as piores decisões pelo melhor dos argumentos. Quantos egoístas se passam por "altruístas" pelo amplo e engenhoso repertório de desculpas que fazem, geralmente definindo como "sacrifícios necessários" os prejuízos sérios que fazem contra outrem?
O sistema de ônibus do Rio de Janeiro, da dupla função dos motoristas-cobradores que sobrecarregam seu trabalho, dos ônibus com pintura padronizada que acobertam a corrupção e confundem os passageiros e das linhas com itinerário mutilado que, sob o rótulo de "alimentadoras", tiram ônibus de circulação e obrigam passageiros a esperarem mais tempo pela chegada de um veículo sempre superlotado, é um claro exemplo disso.
Tanto o prefeito Eduardo Paes como os que passaram pela Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), Alexandre Sansão e Carlos Roberto Osório, tentaram justificar suas convicções egoístas e autoritárias com argumentos "técnicos" falsamente "em prol do interesse público". As "generosas" desculpas os fazem diferir ligeiramente das autoridades do Império Romano, mas ao que tudo indica a sede de prejudicar o povo é praticamente a mesma.
Mais uma vez é a "filosofia" dos degredados que influi na sociedade. E sabe-se que, no caso do sistema de ônibus, a figura de Jaime Lerner também segue a metodologia dos degredados, de se afirmar no pior e só tardiamente "se lapidar" para se manter no poder.
Lerner foi político da ditadura, ligado à ARENA (Aliança Renovadora Nacional), e seu projeto de mobilidade urbana era um dos derivados do "milagre brasileiro" e um equivalente exato dos setores Urbanismo e Transportes ao que o projeto econômico de Roberto Campos, que foi ministro do general Castelo Branco, representou para a Economia.
Só que Lerner tentou sair incólume com a redemocratização, tentou se filiar a partidos de centro-esquerda (PDT e PSB) e limpar sua imagem de "filhote da ditadura" forjando a de um tecnocrata "independente", a impor seu decadente projeto de transporte coletivo, herança do "milagre brasileiro", como uma falsa novidade para o Rio de Janeiro de 2010 e daí para o resto do país.
É o velho que tenta se passar pelo novo. E, ainda na política, nota-se o atenuante do ex-presidente Fernando Collor, o "abençoado" político das Alagoas, livrar-se de um processo por falsidade ideológica na campanha eleitoral de 2002 porque, com a lentidão do processo judicial, este se tornou obsoleto, já que prescreveu após 12 anos do fato que o motivou.
Collor recebeu as bênçãos que Juscelino Kubitschek não recebeu. Kubitschek era um político moderado, altruísta, e fez todas as generosidades possíveis com Chico Xavier e a FEB e transformou a federação em "instituição de utilidade pública", e com toda a bondade o mineiro pagou caro com as más energias que contraiu.
Juscelino viu perder para sempre sua chance de ser eleito em 1965 e começar mandato em Brasília. Mesmo se opondo ao seu ex-vice, João Goulart, por causa de atitudes como a anistia a um grupo de marinheiros rebeldes (incluindo o traiçoeiro Cabo Anselmo), o mineiro foi um dos primeiros políticos a ter seu mandato cassado.
Além disso, Juscelino tentou um movimento de redemocratização, que foi abortado. Tentou entrar na Academia Brasileira de Letras (hoje capaz de receber um medíocre Merval Pereira), mas não conseguiu. E ainda foi morto no final de 1976 em um estranho acidente de carro, que soa como um atentado, mas legistas recentemente constataram que foi apenas um "acidente de trânsito comum".
E Collor, que nem foi assim tão amigo de Chico Xavier? Ele roubou o país e perdeu até o mandato e os direitos políticos, mas se reabilitou de tal forma que aqueles que poderiam barrar seu caminho de volta ao poder faleceram, como seus irmãos Pedro e Leopoldo e o tesoureiro Paulo César Farias, assassinado com sua namorada num crime em que se permitiu apagar vestígios, deixando um mistério para sempre irresolúvel.
Collor cresceu tanto que passou a ser cortejado até por antigos opositores. E ele ainda cria discurso para dizer que não está envolvido com a corrupção da Petrobras, nem com outro tipo de esquema. Senador medíocre, tenta posar de estadista e ainda é aplaudido por gente influente e até progressista.
Fernando Collor também é um outro dos tantos exemplos que o Brasil degredado tanto gosta. Daí ele ter sido, até hoje, um sujeito de sorte. Ele encaixa do perfil defendido pelos espíritos degredados. Um homem que se afirma pelas piores qualidades e vai "lapidando" aparentemente com o tempo.
Dessa forma, reabilitamos canalhas, algozes, canastrões, corruptos. E eles passam a ter em mãos as rédeas para o progresso de amanhã. Só que eles têm uma origem retrógrada e mesmo suas reabilitações se dão sem a compreensão real das novas causas que dizem terem aderido tardiamente.
Assim, o Brasil não poderá de forma alguma se tornar a vanguarda da humanidade planetária. Sempre dependendo de trabalhar o novo em bases retrógradas, o país sul-americano ficará sempre com o seu caminho comprometido e muito mal asfaltado. Os degredados degradaram o Brasil.
Ainda descrevendo o caso dos degredados, observa-se que a religião que se autoproclama a vanguarda das crenças espiritualistas, o "espiritismo" brasileiro, na verdade é uma combinação da essência do Catolicismo medieval português com algumas concessões trazidas pela origem herege dos cristãos-novos.
Graças à influência dos degredados no povoamento do Brasil, o país até hoje tem como tradição desenvolver ideias novas em bases ideológicas velhas, que praticamente eliminam a essência original das novidades, sejam elas criadas no Brasil ou trazidas do exterior, e só são consolidadas quando se convertem nas formas deturpadas, onde as bases originais são quase todas descartadas.
Se hoje temos internautas reacionários, que nas mídias sociais eventualmente combinam juntos uma campanha difamatória contra alguém que discorda do que os reaças pensam - geralmente defendendo decisões transmitidas "de cima" pela política, pelo mercado ou pelo poder midiático - , é porque faz parte da "filosofia degradada" combinar formas novas com conteúdos retrógrados.
Mesmo na cultura rock, expressão vinculada, em tese, à modernidade juvenil, nota-se que o árduo trabalho da Rádio Fluminense FM, de Niterói (RJ), com todo o prestígio que alcançou, foi deixado para trás e hoje o segmento é muito mal representado pelas deturpações grotescas da Rádio Cidade, que com sua mentalidade pop nunca teve tradição nem vocação para explorar o rock.
É a "filosofia" dos degredados que influi neste caso, herança do hábito de um degredado seguir tardiamente uma causa, depois que viu nela alguma conveniência. Por um lado, a Rádio Cidade se consagrou como rádio pop comum, e só embarcou no rock quando passou a ver nele "uma graninha extra". E a causa do rock no rádio só se firmou na forma deturpada feita pela Cidade.
A "filosofia degredada" cria um ambiente energético que protege corruptos, assassinos, ladrões, canastrões e canalhas. Porque eles são as representações modernas dos antigos degredados, que sempre adotam a metodologia de primeiro se ascender através das piores qualidades e depois "ir lapidando" com o tempo.
O Brasil não consegue progredir por causa disso. Trabalha o progresso através de um pacto com o retrocesso, e a história sempre registrou movimentos que dificilmente se tornam inteiramente vanguardistas, porque sempre têm que negociar com alguma força retrógrada para se expressar e ter alguma projeção.
"ESPIRITISMO" NADA ESPÍRITA
O "espiritismo" brasileiro não seria exceção, uma vez que ele, em tese, surgiu de uma novidade trazida pela França, a Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec. Embora o pedagogo francês seja permanentemente evocado pelos "espíritas" brasileiros, quase nada se aproveitou de fato do seu repertório de conhecimentos. De kardeciano, o "espiritismo" brasileiro só tem a fachada.
O que vemos no "espiritismo" brasileiro, na verdade, é uma combinação do Catolicismo medieval português, que ainda exercia influência na sociedade do Segundo Império brasileiro, com as concessões trazidas pela origem herética dos "cristãos-novos", o que faz com que mesmo as ideias aparentemente espíritas do "espiritismo" brasileiro nada tenham a ver com Kardec.
Kardec só "foi aproveitado" em duas ideias: a consciência da vida após a morte e a reencarnação. Mas essas duas ideias são muito anteriores a Kardec e há registros dessa crença até mesmo nas expressões rudimentares na pré-história.
Os ritos e dogmas que se aproximam da natureza espírita e que foram adotados pela doutrina liderada pela FEB, portanto, correspondem aos procedimentos associados à feitiçaria e ao curandeirismo que os movimentos heréticos haviam praticado na Idade Média. Essencialmente, nenhum vestígio de Allan Kardec.
Pode parecer ridículo para muitos de seus seguidores, mas o "espiritismo" brasileiro praticamente nada tem de realmente espírita, já que sua combinação de moralismo religioso, herdado do Catolicismo medieval, com as práticas de aparente mediunidade, terapias e curandeirismo, herdadas dos movimentos heréticos, criaram uma seita que nenhuma relação real tem com Kardec.
É só prestar atenção, rigorosamente. A doutrina de Allan Kardec é uma, a que foi popularizada por Chico Xavier é outra completamente diferente. A de Xavier é a que combina Catolicismo medieval com curandeirismo e misticismo herético dos "cristãos-novos", criando uma diferença tão aberrante com a doutrina kardeciana que alguns reparos tiveram que serem feitos.
DEGREDADOS E A POLÍTICA
Afinal, é da praxe dos degredados mentir ou dizer meias-verdades, e uma das "artes" conhecidas no Brasil é justificar as piores decisões pelo melhor dos argumentos. Quantos egoístas se passam por "altruístas" pelo amplo e engenhoso repertório de desculpas que fazem, geralmente definindo como "sacrifícios necessários" os prejuízos sérios que fazem contra outrem?
O sistema de ônibus do Rio de Janeiro, da dupla função dos motoristas-cobradores que sobrecarregam seu trabalho, dos ônibus com pintura padronizada que acobertam a corrupção e confundem os passageiros e das linhas com itinerário mutilado que, sob o rótulo de "alimentadoras", tiram ônibus de circulação e obrigam passageiros a esperarem mais tempo pela chegada de um veículo sempre superlotado, é um claro exemplo disso.
Tanto o prefeito Eduardo Paes como os que passaram pela Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), Alexandre Sansão e Carlos Roberto Osório, tentaram justificar suas convicções egoístas e autoritárias com argumentos "técnicos" falsamente "em prol do interesse público". As "generosas" desculpas os fazem diferir ligeiramente das autoridades do Império Romano, mas ao que tudo indica a sede de prejudicar o povo é praticamente a mesma.
Mais uma vez é a "filosofia" dos degredados que influi na sociedade. E sabe-se que, no caso do sistema de ônibus, a figura de Jaime Lerner também segue a metodologia dos degredados, de se afirmar no pior e só tardiamente "se lapidar" para se manter no poder.
Lerner foi político da ditadura, ligado à ARENA (Aliança Renovadora Nacional), e seu projeto de mobilidade urbana era um dos derivados do "milagre brasileiro" e um equivalente exato dos setores Urbanismo e Transportes ao que o projeto econômico de Roberto Campos, que foi ministro do general Castelo Branco, representou para a Economia.
Só que Lerner tentou sair incólume com a redemocratização, tentou se filiar a partidos de centro-esquerda (PDT e PSB) e limpar sua imagem de "filhote da ditadura" forjando a de um tecnocrata "independente", a impor seu decadente projeto de transporte coletivo, herança do "milagre brasileiro", como uma falsa novidade para o Rio de Janeiro de 2010 e daí para o resto do país.
É o velho que tenta se passar pelo novo. E, ainda na política, nota-se o atenuante do ex-presidente Fernando Collor, o "abençoado" político das Alagoas, livrar-se de um processo por falsidade ideológica na campanha eleitoral de 2002 porque, com a lentidão do processo judicial, este se tornou obsoleto, já que prescreveu após 12 anos do fato que o motivou.
Collor recebeu as bênçãos que Juscelino Kubitschek não recebeu. Kubitschek era um político moderado, altruísta, e fez todas as generosidades possíveis com Chico Xavier e a FEB e transformou a federação em "instituição de utilidade pública", e com toda a bondade o mineiro pagou caro com as más energias que contraiu.
Juscelino viu perder para sempre sua chance de ser eleito em 1965 e começar mandato em Brasília. Mesmo se opondo ao seu ex-vice, João Goulart, por causa de atitudes como a anistia a um grupo de marinheiros rebeldes (incluindo o traiçoeiro Cabo Anselmo), o mineiro foi um dos primeiros políticos a ter seu mandato cassado.
Além disso, Juscelino tentou um movimento de redemocratização, que foi abortado. Tentou entrar na Academia Brasileira de Letras (hoje capaz de receber um medíocre Merval Pereira), mas não conseguiu. E ainda foi morto no final de 1976 em um estranho acidente de carro, que soa como um atentado, mas legistas recentemente constataram que foi apenas um "acidente de trânsito comum".
E Collor, que nem foi assim tão amigo de Chico Xavier? Ele roubou o país e perdeu até o mandato e os direitos políticos, mas se reabilitou de tal forma que aqueles que poderiam barrar seu caminho de volta ao poder faleceram, como seus irmãos Pedro e Leopoldo e o tesoureiro Paulo César Farias, assassinado com sua namorada num crime em que se permitiu apagar vestígios, deixando um mistério para sempre irresolúvel.
Collor cresceu tanto que passou a ser cortejado até por antigos opositores. E ele ainda cria discurso para dizer que não está envolvido com a corrupção da Petrobras, nem com outro tipo de esquema. Senador medíocre, tenta posar de estadista e ainda é aplaudido por gente influente e até progressista.
Fernando Collor também é um outro dos tantos exemplos que o Brasil degredado tanto gosta. Daí ele ter sido, até hoje, um sujeito de sorte. Ele encaixa do perfil defendido pelos espíritos degredados. Um homem que se afirma pelas piores qualidades e vai "lapidando" aparentemente com o tempo.
Dessa forma, reabilitamos canalhas, algozes, canastrões, corruptos. E eles passam a ter em mãos as rédeas para o progresso de amanhã. Só que eles têm uma origem retrógrada e mesmo suas reabilitações se dão sem a compreensão real das novas causas que dizem terem aderido tardiamente.
Assim, o Brasil não poderá de forma alguma se tornar a vanguarda da humanidade planetária. Sempre dependendo de trabalhar o novo em bases retrógradas, o país sul-americano ficará sempre com o seu caminho comprometido e muito mal asfaltado. Os degredados degradaram o Brasil.
sábado, 23 de maio de 2015
Chico Xavier e a sua fantasia sobre os degredados
Como livro de História do Brasil, o volume Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, é risível e nem de longe remete à suposta missão reveladora que se atribui a uma obra que se acredite espiritual, que prometeria novidades que estariam alheias à nossa percepção terrena.
O livro começa mal pela autoria pois, apesar da atribuição oficial ao espírito do escritor Humberto de Campos (1886-1934), apresenta fortes indícios de um livro escrito a quatro mãos por Francisco Cândido Xavier e Antônio Wantuil de Freitas, então presidente da Federação "Espírita" Brasileira.
Lançado em 1938, o livro destoa completamente do estilo original de Humberto de Campos, escritor maranhense membro da Academia Brasileira de Letras e bastante popular em seu tempo, tirando todo o mérito de Chico Xavier de estar associado ao legado do falecido intelectual.
Humberto tinha, em vida, uma prosa descontraída, laica, culta mas em linguagem informal e acessível. O "espírito Humberto" tinha uma prosa melancólica, relativamente culta mas em linguagem pesada e por vezes falha, dotada de excessivo conteúdo religioso e aberrantes deslizes históricos.
O livro inclui plágios diversos - há até uma transcrição levemente alterada de um trecho de O Brasil Anedótico, que o verdadeiro Humberto produziu em vida como um livro de humor (!) - , criando uma praxe que se associa ao lado sombrio de Chico Xavier, não reconhecido pelos seus seguidores mas cuidadosamente confirmado por especialistas literários dos mais conceituados.
A linguagem de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho é risível e digna de contos de fadas. Seguramente, Humberto de Campos, mesmo em momentos mais brincalhões, seria incapaz de ter escrito este livro, que, como descrevemos no começo do texto, nada revelou em dados históricos, por repetir as fantasias que a historiografia brasileira oficial já publicava na época.
Sobre os degredados, que descrevemos na postagem anterior, um capítulo inteiro é dedicado a eles, com a mesma linguagem de dramalhão infantilizado trazida por todo o livro. Reproduzimos o capítulo, curto, para que os leitores pesquisem sobre sua linguagem e conteúdo e verificassem a improcedência da autoria de Humberto que, repetimos, tinha estilo completamente diferente.
Nota-se que, no capítulo, Chico Xavier fantasia sobre os degredados, definindo o Brasil como um "paraíso acolhedor" e atribuindo o degredo como se fosse uma "graça divina". Sabemos que isso nunca foi verdade e o exílio se deu apenas porque os portugueses quiseram se livrar de determinadas pessoas e esse era o padrão de sentença penal dada pelas autoridades do país europeu.
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OS DEGREDADOS
Escrito por Francisco Cândido Xavier e (provavelmente) por Antônio Wantuil de Freitas (não creditado). Atribuído (tendenciosamente) ao espírito Humberto de Campos.
Todos os espíritos edificados nas lições sublimes do Senhor se reuniram, logo após o descobrimento da nova terra, celebrando o acontecimento nos espaços do Infinito. Grandes multidões donairosas e aéreas formavam imensos hifens de luz, entre a terra e o céu. Uma torrente impetuosa de perfumes se elevava da paisagem verde e florida, em busca do firmamento, de onde voltava à superfície do solo, saturada de energias divinas. Nos ninhos quentes das árvores, pousavam as vibrações renovadoras das esperanças santificantes, e, no Além, ouviam-se as melodias evocadoras da Galileia, ubertosa e agreste antes das lutas arrasadoras das Cruzadas, que lhe talaram todos os campos, transformando-a num montão de ruínas. Afigurava-se que a região dos pescadores humildes, que conheceu, bastante assinalados, os passos do Divino Mestre, se havia transplantado igualmente para o continente novo, dilatada em seus suaves contornos.
Uma alegria paradisíaca reinava em todas as almas que comemoravam o advento da Pátria do Evangelho, quando se fez presente, na assembléia augusta, a figura misericordiosa do Cordeiro.
Complacente sorriso lhe bailava nos lábios angélicos e suas mãos liriais empunhavam largo estandarte branco, como se um fragmento de sua alma radiosa estivesse ali dentro, transubstanciado naquela bandeira de luz, que era o mais encantador dos símbolos de perdão e de concórdia. Dirigindo-se a um dos seus elevados mensageiros na face do orbe terrestre, em meio do divino silêncio da multidão espiritual, sua voz ressoou com doçura:
— Ismael, manda o meu coração que doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a nos teus braços de trabalhador devotado da minha seara, como a recebi no coração, obedecendo a sagradas inspirações do Nosso Pai. Reúne as incansáveis falanges do Infinito, que cooperam nos ideais sacrossantos de minha doutrina, e inicia, desde já, a construção da pátria do meu ensinamento. Para aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua abnegação e com o teu sublimado heroísmo. Ela será a doce paisagem dilatada do Tiberíades, que os homens aniquilaram na sua voracidade de carnificina. Guarda este símbolo da paz e inscreve na sua imaculada pureza o lema da tua coragem e do teu propósito de bem servir à causa de Deus e, sobretudo, lembra-te sempre de que estarei contigo no cumprimento dos teus deveres, com os quais abrirás para a humanidade dos séculos futuros um caminho novo, mediante a sagrada revivescência do Cristianismo.
Ismael recebe o lábaro bendito das mãos compassivas do Senhor, banhado em lágrimas de reconhecimento, e, como se entrara em ação o impulso secreto da sua vontade, eis que a nívea bandeira tem agora uma insígnia. Na sua branca substância, uma tinta celeste inscrevera o lema imortal: "Deus, Cristo e Caridade". Todas as almas ali reunidas entoam um hosana melodioso e intraduzível à sabedoria do Senhor do Universo. São vibrações gloriosas da espiritualidade, que se elevam pelos espaços ilimitados, louvando o Artista Inimitável e o Matemático Supremo de todos os sóis e de todos os mundos.
O emissário de Jesus desce então à Terra, onde estabelecerá a sua oficina. Os exércitos dos seres redimidos e luminosos lhe seguem a esplêndida trajetória e, como se o chão do Brasil fosse a superfície de um novo Hélicon da imortalidade, a natureza, macia e cariciosa, toda se enfeita de luzes e sombras, de sinfonias e de ramagens odoríferas, preparando-se para um banquete de deuses.
Os caminhos agrestes tornam-se sendas de maravilhosa beleza, rasgadas pelas coortes do invisível. Nessa hora, a frota de Cabral foge das águas verdes e fartas da Baía de Porto Seguro.
Entretanto, nas fitas extensas da praia choram, desesperadamente, os dois degredados, dos vinte párias sociais que o Rei D. Manuel I destinara ao exílio.
Os homens do mar se distanciam daqueles sítios, levando amostras da sua extraordinária riqueza. Em toda a paisagem há um largo ponto de interrogação, enquanto os dois infelizes se lastimam sem consolo e sem esperança. Os silvícolas amáveis e fraternos lhes abrem os braços; é dos seus corações rudes e simples que desabrocham, para a amargura deles, as flores amigas de um brando conforto.
Mas, Afonso Ribeiro, um dos condenados ao penoso desterro, avança numa piroga desprotegida e desmantelada, sem que os olhos da História lhe anotassem o gesto de profunda desesperação, a caminho do mar alto. Ao longe, percebem-se ainda os derradeiros mastros das caravelas itinerantes. O infeliz degredado anseia por morrer. Os últimos gemidos abafados lhe saem da garganta exausta. Seus olhos, inchados de pranto, contemplam as duas imensidades, a do oceano e a do céu, e, esperando na morte o socorro bondoso, exclama, do íntimo do coração:
— Jesus, tende piedade da minha infinita amargura! Enviai a morte ao meu espírito desterrado. Sou inocente, Senhor, e padeço a tirania da injustiça dos homens. Mas, se a traição e a covardia me arrebataram da pátria, afastando dos meus olhos as paisagens queridas e os afetos mais santos do coração, essas mesmas calúnias não me separaram da vossa misericórdia!
Nesse instante, porém, o pobre exilado sente que uma alvorada de luz estranha lhe nasce no âmago da alma atribulada. Uma esperança nova se apossa de todas as suas fibras emotivas e, como por delicado milagre, a sua jangada rústica regressa, celeremente, à praia distante. Em vão as ondas sinistras e poderosas tentam arrebatá-lo para o oceano largo. Uma força misteriosa o conduz a terra firme, onde o seu coração encontrará uma família nova.
Ismael havia realizado o seu primeiro feito nas Terras de Vera Cruz. Trazendo um náufrago e inocente para a base da sociedade fraterna do porvir, ele obedecia a sagradas determinações do Divino Mestre. Primeiramente, surgiram os índios, que eram os simples de coração; em segundo lugar, chegavam os sedentos da justiça divina e, mais tarde, viriam os escravos, como a expressão dos humildes e dos aflitos, para a formação da alma coletiva de um povo bem-aventurado por sua
mansidão e fraternidade.
Naqueles dias longínquos de 1500, já se ouviam no Brasil os ecos acariciadores do Sermão da Montanha.
sexta-feira, 22 de maio de 2015
Brasil surgiu como um "depósito" dos degredados
ILUSTRAÇÃO MOSTRA DEGREDADOS DESEMBARCANDO NO BRASIL.
O país que recebeu a expedição do navegador português Pedro Álvares Cabral, mas que era cobiçado por outras nações pela sua riqueza de recursos naturais, é oficialmente tido como "descoberto" pela referida expedição, em 22 de abril de 1500.
Há muitos mitos na historiografia oficial do Brasil, que se aproximam mais da fantasia e das crendices do que da realidade, e soam tão ridículas quanto acreditar que gigantescos monstros do mar habitassem os oceanos a necessariamente devorar todas as embarcações que por eles passassem.
Hoje temos navegações marítimas que, não fossem erros de qualquer natureza, como falhas mecânicas e humanas, atravessam oceanos com relativa segurança. O único problema existente é o tédio das viagens por demais longas e o mal-estar físico dos que olham o movimento das águas e sentem o tão conhecido enjoo.
Enquanto a História do Brasil oficial diz que o país foi "descoberto" em 1500, documentos indicam que, bem antes dessa data, o território era conhecido por exploradores europeus e até asiáticos, pela farta presença de recursos naturais, como árvores, frutos e animais silvestres. O nome Brasil se deve a uma das árvores típicas do lugar, o pau-brasil.
Sua colonização não se deu da forma humanista que, por exemplo, vimos nos Estados Unidos da América. Em primeiro lugar, porque o território brasileiro foi visto durante muito tempo como uma mera área de exploração econômica, de extração de produtos. Em segundo lugar, porque a origem de seu povoamento não foi das mais agradáveis.
Durante muito tempo, o Brasil era uma espécie de exílio dos degredados. Os degredados eram tipos de pessoas consideradas desagradáveis para a vida social de Portugal. Nela incluíam desde hereges que, batizados pelo Catolicismo, eram vistos como "cristãos-novos", até feiticeiros, ciganos e até mesmo ladrões, desordeiros e assassinos, detidos e condenados a viver em degredo na "nova terra".
Vários degredados eram contratados para desempenhar atividades consideradas perigosas para as tripulações de navios, ou então eram designados para desbravar áreas florestais em busca de riquezas ou recursos de potencial aproveitamento econômico. Se fizessem um bom trabalho, poderiam receber indulto e serem considerados livres.
Entre alguns degredados famosos, estavam João Nunes, cristão-novo que serviu o navegador Vasco da Gama, Luís de Moura, degredado que serviu Pedro Álvares Cabral e João Ramalho, que ajudou no povoamento português das cidades de São Vicente, na Baixada Santista, e São Paulo.
O mais antigo degredado da História do Brasil teria sido Afonso Ribeiro, jovem português que teria cometido um assassinato e cuja situação criminal fez sua noiva Elena Gonçalves desistir do casamento e optar pelo celibato religioso. Segundo carta de Pero Vaz de Caminha, ele veio com Cabral em 1500 juntamente com outro degredado, cujo nome se perdeu dos registros históricos. É considerado o primeiro brasileiro.
Outro dos mais antigos degredados teria sido Cosme Fernandes Pessoa, o Bacharel da Cananeia, cujos dados biográficos são imprecisos e contraditórios. Segundo se consta, ele teria sido um dos primeiros traficantes de escravos e tinha fama de arruaceiro, com relatos de sua presença no solo brasileiro em 1502.
O "bacharel" foi deixado na hoje cidade de Cananeia, no litoral sul paulista, depois que, tendo sido um dos fundadores do povoado de São Vicente, origem da atual cidade, havia sido expulso pelo fundador da cidade, Martim Afonso de Souza, por causa da origem herege do degredado, que havia se tornado cristão-novo.
Articulando índios da tribo Carijó que viviam em Cananeia, Cosme Fernandes se vingou da atitude de Martim Afonso e resolveu liderar uma rebelião que invadiu São Vicente e provocou saques, depredação e incêndio em diversas casas. Consta-se que Cosme já vivia no território do atual Brasil antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral.
Um dos últimos degredados portugueses, pelo menos com o perfil que tradicionalmente se tem da condição, foi o militar José Teixeira da Silva, o Zé do Telhado, conhecido por ter sido ladrão e arruaceiro. Viveu entre 1818 e 1875, época em que o Brasil era praticamente uma nação autônoma.
Zé do Telhado era conhecido por roubar dos ricos para dar aos pobres, sendo uma espécie de Robin Hood português. Num dos roubos, pretendia fugir para o Brasil, já não mais tido como exílio de degredafos, e, preso na Cadeia da Relação, na cidade portuguesa do Porto, conheceu o escritor Camilo Castelo Branco, que ali trabalhava, e que o citou no livro Memórias do Cárcere, de 1862.
TRADIÇÃO "DEGREDADA"?
O povoamento brasileiro através de degredados - que faz o anedotário popular descrever o Brasil como um "depósito de lixo de Portugal" - parece criar um "imaginário" cultural que influencia até os nossos dias, que permitem diversos aspectos existentes no nosso cotidiano.
A impunidade criminal e a mediocrização cultural seriam alguns desses aspectos, uma herança da mentalidade trazida pelos degredados, tanto pela tardia especialização em trabalhos de grande envergadura, quanto pela tardia consciência dos crimes cometidos.
Vale lembrar que muitos degredados eram ladrões bem sucedidos, o que diz muito com o longo histórico de corrupção política que se desenvolveu no Brasil e que, nos últimos anos, desafia até mesmo os níveis ideológicos e acadêmicos.
O tardio "aperfeiçoamento" dos ícones da mediocrização cultural, desde emissoras de rádio incapazes de compreender o segmento que dizem representar - como as "rádios rock" 89 FM, de São Paulo, e Rádio Cidade, do Rio de Janeiro - até cantores bregas que buscam estar "a um passo da MPB", como Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires, Leonardo e Daniel, também é herança dos degredados.
Pode até ser discutível, para certas correntes, tal constatação, mas ela faz sentido, uma vez que o Brasil se desenvolveu a partir de valores confusos, contraditórios e instáveis trazidos pelos diversos tipos de degredados que iniciaram o povoamento no país.
Esse sistema de valores ainda é trabalhosamente combatido ou corrigido na sociedade brasileira, estando à mercê da violenta reação que se observa em vários usuários de Internet ou mesmo em celebridades e jornalistas da grande imprensa. Apesar da modernidade tecnológica, há muita gente que ainda parece viver nos tempos do Brasil colonial.
O país que recebeu a expedição do navegador português Pedro Álvares Cabral, mas que era cobiçado por outras nações pela sua riqueza de recursos naturais, é oficialmente tido como "descoberto" pela referida expedição, em 22 de abril de 1500.
Há muitos mitos na historiografia oficial do Brasil, que se aproximam mais da fantasia e das crendices do que da realidade, e soam tão ridículas quanto acreditar que gigantescos monstros do mar habitassem os oceanos a necessariamente devorar todas as embarcações que por eles passassem.
Hoje temos navegações marítimas que, não fossem erros de qualquer natureza, como falhas mecânicas e humanas, atravessam oceanos com relativa segurança. O único problema existente é o tédio das viagens por demais longas e o mal-estar físico dos que olham o movimento das águas e sentem o tão conhecido enjoo.
Enquanto a História do Brasil oficial diz que o país foi "descoberto" em 1500, documentos indicam que, bem antes dessa data, o território era conhecido por exploradores europeus e até asiáticos, pela farta presença de recursos naturais, como árvores, frutos e animais silvestres. O nome Brasil se deve a uma das árvores típicas do lugar, o pau-brasil.
Sua colonização não se deu da forma humanista que, por exemplo, vimos nos Estados Unidos da América. Em primeiro lugar, porque o território brasileiro foi visto durante muito tempo como uma mera área de exploração econômica, de extração de produtos. Em segundo lugar, porque a origem de seu povoamento não foi das mais agradáveis.
Durante muito tempo, o Brasil era uma espécie de exílio dos degredados. Os degredados eram tipos de pessoas consideradas desagradáveis para a vida social de Portugal. Nela incluíam desde hereges que, batizados pelo Catolicismo, eram vistos como "cristãos-novos", até feiticeiros, ciganos e até mesmo ladrões, desordeiros e assassinos, detidos e condenados a viver em degredo na "nova terra".
Vários degredados eram contratados para desempenhar atividades consideradas perigosas para as tripulações de navios, ou então eram designados para desbravar áreas florestais em busca de riquezas ou recursos de potencial aproveitamento econômico. Se fizessem um bom trabalho, poderiam receber indulto e serem considerados livres.
Entre alguns degredados famosos, estavam João Nunes, cristão-novo que serviu o navegador Vasco da Gama, Luís de Moura, degredado que serviu Pedro Álvares Cabral e João Ramalho, que ajudou no povoamento português das cidades de São Vicente, na Baixada Santista, e São Paulo.
O mais antigo degredado da História do Brasil teria sido Afonso Ribeiro, jovem português que teria cometido um assassinato e cuja situação criminal fez sua noiva Elena Gonçalves desistir do casamento e optar pelo celibato religioso. Segundo carta de Pero Vaz de Caminha, ele veio com Cabral em 1500 juntamente com outro degredado, cujo nome se perdeu dos registros históricos. É considerado o primeiro brasileiro.
Outro dos mais antigos degredados teria sido Cosme Fernandes Pessoa, o Bacharel da Cananeia, cujos dados biográficos são imprecisos e contraditórios. Segundo se consta, ele teria sido um dos primeiros traficantes de escravos e tinha fama de arruaceiro, com relatos de sua presença no solo brasileiro em 1502.
O "bacharel" foi deixado na hoje cidade de Cananeia, no litoral sul paulista, depois que, tendo sido um dos fundadores do povoado de São Vicente, origem da atual cidade, havia sido expulso pelo fundador da cidade, Martim Afonso de Souza, por causa da origem herege do degredado, que havia se tornado cristão-novo.
Articulando índios da tribo Carijó que viviam em Cananeia, Cosme Fernandes se vingou da atitude de Martim Afonso e resolveu liderar uma rebelião que invadiu São Vicente e provocou saques, depredação e incêndio em diversas casas. Consta-se que Cosme já vivia no território do atual Brasil antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral.
Um dos últimos degredados portugueses, pelo menos com o perfil que tradicionalmente se tem da condição, foi o militar José Teixeira da Silva, o Zé do Telhado, conhecido por ter sido ladrão e arruaceiro. Viveu entre 1818 e 1875, época em que o Brasil era praticamente uma nação autônoma.
Zé do Telhado era conhecido por roubar dos ricos para dar aos pobres, sendo uma espécie de Robin Hood português. Num dos roubos, pretendia fugir para o Brasil, já não mais tido como exílio de degredafos, e, preso na Cadeia da Relação, na cidade portuguesa do Porto, conheceu o escritor Camilo Castelo Branco, que ali trabalhava, e que o citou no livro Memórias do Cárcere, de 1862.
TRADIÇÃO "DEGREDADA"?
O povoamento brasileiro através de degredados - que faz o anedotário popular descrever o Brasil como um "depósito de lixo de Portugal" - parece criar um "imaginário" cultural que influencia até os nossos dias, que permitem diversos aspectos existentes no nosso cotidiano.
A impunidade criminal e a mediocrização cultural seriam alguns desses aspectos, uma herança da mentalidade trazida pelos degredados, tanto pela tardia especialização em trabalhos de grande envergadura, quanto pela tardia consciência dos crimes cometidos.
Vale lembrar que muitos degredados eram ladrões bem sucedidos, o que diz muito com o longo histórico de corrupção política que se desenvolveu no Brasil e que, nos últimos anos, desafia até mesmo os níveis ideológicos e acadêmicos.
O tardio "aperfeiçoamento" dos ícones da mediocrização cultural, desde emissoras de rádio incapazes de compreender o segmento que dizem representar - como as "rádios rock" 89 FM, de São Paulo, e Rádio Cidade, do Rio de Janeiro - até cantores bregas que buscam estar "a um passo da MPB", como Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires, Leonardo e Daniel, também é herança dos degredados.
Pode até ser discutível, para certas correntes, tal constatação, mas ela faz sentido, uma vez que o Brasil se desenvolveu a partir de valores confusos, contraditórios e instáveis trazidos pelos diversos tipos de degredados que iniciaram o povoamento no país.
Esse sistema de valores ainda é trabalhosamente combatido ou corrigido na sociedade brasileira, estando à mercê da violenta reação que se observa em vários usuários de Internet ou mesmo em celebridades e jornalistas da grande imprensa. Apesar da modernidade tecnológica, há muita gente que ainda parece viver nos tempos do Brasil colonial.
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Análise completa sobre suposta mensagem de Humberto de Campos no caso judicial
ORIGENS DA OBSESSÃO XAVIERIANA - HUMBERTO DE CAMPOS LANÇOU ESTE LIVRO QUANDO FAZIA SUA RESENHA SOBRE UM LIVRO DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.
Já divulgamos neste blogue uma mensagem atribuída a Humberto de Campos, publicada pela FEB depois do episódio do processo dos familiares do falecido escritor, mas ainda em 1944, registrada por Miguel Timponi, advogado da federação, no livro A Psicografia Ante os Tribunais.
Fizemos uma análise parcial da mensagem, apenas apontando os principais pontos que indicam que a mensagem, na verdade, teria sido escrita por Antônio Wantuil de Freitas em parceria com o anti-médium mineiro, Francisco Cândido Xavier, como forma tendenciosa de comover aqueles que assistiam atônitos aos desdobramentos do processo judicial daquele ano.
Desde que Humberto de Campos, ainda em vida, resenhou o livro Parnaso de Além-Túmulo, de Francisco Cândido Xavier, este investiu na mais absoluta obsessão pelo escritor, depois que este faleceu em 1934, com apenas 48 anos.
Chico teria se vingado de resenha irônica, criando um "espírito Humberto" com estilo de prosa completamente diferente ao original, tornando-se um dos poucos casos de alguém que permanece até hoje (mesmo após o falecimento do anti-médium, em 2002) impune e abertamente aceito no crime de usurpação e apropriação indébita da memória de um autor falecido. Hoje, Chico Xavier é visto praticamente como "dono" do legado de Humberto de Campos.
Nele os familiares de Humberto de Campos, a viúva e os filhos, moveram, através do advogado Milton Barbosa (que viu irregularidades sérias na obra literária atribuída ao espírito, por contradizerem ao que ele produziu em vida), pediam a verificação das obras da FEB que levam o nome do escritor.
A intenção era saber se a autoria espiritual era verdadeira ou não. Se fosse, os familiares receberiam pelos direitos autorais. Se não fosse, Chico Xavier e a FEB teriam que pagar uma multa por apropriação indébita do nome do falecido escritor, figura destacada da Academia Brasileira de Letras entre os anos 1920 e o começo dos anos 1930.
A Justiça da época julgou a ação improcedente, criando um empate jurídico que beneficiou a FEB e Chico Xavier, dando origem ao mito que deslumbra muitos seguidores até hoje nas mídias sociais.
Todavia, notamos que a mensagem que o suposto Humberto de Campos divulgou na época do julgamento é falsa, pelas próprias caraterísticas textuais que não só contradizem o estilo original do escritor, como apontam estilos que se alternam entre os de Chico Xavier e os de Wantuil (é só ler, neste caso, o livro Síntese de O Novo Testamento, sob o pseudônimo Mínimus).
Segue abaixo a referida mensagem, que aqui aparece separada em parágrafos, para uma análise detalhada. Note-se que alguns trechos correspondem, em estilo de escrita, ao estilo que Chico Xavier escreveu ou declarou em frases divulgadas atualmente no Facebook.
Em contrapartida, a mensagem mostra um "Humberto de Campos" deprimentemente religioso, diferente da prosa culta, laica e descontraída do seu estilo original:
"Não desconheço minha pesada responsabilidade moral, no momento quando o sensacionalismo abre torrente de amargura em torno de minh'alma".
Este trecho se identifica plenamente com o estilo de escrever de Chico Xavier, com a semelhança explícita das frases que o anti-médium mineiro tanto lançou e se tornaram bastante famosas e muito populares, acessíveis nas mídias sociais.
"Recebeu-me a Federação Espírita Brasileira, generosamente, em seus labores evangélicos, publicou-me as páginas singelas de noticiarista desencarnado, concedendo-me o ingresso na Academia da Espiritualidade. E continuei conversando com os desesperados de todos os matizes, voluntariamente, como o hóspede interessado em valer-se da casa acolhedora".
Embora seja uma argumentação combinada entre Chico e Wantuil, observa-se que a redação final do referido parágrafo se remete mais a Wantuil, até por estar puxado a uma retórica pretensamente científica e linguagem tipicamente editorial, como é de praxe de um chefe de uma instituição.
"Eis, porém, que comparecem meus filhos diante da justiça, reclamando uma sentença declaratória. Querem saber, por intermédio do Direito Humano, se eu sou eu mesmo, como se as leis terrestres, respeitabilíssimas embora, pudessem substituir os olhos do coração. Abre-se o mecanismo processual, e o escândalo jornalístico acende a fogueira da opinião pública. Exigem meus filhos a minha patente literária e, para isso, recorrem à petição judicial. Não precisavam, todavia, movimentar o exército dos parágrafos e atormentar o cérebro dos juízes. Que é semelhante reclamação para quem já lhes deu a vida da sua vida? Que é um nome, simples ajuntamento de sílabas, sem maior significação? Ninguém conhece, na Terra, os nomes dos elevados cooperadores de Deus, que sustentam as leis universais; entretanto são elas executadas sem esquecimento de um til".
Neste trecho, em que um pretenso "Humberto de Campos" pateticamente desvaloriza sua necessidade de provar a patente literária exigida pelos herdeiros do escritor maranhense, combina-se o sentimentalismo de Chico Xavier e uma argumentação agressiva e falsamente científica de Wantuil, que também teria escrito a redação final do texto, em que pese algumas palavras tipicamente xavierianas, como nas três últimas frases do parágrafo.
A argumentação é patética e hipócrita, uma vez que soa muito estranho que um autor se permita omitir-se de responsabilidade autoral, desafiando a lógica das coisas e dos fatos em nome dos "olhos do coração" e acusando a cobertura do processo movido contra Chico e a FEB de "escândalo jornalístico" que acende a "fogueira da opinião pública". O estranho "Humberto" permite-se proteger em um pretenso anonimato para fazer valer sua "mensagem".
A argumentação de que "ninguém conhece na Terra os nomes dos elevados cooperadores de Deus" é, ironicamente, um ajuntamento de sílabas que permite justificar "nobremente" uma fraude, em que a falsidade ideológica é "permitida" pela desculpa de que o valor dos atos está necessariamente na omissão da identidade de seus responsáveis.
"Na paz do anonimato, realizam-se os mais belos e os mais nobres serviços humanos."
Frase escancaradamente escrita por Chico Xavier, e desta vez somente ele, sendo absoluta e rigorosamente idêntica às frases que os internautas adoram mostrar nas mídias sociais, sobretudo Facebook.
"Quero, porém, salientar, nesta resposta simples, que meus filhos não moveram semelhante ação por perversidade ou má-fé. Conheço-lhes as reservas infinitas de afeto e sei pesar o quilate do ouro da carinhosa admiração que consagram ao pai amigo, distanciado do mundo. Mas que paisagem florida, em meio do mato inculto, estará isenta da serpe venenosa e cruel? É por isto que não observo esse problema triste, como o fariseu orgulhoso, e sim como o publicano humilhado, pedindo a bênção de Deus para a humana incompreensão".
Uma típica frase de duplo sentido. O estranho "Humberto" parece demonstrar afeição a sua família, mas também venenosa desconfiança, quando alude a presença de "serpe venenosa e cruel" numa "paisagem florida em meio do mato inculto". Contraditoriamente, reconhece que seus filhos não o processaram por perversidade ou má-fé, mas depois alega que eles podem não estarem isentos de intenções malignas ("serpe venenosa e cruel").
Pois aqui quem destila o seu veneno é o suposto espírito, bem no famoso ato de "morde e assopra", em que primeiro demonstra afeição a seus familiares, desmentindo perversidade e má-fé de sua ação judicial, mas depois suspeitando de intenções maldosas por trás desse processo, para em seguida dizer que não observa esse "problema triste" como "fariseu orgulhoso" e "sim como o publicano humilhado".
Diante desse parágrafo confuso, traiçoeiro e contraditório, observa-se algumas argumentações sentimentais típicas de Chico Xavier, mas os trechos ferinos indicam também a contribuição de Wantuil, que parece ter escrito a redação final.
"Diante, pois, do complicado problema em curso, ajoelho-me no altar da fé, rogando a Jesus inspire os dignos juízes de minha causa, para que façam cessar o escândalo, em torno do meu Espírito, considerando que o próprio Salomão funcionasse nessa causa, ao encarar as dificuldades do assunto, teria, talvez, de imitar o gesto de Pilatos, lavando as mãos".
Esse parágrafo tem muito mais a cara de Chico Xavier, prevalecendo o seu estilo de analisar os problemas, usando principalmente desculpas típicas, como "ajoelho-me no altar da fé, rogando a Jesus inspire os dignos juízes de minha causa", bem típica do anti-médium mineiro. O religiosismo extremo, a choradeira das palavras dóceis, o parágrafo é escancaradamente de Chico Xavier.
Já divulgamos neste blogue uma mensagem atribuída a Humberto de Campos, publicada pela FEB depois do episódio do processo dos familiares do falecido escritor, mas ainda em 1944, registrada por Miguel Timponi, advogado da federação, no livro A Psicografia Ante os Tribunais.
Fizemos uma análise parcial da mensagem, apenas apontando os principais pontos que indicam que a mensagem, na verdade, teria sido escrita por Antônio Wantuil de Freitas em parceria com o anti-médium mineiro, Francisco Cândido Xavier, como forma tendenciosa de comover aqueles que assistiam atônitos aos desdobramentos do processo judicial daquele ano.
Desde que Humberto de Campos, ainda em vida, resenhou o livro Parnaso de Além-Túmulo, de Francisco Cândido Xavier, este investiu na mais absoluta obsessão pelo escritor, depois que este faleceu em 1934, com apenas 48 anos.
Chico teria se vingado de resenha irônica, criando um "espírito Humberto" com estilo de prosa completamente diferente ao original, tornando-se um dos poucos casos de alguém que permanece até hoje (mesmo após o falecimento do anti-médium, em 2002) impune e abertamente aceito no crime de usurpação e apropriação indébita da memória de um autor falecido. Hoje, Chico Xavier é visto praticamente como "dono" do legado de Humberto de Campos.
Nele os familiares de Humberto de Campos, a viúva e os filhos, moveram, através do advogado Milton Barbosa (que viu irregularidades sérias na obra literária atribuída ao espírito, por contradizerem ao que ele produziu em vida), pediam a verificação das obras da FEB que levam o nome do escritor.
A intenção era saber se a autoria espiritual era verdadeira ou não. Se fosse, os familiares receberiam pelos direitos autorais. Se não fosse, Chico Xavier e a FEB teriam que pagar uma multa por apropriação indébita do nome do falecido escritor, figura destacada da Academia Brasileira de Letras entre os anos 1920 e o começo dos anos 1930.
A Justiça da época julgou a ação improcedente, criando um empate jurídico que beneficiou a FEB e Chico Xavier, dando origem ao mito que deslumbra muitos seguidores até hoje nas mídias sociais.
Todavia, notamos que a mensagem que o suposto Humberto de Campos divulgou na época do julgamento é falsa, pelas próprias caraterísticas textuais que não só contradizem o estilo original do escritor, como apontam estilos que se alternam entre os de Chico Xavier e os de Wantuil (é só ler, neste caso, o livro Síntese de O Novo Testamento, sob o pseudônimo Mínimus).
Segue abaixo a referida mensagem, que aqui aparece separada em parágrafos, para uma análise detalhada. Note-se que alguns trechos correspondem, em estilo de escrita, ao estilo que Chico Xavier escreveu ou declarou em frases divulgadas atualmente no Facebook.
Em contrapartida, a mensagem mostra um "Humberto de Campos" deprimentemente religioso, diferente da prosa culta, laica e descontraída do seu estilo original:
"Não desconheço minha pesada responsabilidade moral, no momento quando o sensacionalismo abre torrente de amargura em torno de minh'alma".
Este trecho se identifica plenamente com o estilo de escrever de Chico Xavier, com a semelhança explícita das frases que o anti-médium mineiro tanto lançou e se tornaram bastante famosas e muito populares, acessíveis nas mídias sociais.
"Recebeu-me a Federação Espírita Brasileira, generosamente, em seus labores evangélicos, publicou-me as páginas singelas de noticiarista desencarnado, concedendo-me o ingresso na Academia da Espiritualidade. E continuei conversando com os desesperados de todos os matizes, voluntariamente, como o hóspede interessado em valer-se da casa acolhedora".
Embora seja uma argumentação combinada entre Chico e Wantuil, observa-se que a redação final do referido parágrafo se remete mais a Wantuil, até por estar puxado a uma retórica pretensamente científica e linguagem tipicamente editorial, como é de praxe de um chefe de uma instituição.
"Eis, porém, que comparecem meus filhos diante da justiça, reclamando uma sentença declaratória. Querem saber, por intermédio do Direito Humano, se eu sou eu mesmo, como se as leis terrestres, respeitabilíssimas embora, pudessem substituir os olhos do coração. Abre-se o mecanismo processual, e o escândalo jornalístico acende a fogueira da opinião pública. Exigem meus filhos a minha patente literária e, para isso, recorrem à petição judicial. Não precisavam, todavia, movimentar o exército dos parágrafos e atormentar o cérebro dos juízes. Que é semelhante reclamação para quem já lhes deu a vida da sua vida? Que é um nome, simples ajuntamento de sílabas, sem maior significação? Ninguém conhece, na Terra, os nomes dos elevados cooperadores de Deus, que sustentam as leis universais; entretanto são elas executadas sem esquecimento de um til".
Neste trecho, em que um pretenso "Humberto de Campos" pateticamente desvaloriza sua necessidade de provar a patente literária exigida pelos herdeiros do escritor maranhense, combina-se o sentimentalismo de Chico Xavier e uma argumentação agressiva e falsamente científica de Wantuil, que também teria escrito a redação final do texto, em que pese algumas palavras tipicamente xavierianas, como nas três últimas frases do parágrafo.
A argumentação é patética e hipócrita, uma vez que soa muito estranho que um autor se permita omitir-se de responsabilidade autoral, desafiando a lógica das coisas e dos fatos em nome dos "olhos do coração" e acusando a cobertura do processo movido contra Chico e a FEB de "escândalo jornalístico" que acende a "fogueira da opinião pública". O estranho "Humberto" permite-se proteger em um pretenso anonimato para fazer valer sua "mensagem".
A argumentação de que "ninguém conhece na Terra os nomes dos elevados cooperadores de Deus" é, ironicamente, um ajuntamento de sílabas que permite justificar "nobremente" uma fraude, em que a falsidade ideológica é "permitida" pela desculpa de que o valor dos atos está necessariamente na omissão da identidade de seus responsáveis.
"Na paz do anonimato, realizam-se os mais belos e os mais nobres serviços humanos."
Frase escancaradamente escrita por Chico Xavier, e desta vez somente ele, sendo absoluta e rigorosamente idêntica às frases que os internautas adoram mostrar nas mídias sociais, sobretudo Facebook.
"Quero, porém, salientar, nesta resposta simples, que meus filhos não moveram semelhante ação por perversidade ou má-fé. Conheço-lhes as reservas infinitas de afeto e sei pesar o quilate do ouro da carinhosa admiração que consagram ao pai amigo, distanciado do mundo. Mas que paisagem florida, em meio do mato inculto, estará isenta da serpe venenosa e cruel? É por isto que não observo esse problema triste, como o fariseu orgulhoso, e sim como o publicano humilhado, pedindo a bênção de Deus para a humana incompreensão".
Uma típica frase de duplo sentido. O estranho "Humberto" parece demonstrar afeição a sua família, mas também venenosa desconfiança, quando alude a presença de "serpe venenosa e cruel" numa "paisagem florida em meio do mato inculto". Contraditoriamente, reconhece que seus filhos não o processaram por perversidade ou má-fé, mas depois alega que eles podem não estarem isentos de intenções malignas ("serpe venenosa e cruel").
Pois aqui quem destila o seu veneno é o suposto espírito, bem no famoso ato de "morde e assopra", em que primeiro demonstra afeição a seus familiares, desmentindo perversidade e má-fé de sua ação judicial, mas depois suspeitando de intenções maldosas por trás desse processo, para em seguida dizer que não observa esse "problema triste" como "fariseu orgulhoso" e "sim como o publicano humilhado".
Diante desse parágrafo confuso, traiçoeiro e contraditório, observa-se algumas argumentações sentimentais típicas de Chico Xavier, mas os trechos ferinos indicam também a contribuição de Wantuil, que parece ter escrito a redação final.
"Diante, pois, do complicado problema em curso, ajoelho-me no altar da fé, rogando a Jesus inspire os dignos juízes de minha causa, para que façam cessar o escândalo, em torno do meu Espírito, considerando que o próprio Salomão funcionasse nessa causa, ao encarar as dificuldades do assunto, teria, talvez, de imitar o gesto de Pilatos, lavando as mãos".
Esse parágrafo tem muito mais a cara de Chico Xavier, prevalecendo o seu estilo de analisar os problemas, usando principalmente desculpas típicas, como "ajoelho-me no altar da fé, rogando a Jesus inspire os dignos juízes de minha causa", bem típica do anti-médium mineiro. O religiosismo extremo, a choradeira das palavras dóceis, o parágrafo é escancaradamente de Chico Xavier.
quarta-feira, 20 de maio de 2015
Em crise, "movimento espírita" tenta ação "equilibrada"
Chama a atenção a tentativa do "movimento espírita", diante de intensa crise, adotar uma postura de "equilíbrio doutrinário" que é defendida por algumas correntes tidas como "realistas", preocupadas com outras correntes que exploram o "espiritismo" e seus totens de maneira sensacionalista.
Isso lembra o auge e declínio do roustanguismo, na primeira metade da década de 1970, que causou a última grande crise no "movimento espírita" brasileiro, na qual, tendenciosamente, os "médiuns" Chico Xavier e Divaldo Franco fingiram aderir à fidelidade a Allan Kardec, forjando mensagens "espirituais" de Bezerra de Menezes nesse sentido.
Seja pelos textos de Chico Xavier ou pelo falsete de Divaldo Franco - numa tosca imitação dos velhos bonachões feitos pelo ator, comediante e dublador Orlando Drummond, popularmente conhecido como o "Seu Peru" da Escolinha do Professor Raimundo - , Bezerra supostamente reaparecia pedindo a "fidelidade" às obras de Allan Kardec.
Sabemos que isso não é mais do que papo furado. A infidelidade a Allan Kardec continua tão forte quanto antes. Chico e Divaldo quiseram apenas agradar lideranças genuinamente espíritas como José Herculano Pires, Jorge Hessen e Deolindo Amorim (pai do jornalista Paulo Henrique Amorim, do portal Conversa Afiada), e tudo ficou como estava.
MUDANÇA DE ATITUDE QUANTO A ROUSTAING
O que mudou foi apenas a postura da Federação "Espírita" Brasileira em relação a Jean-Baptiste Roustaing, antes defendido com entusiasmo, até mesmo no Pacto Áureo de 1949, depois defendido com desespero diante da crise de reputação do autor de Os Quatro Evangelhos, e, de 1975 para cá, descartado e aparentemente desprezado pela linha ideológica atual.
Na aparência, Roustaing virou uma espécie de "palavrão". Palestrantes "espíritas", quando o mencionam, o citam vagamente e de maneira "depreciatória", alegando que o roustanguismo era "uma corrente à parte" no "movimento espírita" e que havia sido expurgada diante de tantos problemas causados.
Isso é aproveitar a memória curta das pessoas. Você vai para o "centro espírita", e o palestrante fala que o roustanguismo era uma vertente "marginal" do Espiritismo, que tantos aborrecimentos causaram, e que foram feitas para desestabilizar a doutrina de Allan Kardec, sendo a "doutrina de Roustaing" um mal há muito superado.
Só que, se você, leitor, pesquisar o passado mais remoto do "movimento espírita", verá que a FEB sempre preferiu Roustaing a Kardec, e relatos de nomes como Herculano Pires explicam essa fase sombria que os "espíritas" são orientados a esconder.
Mesmo o médico Adolfo Bezerra de Menezes, ex-presidente da FEB e erroneamente conhecido como o "Kardec brasileiro" (o "mais próximo de Kardec" que o dr. Bezerra fez foi somente um livro abolicionista escrito numa abordagem simplesmente laica), passou a vida defendendo Roustaing em vez de Kardec, que ele achava "complicado" e "ultrapassado".
Daí o "arrependido dr. Bezerra", nas supostas mensagens espirituais forjadas pela pena de Chico Xavier e pelas cordas vocais de Divaldo Franco, criando um suposto equilíbrio "espírita" para os padrões de 1975, que não impediu que exageros fossem feitos nos últimos anos, a provocarem a atual crise que atinge o "movimento espírita" no Brasil.
FARRA SENSACIONALISTA
Atualmente, o "espiritismo" brasileiro viveu o deslumbramento da Internet e de correntes sensacionalistas, ligadas a abordagens que criassem uma imagem "fantástica" do movimento religioso, como forma de fazê-lo crescer acima de seus limites doutrinários e conquistar outros segmentos da sociedade, atraindo para si laicos, agnósticos e ateus.
Além de um descontrole editorial nos últimos anos em que havia supostas psicografias narrando "vidas espirituais" de Raul Seixas, Cazuza e até Getúlio Vargas, além de supostas (e risíveis) mensagens atribuídas a Renato Russo, vieram livros e abordagens que bagunçaram com o "movimento espírita", tendo sido o "Roustaing da vez". Até composição musical atribuída ao espírito de Ayrton Senna (?!) foi divulgada.
Uma enxurrada de romances ruins e supostamente psicográficos - houve até um que transformava um feminicida num "agente de resgates espirituais" que se torna "bonzinho" no decorrer do livro - , toscos dramalhões que mais parecem romances de ficção rejeitados pela quase totalidade das editoras existentes no mercado laico, passou a contaminar as livrarias "espíritas" e as estantes específicas nas livrarias laicas.
Vieram abordagens fantásticas que iam desde a risível atribuição de "pioneirismo científico" ao fictício espírito de André Luiz até a promoção de Chico Xavier a "estrategista político" devido à sua suposta "profecia" do sonho de 1969, eram feitas, assim como "façanhas" antigas como os espetáculos de suposta materialização, pivôs de antigas crises, eram divulgadas na Internet.
A farra sensacionalista estimulou toda uma sorte de questionamentos diante desses abusos cometidos pelo "espiritismo" brasileiro, criando a mais aguda crise que o "movimento" sofreu em sua história, depois dos casos Humberto de Campos, Amauri Pena, Otília Diogo e até a intenção de uma tradução fraudulenta das obras de Allan Kardec, que alteraria seu pensamento original.
Com isso, emerge uma nova tendência dos "espíritas" pedindo "moderação" como forma de dar sobrevida à combalida doutrina, tida como a "terceira força religiosa" do Brasil, desde que a FEB foi declarada oficialmente em 1960 por Juscelino Kubitschek como "instituição de utilidade pública", uma generosidade que deu um grande azar ao eminente político mineiro.
EQUILÍBRIO DE PROCEDIMENTO, NÃO DE DOUTRINA
Agora, através de lideranças como Orson Peter Carrara, o "espiritismo" brasileiro tenta voltar às "bases" de 1975, naquilo que seus membros entendem como "meio-termo" e "equilíbrio de conduta", sob o pretexto de recuperar na doutrina qualidades como coerência, simplicidade, rigor e precisão.
Evidentemente é um equilíbrio de procedimento, não de doutrina. O distanciamento do "espiritismo" brasileiro ao pensamento original de Allan Kardec continua tão intenso quanto nos tempos do mais apaixonado roustanguismo. O que se leva em conta, nessa nova tendência, é evitar os pontos polêmicos, mesmo os que aparentemente exaltam a doutrina e seus totens.
Essa corrente "realista" e "equilibrada" tenta limitar o "espiritismo" brasileiro a um receituário moralista, misturado com um misticismo religioso dosado, com ênfase nas suas ações de aparente filantropia e curandeirismo, abandonando pontos controversos.
Episódios como o sonho "profético" de Chico Xavier, as supostas materializações, o excedente de romances "espíritas" que fogem das "grifes conhecidas" e as aventuras "mediúnicas" que fogem do básico, fora as supostas narrações sobre pretensas vidas espirituais dos famosos, são descartados por essa corrente do "movimento espírita".
Esta limita a ver pessoas como Chico Xavier e Divaldo Franco como pregadores religiosos, vistos como "médiuns" dentro do limite de suas ações mais conhecidas e aparentes. Sem elevá-los a pretensos "cientistas" ou atribui-los qualidades excepcionais, a corrente "realista" do "movimento espírita" os situa dentro do limite do assistencialismo moral e da pregação da fé religiosa.
Dessa forma, o "movimento espírita" tenta apenas "limpar" os pontos mais polêmicos e escandalosos. Seus líderes alegam que isso irá retomar as bases kardecianas. Mas como eles não se identificam com o pensamento científico de Kardec, o que eles fazem apenas é criar um contexto de estabilidade, tornando o desequilíbrio doutrinário "palatável" e menos vulnerável às polêmicas.
terça-feira, 19 de maio de 2015
A risível aventura de norte-americanos no Norte brasileiro
TARZAN E FAMÍLIA PODERIAM VIVER NA FLORESTA AMAZÔNICA?
Segundo garantiu o anti-médium mineiro Francisco Cândido Xavier, sobre a catástrofe que atingiria o Hemisfério Norte e o tornaria "inabitável" - não se sabe como, mas há o caso do lendário continente Atlântida - , os norte-americanos migrariam em massa para ocupar a região Norte do Brasil.
Segundo o famoso sonho de 1969 relatado por Chico Xavier, os canadenses, estadunidenses e mexicanos, depois de verem destruídas suas áreas - não é preciso dizer que até Hollywood desaparecerá do mapa, tragado pelas águas do Pacífico e afundado por terremotos - migrarão para o Norte do país, conhecido por seus rios e florestas, em especial a Amazônica.
Isso vai contra aspectos sociológicos ou até mesmo climáticos. É verdade que os estadunidenses destruíram suas florestas, mas é pouco provável que sua mentalidade eminentemente urbana os faça preferir viver na Amazônia ou em cidades como Manaus, Belém ou a praticamente isolada do mundo, a acreana Rio Branco. Nem Palmas, no Tocantins, seria uma opção provável.
Sociologicamente, pelo que se observa em celebridades, executivos, esportistas e autoridades dos EUA, a tendência de migração de norte-americanos - canadenses e mexicanos iriam "de carona" - se voltaria naturalmente para o Sudeste, a partir das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Galeão e Congonhas seriam os portos naturais de recepção dos imigrantes das áreas destruídas.
O que faria um norte-americano no Norte do Brasil? Nem mesmo os donos de empresas madeireiras sentem interesse em colonizar tais áreas. Suas estadias na região são de caráter meramente econômico e administrativo. Além disso, o grosso do comércio madeireiro na região é feito não por estadunidenses, mas pelos chamados "tigres asiáticos" (como Tailândia e China).
O Norte brasileiro só tem em comum com os EUA - mais precisamente o Sul, sobretudo os Estados da Florida e do Texas - a apreciação da cultura caribenha, sobretudo os ritmos "sensuais" como a salsa, o merengue e outros, que nos EUA são ouvidos pela população de origem hispânica, enquanto no Norte brasileiro ela configura o cardápio da música comercial como lambada e "forró eletrônico".
Mas as semelhanças param por aí. Que interesse tem alguém que sai de Los Angeles ou Nova York e se contentar em viver em Macapá ou Rio Branco? E o Norte, justamente a região mais provinciana do Brasil, que atrativo traz para os norte-americanos?
E por que Chico Xavier fez essa predição, se em 1969 era óbvio que estadunidenses preferissem o Rio de Janeiro como ponto de desembarque para entrarem no Brasil? Já houve um cem-número de celebridades, até aquele ano, que quando visitaram ao Brasil nem de longe pensaram em ir primeiro para Manaus ou Belém, que segundo o anti-médium seriam seus "pontos de chegada".
Seria porque Chico Xavier estava triste com a supremacia estadunidense na política e economia mundiais? Ele sonhava em ver o Brasil como "centro do mundo" e Tio Sam não deixava? Será que ele creditou a migração dos norte-americanos ao Norte do país por pura sacanagem ou por algum outro motivo de possível protesto?
Será que seria para ver os ianques mordidos por cobras ou devorados por jacarés na Amazônia, como castigo por terem impedido o dócil Brasil, país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, se tornar a maior nação do planeta, ideia sonhada pelo caipira de Pedro Leopoldo desde menino?
O que se sabe é que, quando Chico Xavier calculou as possíveis migrações dos povos do Hemisfério Norte após a presumida catástrofe, ele usou critérios cartográficos. Ele pensou num mapa mundi desses em folha de papel posta numa mesa, e teria antes calculado com um lápis levando em conta apenas a simetria de posições dos países.
Ele desconheceu vários aspectos, já que, se ele presumia uma catástrofe de incalculáveis dimensões, ele não poderia considerar o Chile como nação sobrevivente do planeta, porque, com mais de 90 vulcões ativos e uma área predominantemente sísmica, o país seria totalmente destruído se levássemos em conta o nível da catástrofe que Chico Xavier supôs poder haver na Terra.
O Chile desapareceria da mesma forma que a Califórnia, com Hollywood e tudo. Há quem aposte no obituário de 90% das celebridades hoje em evidência, se as catástrofes "previstas" por Chico Xavier realmente ocorrerem depois de 2019. Talvez sobre a turma dos reality shows e as musas do UFC para contar história.
Quanto à migração norte-americana no Norte, seria risível seus povos investirem nessa aventura. Seria inconcebível, tamanha a natureza urbana e moderna de seus indivíduos. Mesmo os ultraconservadores cidadãos do Alabama estariam mais à vontade na cidade de São Paulo ou mesmo no Rio de Janeiro de um preocupante movimento neo-reacionário entre os jovens.
Se uma "profecia" se faz através desses erros grotescos de abordagem, que confiabilidade ela pode garantir, mesmo que seja para ser prevenida? Independente dela poder ou não acontecer, a suposta "profecia" de Chico Xavier é tranquilamente invalidada por conta desses erros, na medida em que eles vão contra a realidade, o que diz muito pela anulação de seu sentido verídico.
Segundo garantiu o anti-médium mineiro Francisco Cândido Xavier, sobre a catástrofe que atingiria o Hemisfério Norte e o tornaria "inabitável" - não se sabe como, mas há o caso do lendário continente Atlântida - , os norte-americanos migrariam em massa para ocupar a região Norte do Brasil.
Segundo o famoso sonho de 1969 relatado por Chico Xavier, os canadenses, estadunidenses e mexicanos, depois de verem destruídas suas áreas - não é preciso dizer que até Hollywood desaparecerá do mapa, tragado pelas águas do Pacífico e afundado por terremotos - migrarão para o Norte do país, conhecido por seus rios e florestas, em especial a Amazônica.
Isso vai contra aspectos sociológicos ou até mesmo climáticos. É verdade que os estadunidenses destruíram suas florestas, mas é pouco provável que sua mentalidade eminentemente urbana os faça preferir viver na Amazônia ou em cidades como Manaus, Belém ou a praticamente isolada do mundo, a acreana Rio Branco. Nem Palmas, no Tocantins, seria uma opção provável.
Sociologicamente, pelo que se observa em celebridades, executivos, esportistas e autoridades dos EUA, a tendência de migração de norte-americanos - canadenses e mexicanos iriam "de carona" - se voltaria naturalmente para o Sudeste, a partir das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Galeão e Congonhas seriam os portos naturais de recepção dos imigrantes das áreas destruídas.
O que faria um norte-americano no Norte do Brasil? Nem mesmo os donos de empresas madeireiras sentem interesse em colonizar tais áreas. Suas estadias na região são de caráter meramente econômico e administrativo. Além disso, o grosso do comércio madeireiro na região é feito não por estadunidenses, mas pelos chamados "tigres asiáticos" (como Tailândia e China).
O Norte brasileiro só tem em comum com os EUA - mais precisamente o Sul, sobretudo os Estados da Florida e do Texas - a apreciação da cultura caribenha, sobretudo os ritmos "sensuais" como a salsa, o merengue e outros, que nos EUA são ouvidos pela população de origem hispânica, enquanto no Norte brasileiro ela configura o cardápio da música comercial como lambada e "forró eletrônico".
Mas as semelhanças param por aí. Que interesse tem alguém que sai de Los Angeles ou Nova York e se contentar em viver em Macapá ou Rio Branco? E o Norte, justamente a região mais provinciana do Brasil, que atrativo traz para os norte-americanos?
E por que Chico Xavier fez essa predição, se em 1969 era óbvio que estadunidenses preferissem o Rio de Janeiro como ponto de desembarque para entrarem no Brasil? Já houve um cem-número de celebridades, até aquele ano, que quando visitaram ao Brasil nem de longe pensaram em ir primeiro para Manaus ou Belém, que segundo o anti-médium seriam seus "pontos de chegada".
Seria porque Chico Xavier estava triste com a supremacia estadunidense na política e economia mundiais? Ele sonhava em ver o Brasil como "centro do mundo" e Tio Sam não deixava? Será que ele creditou a migração dos norte-americanos ao Norte do país por pura sacanagem ou por algum outro motivo de possível protesto?
Será que seria para ver os ianques mordidos por cobras ou devorados por jacarés na Amazônia, como castigo por terem impedido o dócil Brasil, país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, se tornar a maior nação do planeta, ideia sonhada pelo caipira de Pedro Leopoldo desde menino?
O que se sabe é que, quando Chico Xavier calculou as possíveis migrações dos povos do Hemisfério Norte após a presumida catástrofe, ele usou critérios cartográficos. Ele pensou num mapa mundi desses em folha de papel posta numa mesa, e teria antes calculado com um lápis levando em conta apenas a simetria de posições dos países.
Ele desconheceu vários aspectos, já que, se ele presumia uma catástrofe de incalculáveis dimensões, ele não poderia considerar o Chile como nação sobrevivente do planeta, porque, com mais de 90 vulcões ativos e uma área predominantemente sísmica, o país seria totalmente destruído se levássemos em conta o nível da catástrofe que Chico Xavier supôs poder haver na Terra.
O Chile desapareceria da mesma forma que a Califórnia, com Hollywood e tudo. Há quem aposte no obituário de 90% das celebridades hoje em evidência, se as catástrofes "previstas" por Chico Xavier realmente ocorrerem depois de 2019. Talvez sobre a turma dos reality shows e as musas do UFC para contar história.
Quanto à migração norte-americana no Norte, seria risível seus povos investirem nessa aventura. Seria inconcebível, tamanha a natureza urbana e moderna de seus indivíduos. Mesmo os ultraconservadores cidadãos do Alabama estariam mais à vontade na cidade de São Paulo ou mesmo no Rio de Janeiro de um preocupante movimento neo-reacionário entre os jovens.
Se uma "profecia" se faz através desses erros grotescos de abordagem, que confiabilidade ela pode garantir, mesmo que seja para ser prevenida? Independente dela poder ou não acontecer, a suposta "profecia" de Chico Xavier é tranquilamente invalidada por conta desses erros, na medida em que eles vão contra a realidade, o que diz muito pela anulação de seu sentido verídico.